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Don King vive crise aos 82 anos, mas tenta ter seu 1º brasileiro campeão

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

21/02/2014 06h00

Os 82 anos, a morte de sua mulher e a crise de sua promotora poderiam ter feito Don King pendurar suas bandeirinhas dos Estados Unidos e se retirar da cena do boxe profissional. Mas o mais caricato dos empresários do pugilismo resiste às intempéries. Sem confiar em ninguém para levar adiante seu legado – e sua empresa – , ele ainda bate ponto no escritório. Entre as carreiras que ainda promove está a de um brasileiro, Marcus de Oliveira, o Ratinho. E, segundo o meio-pesado, um sonho verde-amarelo é uma das metas que move o norte-americano.

“Tive campeões de tudo quanto é país no mundo, mas ainda não dei um cinturão a um brasileiro”, disse Don King a Ratinho, que nesta sexta-feira volta a lutar depois de um período de dois anos. O paulistano de 28 anos tem um cartel 23 vitórias (com impressionantes 21 nocautes, um empate e uma derrota) e ficou afastado por conta de uma cirurgia corretiva nos olhos. Agora, encara Andres Taylor, que tem 21 vitórias em 29 lutas.

Ratinho é o único brasileiro contratado pela Don King Promotions e defende ferozmente o “patrão”, que durante sua carreira foi acusado por diversos ex-clientes por conta de supostos calotes. O norte-americano do cabelo espetado teve em suas mãos os principais nomes dos quadriláteros: de Muhammad Ali a Mike Tyson, de George Foreman a Julio César Chávez.

Hoje, ainda tenta voltar a ter um campeão em um cenário do boxe dominado pela Top Rank (de Bob Arum e que conta com Manny Pacquiao) e a Golden Boy (de Oscar de la Hoya). 

“O Don King é bem diferente do que as pessoas esperam. Ele é um cara agradável, engraçado. Brinca, depois fala sério, depois aparece com as bandeirinhas...”, conta Ratinho, que mora em Fort Lauderdale, na Flórida. “Quando a mulher dele teve problemas de saúde e faleceu, ele largou a empresa na mão de outras pessoas, e ela caiu. Então, ainda está tentando reerguer tudo. Por isso que ele está ativo, no escritório. Ele marca reuniões, conversa... É muito ativo para um senhor de 82 anos.”

O empresário, com a fama que tem, poderia relegar o trato com lutadores – ainda mais os que ainda estão no começo da trilha para um cinturão – para outros funcionários. Mas marca presença na sede da empresa e trata ele próprio de clientes como Ratinho.

O paulistano conta cerca de dez encontros que já teve com Don King, desde 2011. Alguns deles no suntuoso escritório que tem diversos retratos na parede: estão lá diversas imagens de King com presidentes dos Estados Unidos, com Nelson Mandela, Julio César Chávez, Félix Trindade e até Michael Jackson – ele promoveu uma turnê na época do The Jacksons. A ausência são as fotos de Tyson, que chegou a processá-lo no valor de US$ 100 milhões.

Ratinho rebate as críticas a ele: “Olha, eu tive de fazer a correção na vista, fiquei dois anos parado e ele continuou pagando direitinho meu aluguel, meu salário. Agora quero voltar e retribuir com uma vitória, para dar continuidade na busca pelo cinturão.”

A amizade criada entre eles deu liberdade até ao empresário fazer piadas com a mulher de Ratinho, Juliana Casellato. “Ele a abraça e fica falando: ‘eu tenho planos para ele’, ‘quero lutas com este e aquele lutador’”. Isso não impediu King de também já dar uma dura no brasileiro na frente dela.

Certa vez, o lutador resolveu “fugir” do campo de treinamento sem dar satisfação para ninguém. “De louco”, como conta, foi para Miami. Na volta, teve de ficar cara a cara com o chefe. “Ele me falou: ‘você está com algum problema?’. E me deixou falar – até demais. Então, parou e disse: ‘e por que você  não veio falar comigo? Fale o que você precisa, mas venha falar comigo’. Fiquei até sem reação. Foi uma dura, mas com calma. Desde então, nunca mais tivemos problemas”.

Na realidade, Ratinho e King tiveram uma disputa no começo de 2013, em que o brasileiro acusou o empresário por quebra de contato ao não colocá-lo para lugar pelo menos duas vezes ao ano. No entanto, eles se acertaram e mantiveram a parceria, esperando que 2014 ela dê seus primeiros frutos.

Ratinho passou nove meses sem treinar por conta da cirurgia nos olhos, mas na volta perdeu de 10 a 12 kg para voltar à antiga forma de meio-pesado. “Esse tempo não tirou minha vontade de nocautear, só aumentou. Espero voltar bem, fazer uma grande luta, só assim poderei ir para disputar maiores”, concluiu o brasileiro.

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