Solistas em campo, Messi e CR7 são maiores que suas seleções nas finanças
Rodrigo Mattos
Do UOL, em Moscou (Rússia)
16/06/2018 21h00
Primeira pergunta da entrevista do técnico Jorge Sampaoli na véspera da estreia da Copa: um repórter de Bangladesh questiona por que Messi não está ali. A cena mostra como, para boa parte do mundo, o astro argentino vale mais do que toda a sua seleção. É ele o único foco de atenção.
Uma realidade parecida ocorre com Cristiano Ronaldo com Portugal. Ambos são praticamente solistas em Argentina e Portugal, times que, atualmente, dependem bastante de suas atuações por terem carências de outros talentos.
E isso se reflete também na conta bancária. Não por acaso os dois astros faturam mais dinheiro do que suas federações nacionais que exploram as marcas das seleções inteiras. É uma característica do futebol atual a supervalorização dos jogadores em detrimento dos times. A imagem individual deles é que conta. Seu poder em negociações, seja de transferências ou de marketing, excede os de clubes e de associações.
Seus contratos, portanto, são mais polpudos do que de suas confederações nacionais. Na lista da Forbes, o argentino Lionel Messi ganhou US$ 111 milhões (R$ 411 milhões). A maior parte é proveniente do seu renovado e turbinado contrato com o Barcelona, e pouco mais de um quinto vem de marketing.
Em comparação, a seleção argentina, que estreia diante da Islândia, gera bem menos dinheiro. A AFA (Associação de Futebol Argentino) fechou seu último balancete de 2016-2017 com um faturamento total de R$ 179 milhões, menos da metade dos ganhos de seu astros. E, nesta receita, incluem-se contrato de televisão da primeira divisão argentina que nada tem a ver com o time nacional.
É certo que a AFA teve uma administração desastrosa durante anos, e começa a se recuperar agora. Há expectativa de um aumento de ganho de R$ 275 milhões no próximo ano. Mas, ainda assim, ficará abaixo do seu astro. Lembre-se que a Adidas é patrocinadora tanto da seleção argentina do que do seu astro.
Em Portugal, a realidade não é tão diferente ainda que a seleção possa explorar um mercado europeu onde euros têm bem mais valor do que os pesos argentinos. A receita total da Federação Portuguesa de Futebol no último ano foi de 66 milhões de euros (R$ 284 milhões).
Um valor menor do que os estimados US$ 108 milhões (R$ 400 milhões) obtidos por Cristiano Ronaldo, segundo a lista da Forbes. É o jogador com os maiores ganhos de marketing no mundo. Agora, quer renovar seu contrato com o Real Madrid com um aumento ou se transferir para obter incrementos. De uma forma ou de outra, deve aumentar a vantagem financeira para sua seleção.
No caso argentino e portugueses, a concentração financeira também se reflete nas prioridades dos dois técnicos Fernando Santos e Jorge Sampaoli. Ambos deixam seus astros livres para criar, com praticamente nenhuma obrigação defensiva. Ficam tão em destaque individual quanto nos outdoors de empresas em Moscou para promoção da Copa.