Brasileiro volta a ter muitas trocas e vê fim de lua de mel entre clubes e técnicos
José Ricardo Leite
Do UOL, em São Paulo
10/07/2013 06h00
Os casamentos entre direção e comandantes de elenco parecem estar abalados nos times brasileiros este ano, depois de um 2012 marcado por relações estáveis e de confiança ao longo da disputa da Série A. Agora, tudo mudou. Ou, melhor dizendo, voltou ao normal.
A saída de Paulo Autuori do Vasco foi a oitava troca de comando no Campeonato Brasileiro em apenas seis rodadas, média de mais de um técnico por jornada sendo degolado ou pedindo o boné.
Antes dele, Ney Franco (São Paulo), Muricy Ramalho (Santos), Guto Ferreira (Ponte Preta), Vanderlei Luxemburgo (Grêmio), Silas (Náutico), Ricardo Drubscky (Atlético-PR) e Jorginho (Flamengo) haviam deixado suas equipes.
TROCAS DE TÉCNICOS NOS PONTOS CORRIDOS
Ano | Trocas até a 6ª rodada | Total de trocas |
2003 | 2 | 36 |
2004 | 6 | 40 |
2005 | 4 | 36 |
2006 | 7 | 28 |
2007 | 4 | 24 |
2008 | 9 | 27 |
2009 | 5 | 25 |
2010 | 5 | 33 |
2011 | 4 | 24 |
2012 | 2 | 18 |
2013 | 8 | ? |
- *Números do Datafolha
O número de oito trocas de comando é o segundo maior em seis rodadas do Nacional, segundo números do Datafolha. Só perde para o ano de 2008, quando nova trocas foram realizadas.
A média atual de 1,33 saída de treinador por rodada é bem superior à maior da história no torneio considerando sua disputa integral. No ano de 2004, foram 40 trocas, um total de 0,87 por rodada. O número é o maior da história nas dez edições disputadas nos pontos corridos.
Curiosamente, a baixa estabilidade em 2013 vem seguida justamente depois de uma temporada em que a relação entre os técnicos e os gestores dos clubes parecia estar em completa lua de mel.
O ano de 2012 foi o melhor em termos de manutenção de comando. Foram apenas 18 trocas em 38 rodadas, média de 0,47 saída por jornada. Oito dos 20 clubes permaneceram com o mesmo treinador desde o início do campeonato.
No mesmo momento de agora, a sexta rodada, apenas duas trocas haviam sido feitas pelos clubes da Série A em 2012.
Fluminense, Atlético-MG, Botafogo, Corinthians, Grêmio, Santos, Cruzeiro, Náutico e Portuguesa não mexeram no comando técnico durante todo o Brasileiro de 2012. Destes, somente os quatro primeiros tem até agora os mesmos técnicos desde a edição passada.
Mais recente desempregado, Autuori parece ter como destino o São Paulo, clube pelo qual conquistou os títulos da Taça Libertadores da América e do Mundial de Clubes da Fifa de 2005.
Mas vai encontrar um momento de instabilidade, vide que desde sua saída, em 2006, o time do Morumbi teve sete técnicos, sendo que seis foram de 2009 até agora. A diretoria explica a dificuldade em se manter treinadores pela falta de resultados.
“No futebol as vitórias e derrotas são o que norteiam. A avaliação do trabalho infelizmente é feita em cima de resultados”, falou o diretor de futebol, Adalberto Batista.
Por outro lado, a Portuguesa passou o Brasileiro de 2012 todo com Geninho no comando, mesmo com o time flertando muitas vezes com a zona de rebaixamento. Este ano, vem repetindo a dose de manutenção e tem Edson Pimenta no cargo, sem trocas.
Um dos motivos da postura de proteção aos treinadores pode ser o fato de o homem forte do futebol do clube ser um ex-treinador e que já passou por isso: Candinho.
“Isso (troca de técnicos) não leva nada, é bem claro. Isso é pra proteger os dirigentes da reta. Os treinadores de renome que são trocados, como Muricy, Luxemburgo, são campeões e ganharam títulos. De uma hora pra outra não servem mais? No momento que grandes treinadores são demitidos muitas vezes a culpa não é deles, mas infelizmente aqui no Brasil isso acontece toda hora”, falou ao UOL Esporte.
“Procuramos manter técnicos e no ano passado mantivemos até o final, a não ser que o treinador sinta que não queira mais ficar. Ano passado ficamos sete jogos empatando e perdendo e não deixamos o Geninho sair. Tem momentos que o time não atravessa uma fase boa, que os jogadores não estão em bom momento e machucados. Isso tudo tem que ser levado em conta”, falou.