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Belo e raro: conheça beija-flor que atrai observadores à Chapada Diamantina

Imagem: Cristine Prates

Fernando Barros

Colaboração para Ecoa, em Salvador (BA)

23/11/2023 04h02

Conhecida por suas trilhas que descortinam morros, grutas e cachoeiras, a Chapada Diamantina, na Bahia, vem se tornando destino de observadores de aves nos últimos anos.

Um dos responsáveis por esse movimento é o Augastes lumachella, mais conhecido como beija-flor-de-gravata-vermelha ou gravatinha, como é carinhosamente chamado pelos admiradores.

Esse animal existe somente na porção norte da Serra do Espinhaço, que abrange a Chapada. E, apesar de ser encontrado facilmente por ali, é considerado como quase ameaçado de extinção.

De acordo com a bióloga e guia de turismo de observação de aves Cristine Prates, essa classificação é por causa da sua ocorrência geográfica restrita e pela região pegar fogo com bastante frequência.

Quem é o gravatinha?

A ave é multicolorida, mede de 9 cm a 10 cm e o seu apelido deve-se a um prolongamento de penas em volta do pescoço, formando uma espécie de gravata. Os machos possuem coloração bem viva, brilhante, enquanto as fêmeas são ligeiramente mais pálidas. A espécie se alimenta principalmente do néctar das flores —suas favoritas são as da calliandra.

Além do gravatinha, outras aves como o tapaculo-da-Chapada-Diamantina, o papa-formiga-do-sincorá e o rabo-mole-da-serra também atraem os observadores. Mas é esse belo engravatado a grande estrela do lugar.

Diferentemente de outras espécies que não costumam ter muito contato com as pessoas e voam logo para elas não chegarem perto, o beija-flor-de-gravata-vermelha deixa que se aproximem e tirem fotos. Então, ele faz bastante sucesso.
Cristine Prates, bióloga

Imagem: Cristine Prates

Paixão pelas aves

Natural de Brasília, a bióloga se mudou para a Chapada Diamantina em 2019 e, no ano seguinte, abriu sua própria agência, batizada de Birding, para promover este tipo de turismo.

"Abri o negócio em janeiro de 2020 e, em março, veio a pandemia de covid-19. Inicialmente, foi um banho de água fria, mas à medida que as coisas foram se acalmando, as pessoas começaram a me procurar", lembra.

Única mulher guia de observação de aves na Chapada, a agência ainda não é sua principal fonte de renda. Prates atua também como consultora ambiental, em projetos de conservação de aves ameaçadas e com fotografia de natureza.

Aficionada por pássaros desde a infância, ela teve a oportunidade de aprender mais sobre sua paixão em estágios no Ibama e no ICMBio (Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), enquanto estava na faculdade.

Imagem: Reprodução Instagram

Foi meu avô quem me passou esse interesse por aves. Quando era criança, eu ia para o seu sítio e 'passarinhávamos' quase todos os finais de semana. Além de me mostrar as espécies, ele contava curiosidades sobre o joão-de-barro, a arara-canindé, garças e outros animais que avistávamos por ali.
Cristine Prates, bióloga

Hoje expert em levar outros apaixonados como ela para ver e fotografar diferentes espécies, a bióloga conta que ser guia de observação de aves exige muito tempo e dedicação. É preciso, por exemplo, estudar sobre a vocalização dos pássaros, saber em que locais eles ficam e entender seu comportamento.

Como funciona a observação

Desde que abriu sua agência, em 2020, Cristine já realizou 37 tours de observação de aves, com grupos de até 12 pessoas. Segundo a bióloga, na maioria dos casos, os visitantes são amantes de fotografia, mas o passeio pode atrair também diferentes perfis.

Por isso, ela faz a divulgação das aves para pessoas que nunca praticaram a observação e busca parcerias com agências de turismo de trilhas e cachoeiras para expandir esse tipo de atividade além da bolha dos observadores.

"As trilhas para observação geralmente são curtas, então já guiei desde criança de 7 anos a uma pessoa de 80 anos. É uma atividade para todas as idades", explica.

Os passeios costumam ocorrer na primeira parte da manhã, entre 5h30 e 10h, e final da tarde, por volta das 16h. Cristine diz que mais cedo, até 8h, é o horário de pico por causa do momento de maior atividade das aves.

Imagem: Cristine Prates

Como muitas pessoas que participam são fotógrafos, elas costumam levar seus próprios equipamentos, mas a guia também fornece binóculos e lunetas para avistar os animais.

Uma das técnicas que uso para atrair as aves para a observação é uma caixinha de som com gravações das espécies. Como são bem territorialistas, elas acham que há um outro animal ali e vêm ver. Levo os observadores a poleiros e comedouros com frutas e água que tenho em casa, onde é possível chegar bem perto das aves
Cristine Prates, bióloga

Segundo ela, há cerca de 400 espécies de aves na Chapada Diamantina. "Isso acontece por causa da diversidade de paisagens que temos aqui, como caatinga, cerrado e mata atlântica", explica.

A procura maior pelos tours de observação acontece no final do ano e em feriados, quando a região recebe muitos visitantes. Considerando um grupo de até 3 pessoas, Cristine cobra R$ 500 pelo seu trabalho de guia.

Futuro sustentável

Imagem: Reprodução Instagram

O objetivo da bióloga é atuar cada vez mais com turismo de observação. Ela sonha em, futuramente montar, junto com uma colega que também trabalha como guia, um roteiro por todo o país só com guias mulheres. Elas ainda são minoria nesse universo.

Para Cristine Prates, essa modalidade de turismo pode ajudar a despertar consciência ambiental, ao mesmo tempo em que gera renda para as localidades onde ocorre.

No Brasil, além da Chapada Diamantina, a observação de aves pode ser realizada no Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná, na Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso, e na Serra da Capivara, no Piauí.

"O impacto dessa atividade sobre a natureza é mínimo e as pessoas só preservam aquilo que elas amam. Quando elas praticam a observação de aves e se encantam pelos animais, vem a percepção de que, para eles existirem, o meio ambiente precisa estar de pé", avalia.

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