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Este conteúdo é uma produção do UOL Content_Lab para adidas e não faz parte do conteúdo jornalístico do UOL. Publicado em Novembro 2021

Possibilidades de ir além

O nadador Daniel Dias conta como viver essa certeza o levou a ser o maior medalhista paralímpico brasileiro

oferecido por Selo Publieditorial

7 de setembro de 2008, Pequim, China. Daniel Farias Dias, 20 anos, escancara o sorriso ao ouvir o Hino Nacional Brasileiro. De olhos grudados na bandeira verde e amarela, vive um Dia da Independência histórico. Reluz, em seu peito, o ouro da sua primeira medalha em Jogos Paralímpicos. No lugar mais alto do pódio da prova de 100 metros nado livre, ele relembra que, três anos e meio antes, sequer sabia nadar. "Aí, naquele momento, eu pensei: Ah, se cheguei aqui... num quero sair mais, não", confessa. E assim foi.

Daniel tinha 16 anos quando viu uma piscina de 50 metros pela primeira vez. Foi na Associação Desportiva para Deficientes (ADD), em Bragança Paulista (SP). Ele e o pai, o engenheiro Paulo Dias, estavam em busca de um espaço que possibilitasse a prática de algum desporto paralímpico.

O garoto explicou que queria jogar futebol ou basquete. Soube, então, que o primeiro era para deficientes visuais ou portadores de paralisia cerebral; o segundo, para cadeirantes. Nascido com má formação congênita dos membros superiores e da perna direita, Dani não atendia aos quesitos das modalidades que desejava. "Você tem perfil é de nadador", reparou a visionária atendente.

As dimensões da piscina preocuparam o adolescente, cuja habilidade aquática resumia-se a não se afogar - e olhe lá! Espantou-se na primeira aula: "Vou ter que atravessar tudo isso?!". Teve. E oito aulas depois, lá estava ele, dominando os quatro estilos em travessias sem fim.

Superação não é um dom ou uma sina. É uma escolha sobre como lidar e se sentir em relação a algo. Então, faça escolhas desafiadoras. Isso exigirá tomadas de decisões que nunca são fáceis. Normal sentir medo... Mas não deixe que ele te paralise. Porque movimento é vida

Daniel Dias

Os treinos aconteciam uma vez por semana. Todo sábado, ele e o pai percorriam os 55 km que separam Camanducaia (MG), onde crescera e morava, de Bragança Paulista. "Eu demorava mais tempo na estrada do que na piscina", ri. No caminho, muita conversa regada pela cumplicidade que sempre ligou Daniel ao pai e à mãe, a pedagoga Rosana.

"Eles foram decisivos nas minhas conquistas, porque tiveram a sabedoria de nunca me colocar limites de capacitação e realização", relembra o nadador. Impressionante, pois motivos para superproteção não faltavam: filho único, Daniel nasceu prematuro de 7 para 8 meses. Muito cedo, a má formação o expôs ao preconceito. Várias vezes os apelidos cruéis por parte dos colegas da escolinha o fizeram chorar. Porém, o apoio recebido em casa - "você pode tudo!" - o incitava a seguir adiante

Como quando do concurso de pintura do colégio, por exemplo. A princípio hesitante, Daniel confiou no incentivo familiar e se inscreveu. Tirou o primeiro lugar.

"Ali começou a construção de quem eu sou hoje, do que eu vivo agora. Porque uma boa autoestima não se estabelece do dia para a noite. Ela é trabalhada com o tempo, demanda vitórias e derrotas", diz.

Um episódio marcante a ponto de o atleta citar a medalha recebida pela "obra de arte" como das mais importantes da sua trajetória. Pois a alegria que trouxe o fez se sentir tão bem que ele escolheu sempre sorrir, por maior que fossem as adversidades.

Muito cedo eu entendi que o preconceito não podia existir dentro de mim. Eu (e você e todo mundo) não podemos nos achar incapazes ou inferiores. O que nos habita é muito maior... E nos capacita a adaptar algum jeito de realizarmos aquilo que decidirmos fazer

Daniel Dias

Com os pais, Daniel também aprendeu, na adolescência, que o impossível é adaptável - a tal ponto de se tornar possível.

"Eu cismei que queria tocar teclado. Em vez de dizer que não era viável, minha mãe me deu o instrumento. Tentei de tudo quanto é jeito, até ver por mim mesmo que não ia rolar", lembra.

Então, ela sugeriu uma bateria, adaptou munhequeiras e, durante bom tempo, o filho tocou na igreja evangélica que a família frequenta.

Em junho de 2005, seis meses após começar a treinar, Daniel conquistou ouro em sua primeira competição oficial, em Belo Horizonte (MG). A ascensão foi meteórica. Um ano depois ele já trazia 5 medalhas (3 de ouro, 2 de prata) do Campeonato Mundial de Natação Paralímpica de Durban, na África do Sul e não parou mais.

A rotina de treinos, claro, acompanhou o ritmo das premiações. O nadador passou a praticar 6 dias por semana, 5 horas por dia. Para tanto, a família foi viver em Bragança Paulista.

Entre tantas vitórias, uma marca especialmente: a prova dos 200m medley, nos Jogos Paralímpicos de Pequim, na China. O chinês Junquan He era favorito. Havia feito um segundo abaixo do tempo de Daniel nas classificatórias.

"Eu já dava a prova como perdida, quando o meu técnico falou: 'Você vai ganhar, porque tem o dedo e ele, não; isso fará a diferença na batida final'. E num é que foi assim mesmo?", conta.

Também contribuiu para a derrota de Junquan um vacilo nos últimos três metros. No vídeo, vê-se ele perder uma fração de segundo ao desacelerar para olhar a raia de Daniel. "É crucial não perder o foco", comenta o nadador brasileiro.

Todas as vezes que perdi, eu perdi para mim mesmo, no sentido de não ter feito o meu melhor, por não achar que era capaz. Por isso, nas 'piscinas' que enfrentar, seja intenso até os 51 metros. Se for preciso, nade para além da borda, mas nunca pare no 47 metros. Porque você pode estar prestes a alcançar seu objetivo e, por um vacilo bobo, talvez perca a grande chance da sua vida.

Daniel Dias

Desde que voltou dos Jogos Paralímpicos de Tóquio, Daniel trocou a piscina pela academia e pela corrida - praticada em perseguições aos filhos Asaph (7 anos), Daniel (5 anos) e Hadassa (2 anos), frutos do casamento de quase 10 anos com Raquel Andrade. "Pela primeira vez em 18 anos, curti um feriado emendado, no 15 de outubro. Gente, é bom demais!", ri.

O descanso, porém, deve durar pouco. Vivendo em Atibaia (SP), o maior medalhista paralímpico de todos os tempos tem novo desafio pela frente: o Instituto Daniel Dias (fora do ar para reformulações), voltado a oferecer oportunidade de desenvolvimento para quem tem deficiência. "A ideia é, a partir de janeiro, passarmos de 30 para 80 atletas, beneficiados em diversas modalidades", revela.

O diferencial do projeto será colocar pessoas com e sem deficiência para treinar juntas.

Elas vão, por exemplo, nadar e as duas entenderão que conseguiram atravessar a piscina. Usando o esporte como ferramenta, mostraremos que todos somos capazes, que é a verdadeira inclusão"

vibra Daniel Dias

Além do Instituto, Daniel faz parte do Conselho Nacional de Atletas (CNA) e também foi eleito membro do Conselho dos Atletas do Comitê Paralímpico Internacional (IPC), representando os paratletas até a próxima edição dos Jogos Paralímpicos, em Paris (2024).

"Pretendo dar voz aos paratletas, ajudando a apontar e solucionar o que não funciona bem nos bastidores do desporto paralímpico", explica.

Alguém duvida que ele vá conseguir?

Nem todo mundo está destinado a grandes conquistas públicas, mas todos estamos aptos a grandes conquistas pessoais. Na hora da dúvida, traga à memória o que lhe dá esperança. E valorize as pequenas conquistas cotidianas, pois elas fazem grande diferença

Daniel Dias

Até os 12 anos, Daniel não sabia que existia desportos paralímpicos. Ele só descobriu em 2004, ao ver o potiguar Clodoaldo Silva conquistar o ouro nos 150m medley nos Jogos Paralímpicos de Atenas.

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