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Herói do Fla no clássico, Paulinho começou no futebol no Vasco de SP

Bruno Doro e Pedro Ivo Almeida

Do UOL, em São Paulo e no Rio de Janeiro

17/07/2013 11h00

Classificação e Jogos

Em uma semana, o meia-atacante Paulinho passou de um desconhecido do elenco do Flamengo a herói da maior torcida do país. Para isso, precisou de um só gol. Mas esse gol foi em um clássico, valeu a vitória e, ainda por cima, aconteceu contra o Vasco. Porque o rival é importante? Dificilmente você vai encontrar um jogador com a história tão ligada ao clássico carioca quanto ele – mesmo tendo chegado ao Rio de Janeiro apenas em 2013.

Paulinho deu seus primeiros chutes no Vasco. Mas não o de São Januário. O cruz-maltino em questão é da Vila Galvão, de Guarulhos, na grande São Paulo – é um dos times mais fortes do futebol de várzea da capital paulista. E foi graças ao que fez no Vasco paulista que ele se profissionalizou no Flamengo. Mas, novamente, não o da Gávea. O de Guarulhos.

"O Vasco (da Vila Galvão) é um time que sempre vai estar no meu coração. Quando estou em São Paulo, visito amigos, assisto aos jogos e até bato uma bola. Lá em São Paulo, todo mundo torce para um time de várzea, o time do bairro", conta o jogador. “Mas, agora, a história é outra. Sou Vasco lá e Flamengo aqui. Quero fazer história no Rio. Vou trabalhar para marcar ainda mais gols, conseguir um contrato melhor, me firmar e sempre poder ajudar", completa.

O início de carreira

Paulinho não chegou ao Vasco da várzea por acaso. Seu pai, Aílton, já defendia a equipe aos fins de semana. Aos oito anos, o futuro flamenguista entrou no dente de leite. Ao mesmo tempo, era gandula do time adulto, que disputava torneios importantes na várzea paulista. “Ele nasceu em frente ao campo. Sempre ia com o pai ao campo, acompanhava. E quando começou a jogar no dente leite, a gente já percebia que ele tinha algo a mais. Habilidoso, rápido. Todos que o viam em campo sabiam que ele seria jogador de futebol”, conta Genival Elias de Araújo, o Val, vice-presidente e técnico do Vasco da Vila Galvão.

"Meu pai jogava no Vasco e eu sempre estava presente em jogos, treinos e confraternizações. Criei um carinho muito grande por todos. Não tinha como ser diferente. Era perto de casa, era o time do bairro e eu sempre estava por lá", lembra o jogador. "Pequeno, comecei a bater uma bola. Com 12 anos, já ficava no banco do time adulto. Uma vez, acabei entrando no final, só para completar, e consegui marcar um gol. Foi aquela festa. Desde pequeno, fiz gol em horas importantes (risos)".

Foi jogando pelo Vasco em um torneio de várzea, em 2006, que começou a aventura de Paulinho no futebol profissional. O time da Vila Galvão estava na semifinal do Campeonato Amador de Guarulhos. Venceu, mas acabou eliminado pela escalação de um jogador profissional. Mas naquela semifinal, um olheiro do Flamenguinho resolveu apostar no jovem atacante. “Como não tínhamos mais jogos marcados, o Paulinho acabou no Flamengo e entrou no elenco da Copa São Paulo. Foi bem e chegaram várias propostas”, fala Val.

"Eu estava jogando bem e descobri que tinha alguns observadores do Flamengo (Guarulhos) estavam na arquibancada. Isso foi em um domingo. Na segunda, eu já fui fazer um teste no clube e fiquei. Joguei juniores, Copa São Paulo, terceira divisão do Paulista... fiz até oito gols e fui artilheiro no Paulista da Série A-2, quando subimos", diz Paulinho.

Flamengo quase perdeu seu herói em 2008

Foi nesse período que o aspirante a craque viveu a fase mais obscura da carreira. Enquanto defendeu o Flamenguinho, recebeu uma proposta do São Paulo. Os responsáveis pela carreira do jogador consideraram o valor baixo e o negócio não saiu. Paulinho se viu preso ao time de Guarulhos, sem a sonhada transferência para um time grande, com salário baixo e, o pior, atrasado.

"Era a minha grande chance. Mas o empresário falou para não ir. Em seguida, tudo ficou ruim. Salário atrasava, não tínhamos condições... Eu fiquei muito mal mesmo. Achei que tinha perdido a única chance da minha vida", relembra, emocionado.

Em 2008, a situação era tão ruim que Paulinho resolveu desistir do futebol. Foi a um jogo do Vasco contra o Apache, da Vila Maria. E procurou Val, que ele mesmo considera um paizão. “Virei para ele e falei que queria largar tudo. Não dava mais. E eu tinha contas para pagar. Era melhor ter um emprego do que pagar para jogar futebol. Não queria mais", desabafa o meia.

“Ele falou isso do alambrado. Me pediu para que eu conseguisse um emprego. Eu falei que não iria arrumar emprego nenhum. Que ele seria jogador de futebol. Eu não deixaria que ele desperdiçasse esse talento”, fala Val. Foi nesse momento que a amizade dos dois chegou a um nível muito mais pessoal. O técnico do Vasco da várzea passou a ajudar, financeiramente, o pupilo, para que ele não deixasse o futebol.


Em 2010, ele foi contratado pelo XV de Piracicaba, após ajudar em dois acessos do Flamenguinho. A primeira reação dos torcedores piracicabanos não foi boa, mas o bom futebol de Paulinho acabou com a desconfiança. “Viajei muito para acompanhar as partidas no interior. O orgulho que sinto dele é enorme”, admite Val. Em três anos, o meia se tornou ídolo no interior. E chegou ao Flamengo, em sua grande oportunidade. Sem esquecer do time de várzea onde começou.

"O Val ajudou em tudo. Desde pequeno, me orientava, me ajudava, me treinava... e não me deixou desistir. Graças a ele que estou aqui. É um paizão. E eu sempre falava para ele que quando estivesse em um time grande, com um contrato melhor, iria dar um carro. Ele tinha um 'Cliozinho' (o carro popular da Renault) velhinho... Hoje, com as coisas se acertando, vou cumprir minha promessa. Tenho que dar essa forra. Ele fez tudo por mim. E sempre vou ajudar", fala.

O carinho por Val vai muito além do presente. Tanto que Paulinho convidou o antigo técnico para ser o padrinho de sua filha. E o oposto também é verdadeiro. Tanto que Val só aceitou falar da ligação de Paulinho com o Vasco após saber que o próprio jogador tinha aceitado comentar o fato. “Não quero prejudicar. Essa rivalidade é grande”.

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