Retratos do sul do Amazonas

Conheça a história e saiba como ajudar famílias indígenas e ribeirinhas a enfrentar a pandemia

De Ecoa, em São Paulo Andre Dib/WWF Brasil

A solidariedade foi uma das maneiras encontradas para arrefecer a pandemia e o desmatamento no sul do Amazonas. A ajuda nem sempre chega a quem mantém os dedos sujos da terra, vive da colheita do guaraná e do que vem pelos rios e nas salas de aula.

Brasileiros como Moisés, Sônia e Maria estudaram, planejaram e se solidarizaram para ajudar ao próximo nesta região tão disputada do país.

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O sul do Amazonas é um território historicamente disputado por garimpeiros ilegais, desmatadores e com o avanço do trecho urbano. Ir até a cidade, porém, exige horas de barco ou rodovias que derrubaram dezenas de árvores. Lá, Zeneide (foto) resiste

A professora Zeneide de Melo, 43, dá aulas até a 5º série em uma escola inundada pela cheia do rio Aripuanã. Depois, veio a covid-19. A água levou as carteiras, o vírus trouxe a doença e as crianças foram para casa. Mas Zeneide não tinha para onde ir. Ela e o marido moram nos fundos da escola onde leciona há 3 anos.

Com a pandemia, ela foi na casa de cada pai para incentivá-los a manter os estudos dos filhos. Em muitas famílias, as crianças são as únicas que leem. Não à toa, Zeneide estudou pedagogia só para retornar ao sul do Amazonas e ensinar as novas gerações. "Ensinar o que sei às pessoas é a marca que gosto de deixar", diz à repórter Janaína Garcia enviada da WWF-Brasil à região.

As comunidades no sul do Amazonas de Barra de São Manoel, Colares, Santa Rita, o assentamento Juma e Santa Maria, onde vive Zeneide, receberam doações de instituições internacionais devido ao alto índice de desmatamento no local. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a região concentrou 70,3% dos focos de incêndio e 90% do desmatamento do estado em 2020.

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Ao mesmo tempo, veio a covid-19. O vírus castigou o Amazonas e apenas a capital Manaus tem leitos de UTI. Até janeiro, o maior número de casos (57%) foi no interior do estado amazonense, onde mais de 10 mil morreram de covid-19 e quase 270 mil pessoas foram infectadas.

A crise deixou pessoas sem ter o que comer às margens dos rios Tapajós e Aripuanã. O WWF do Brasil e a da Alemanha, o Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha (BMZ) e a Aliança para o Desenvolvimento do Sul do Amazonas enviaram 170 toneladas de alimentos e itens de higiene para os moradores da região desde o fim de 2020. Mais de 7 mil famílias foram ajudadas na ação.

Mesmo distante dos centros urbanos, há mortes e infecções entre indígenas, ribeirinhos e pequenos agricultores. "Com a pandemia, o acesso à cidade ficou ainda mais restrito, e alguns barcos que levavam alimentos deixaram de fazer esse fluxo de viagem", afirma Raylton dos Santos, do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam).

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O plantio de orgânicos estimula a economia e a solidariedade. Além do mais, ajuda a manter em pé a floresta adorada por Moisés (foto)

Moisés Dias (foto), 55, é do Rio de Janeiro, mas mora há 33 anos em um assentamento no município amazonense de Apuí. O agricultor foi com a família em busca de terra e trabalho. Com o tempo, encontrou os dois.

Ali, plantou cacau, banana e mandioca. Parte do que cultiva serve como merenda. O principal produto é o café orgânico.

Com a pandemia, as contas apertaram e o vírus chegou. Familiares sentiram os sintomas da covid-19 e ficou caro enviar o café para o país. O agricultor recebeu uma cesta básica em dezembro da ONG. Mesmo com as dificuldades, não pretende sair dali.

"A floresta é a minha vida. Vim com 22 anos e é como se tivesse nascido neste lugar", diz.

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Glória Munduruku, 53, voltou a estudar. Em 2020, fez um curso oferecido pelo ICMBio para recepcionar turistas e gerar renda para as famílias da comunidade Barra de São Manoel, às margens do Tapajós. Claro, quando a pandemia acabar.

Até lá, ela vive com cerca de R$ 250 de Bolsa Família. Glória está entre os milhões de brasileiros infectados pelo novo coronavírus. "Passei três noites com muita dor no corpo, sem dormir deitada, só sentada na rede", diz.

Além do curso do governo federal, ela já passou por treinamentos sobre turismo comunitário e exploração sustentável da castanha-do-Brasil. As duas atividades foram afetadas pela pandemia, mas aumentaram a renda do povoado nos últimos anos.

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Dona Josefa Miranda da Silva, 60, é uma liderança feminina rara no sul do Amazonas. Seis famílias vivem na comunidade de Santa Maria. Anos atrás, para pagar uma promessa, ela botou em prática um festival religioso em devoção à Santa Maria.

O festejo gera renda e une a comunidade, mas foi interrompido em 2020 devido à pandemia e à doença, que se espalhou pela região. O sogro de Dona Zefa morreu de covid-19 em março de 2020. Em julho, foi a irmã de 62 anos. "Restaram só as fotos dele", diz. Filhos e netos também foram contaminados.

Como ajudar?

É possível doar para instituições como o WWF-Brasil ou mesmo tornar-se um afiliado fixo. A ONG internacional usa as doações para investir em projetos que apoiam comunidades no país que atuam com economia sustentável e preservação do meio ambiente. Para doar, clique aqui.

Sempre exija transparência da instituição que recebe o dinheiro.

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