"Eu só conheci empreendedorismo em 2016. Até ali eu nem sabia que existia essa palavra. Pra mim era o corre, o bico. E foi esse primeiro choque, choque mesmo, porque, enfim, esse mundo do empreendedorismo tem um bocado de palavra em inglês, só falavam de empresa de fora. Eu fiquei assim, mas meu deus, por que eu vou falar de brainstorming se chuva de palpite é tão mais gostoso? Por que diabos eu tenho que falar somente do Google se tem uma mulher ali na Liberdade [bairro de Salvador] que vende um acarajé de um quilo que ninguém consegue copiar? Por que não regionalizar isso?
Comecei a descobrir uma outra cara do empreendedorismo, que me fez enxergar uma empreendedora em cada mulher da rifa que eu vejo aqui na rua. Foi a partir daí que resolvi traduzir para a linguagem informal, que é tão cultural, tão gostosa.
Por exemplo, no meio do empreendedorismo tem o glamour do 'elevator pitch', que é essa ideia de fazer um pitch [vender uma ideia ou projeto e um potencial cliente ou investidor] no elevador e tal. Mas qual é a técnica que o baleiro, a baleira usa quando entra no ônibus ou no metrô? Não é um pitch também? Só que é sem glamour. Ele tem que ser rápido. E, em vez de colocar um milhão, você investe R$ 10, R$ 15. Quem entende mais de pitch do que essa pessoa que faz o dia inteiro? Daí que o elevator pitch se transforma no pitch de buzu [termo popular para ônibus coletivo].
Não ensino ninguém a empreender. Potencializo o que já tem de bom e mostro para as pessoas que na verdade elas sabem muita coisa de empreendedorismo, Elas só não sabem o termo técnico. A ideia é criar uma ponte entre o empreendedorismo informal de rua e esse mundo de negócios que a gente conhece."