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Atlético-PR visita Venezuela em meio ao caos político e à esperança do povo

Estádio Universitário de Caracas, palco do jogo do Atlético nesta quarta Imagem: Site oficial Caracas FC

Napoleão de Almeida

Colaboração para o UOL

19/09/2018 04h00

“Defendamos Caracas!” Assim o Twitter oficial do Caracas FC convoca os venezuelanos para o duelo desta quarta-feira (19), às 19h15 (de Brasília) no Estádio Universitário contra o Atlético-PR. O clube brasileiro é o primeiro do País a voltar na capital venezuelana desde a derrota do Grêmio para o mesmo Caracas em 2013. É a primeira partida do Furacão em solo venezuelano em toda história.

O cenário caótico na Venezuela que é imaginado no Brasil fica próximo ao que é descrito por quem está por lá. Caso do advogado Gilberto Andreassa, torcedor atleticano que resolveu acompanhar ao jogo das oitavas de final da Copa Sul-Americana. Há segurança, mas tudo é muito controlado – para não dizer escasso.

“A cidade tem uma movimentação que parece metade do que seria normalmente. A economia é zero. Tem loja que coloca o produto por centavos, numa zona nobre, por que não tem o que colocar. Os bancos têm filas quilométricas. É o que tivemos no Brasil nos anos atrás”, disse, relembrando a transição para a Nova República nos anos 80, "Estamos com dólares sem poder trocar. Não tem moeda corrente pra trocar. Eles não recebem o dólar. Temos que usar cartão". Medo? "Tem segurança total, um povo muito cordial, não tivemos problemas".

"Não quis ser dramático, mas a realidade aqui é de que não temos dinheiro em espécie. Os bancos tem muito pouco dinheiro em moeda, nessa semana ainda cortaram cinco zeros da nossa moeda, Bolívares Soberanos", contou Oscar Zambrano, comentarista de rádio que acompanhará o jogo entre o Furacão e Los Rojos, "Para nós não tem sido fácil. Muitos colegas narradores, jornalistas e comentaristas que saíram do País. Nós seguimos lutando. Temos um programa de uma hora e meia, Deporte Total, falamos muito de futebol".

Loja no centro de Caracas: lembranças do Brasil há 40 anos Imagem: Gilberto Andreassa

Pai de três filhos, Zambrano permaneceu em Caracas a despeito da crise. "A publicidade aqui se complicou muito. Com muito esforço todos nós nos mantemos no país, com esperança de que isso vai mudar. Já tem quase um mês que não se encontra carne ou frango. Você não consegue comprar farinha para fazer Arepa (um prato com farinha de milho). Tem que fazer fila para comprar macarrão ou arroz. É difícil até de conseguir remédios para uma simples dor de cabeça. Mas aqui estamos. E estaremos no Brasil falando de esportes na Copa América. Amo muito o meu país e seguiremos lutando. É um país rico, mas que anda empobrecido.”

A chegada do Atlético envolveu uma grande mobilização por segurança para a delegação e os torcedores, desde o pouso no Aeroporto até a chegada ao hotel em que o clube está. “Não deveria ser assim, mas reflete o que é o quadro. E não só com os estrangeiros: as equipes daqui também pegam seguranças. O Deportivo Táchira, quando vem à Caracas, traz sua própria segurança”, contou Zambrano, “É natural que as delegações, não só as brasileiras, mas também colombianas, argentinas, tenham precaução. O Atlético pediu, não só para a delegação, mas para seus aficionados, um aparato de segurança. Eram uns 20 da polícia nacional, três caminhonetes blindadas. Os torcedores vieram com uns 10 a 20 funcionários (seguranças) também".

Regra exige presença de jovens no time; Dudamel reinventa a Vinotinto

Dudamel, técnico da seleção da Venezuela Imagem: Fernando Llano/AP Photo

O goleiro Rafael Dudamel era presença constante na seleção da Venezuela entre os anos 90 e 2000. Hoje é o técnico do time Vinotinto que comanda não só os profissionais, mas também as categorias menores da equipe nacional. "Tem que se reconhecer o crescimento da Vinotinto em categorias menores. Na Sub-15, 17, Sub-20... no ano passado a Venezuela chegou na final do Mundial Sub-20 contra a Inglaterra. Não ganhou, mas foi fruto do que vem sendo feito em outras categorias", relembrou Zambrano.

Uma política nacional que exige dos clubes uma cota mínima de jovens nas equipes é um dos motivos elencados pelo comentarista para o fomento de novos talentos no futebol. “Há uma regra aqui na Venezuela que pelo menos um jovem de 16 a 18 anos tem que estar no campo no campeonato. Na Copa e na segunda divisão, são dois que precisam jogar, por time. E isso foi fomentando evolução nas categorias maiores. Tem muitas academias de futebol. Temos que dizer que parte da inspiração do futebol na Venezuela veio por que os meios falaram bastante do esporte", disse, referindo-se ao fenômeno mundial de exibição de grandes jogos, como Real Madrid x Barcelona. "Talvez para o Brasil não seja um número significante, mas para a Venezuela sim. Já são mais de 200 jogadores atuando no estrangeiro, seja na Europa, Ásia ou mesmo nos EUA".

No provável Caracas que encara o Atlético, a cota é preenchida pelo lateral-direito Eduardo Fereira, de 17 anos, titular da equipe e da seleção Sub-20.

Partida marca volta pra casa para o Caracas

Propaganda de ingressos para o jogo: 9 reais o mais caro, no câmbio de 18 de setembro Imagem: Site oficial Caracas FC

O jogo marca o retorno do time da casa para o Estádio Universitário, que esteve em obras nos últimos seis meses. É uma chance de medir forças contra um time brasileiro e celebrar o retorno para seu estádio. “O Caracas é um dos times que tem melhor organização aqui na Venezuela, com o Mineros de Guayana e o Deportivo Tachira. Eu não sou muito otimista, independentemente da posição que o Atlético Paranaense tenha no Brasileiro. O Caracas é o quarto no torneio venezuelano, ganhou sábado da Portuguesa, mas nesse nível, considerando que todos os times brasileiros que vêm à Venezuela sempre vencem, não seria diferente com o Atlético. Mas o Caracas vai desfrutar a participação, que marca também a volta do clube ao Estádio Universitário depois de seis meses.”

Com ingressos variando entre 30 e 150 Bolívares Soberanos – algo entre R$ 0,50 e R$ 9 enquanto essa reportagem era redigida – a expectativa de público é boa, com 10 mil entradas vendidas antecipadamente. Apesar disso, a paixão esportiva do venezuelano é outra: “O baseball é uma paixão na Venezuela. Mas a temporada é de quatro meses, de outubro e janeiro. Os jogadores estão nas grandes ligas dos EUA. Mas acho que o futebol está bem posicionado na Venezuela, atrás do baseball e do basquete na preferência do torcedor”, comentou Zambrano.

CARACAS X ATLÉTICO-PR

Data e hora: quarta-feira,19 de setembro, às 19h30 (Brasília)
Local: Estádio Universitário, em Caracas (VEN)
Motivo: Oitavas de final da Copa Sul-Americana (ida)
Árbitro: Andres Rojas (COL)
Auxiliares: Eduardo Diaz (COL) e Humbro Clavijo (COL)

CARACAS
Eduardo Herrera; Fereira, Moreira, Quijada e Bernardo Añor; Martins, Garcés, Canelón, Diomar Díaz e Robert Hernández; Arrieta.
Técnico: Noel Sanvicente.

ATLÉTICO-PR
Santos; Jonathan, Paulo André, Léo Pereira (Thiago Heleno), Renan Lodi; Wellington, Lucho, Guilherme (Raphael Veiga); Marcinho, Nikão e Pablo.
Técnico: Tiago Nunes.

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