Poucos executivos da indústria automotiva se envolveram em uma polêmica tão grande em 2019 como Carlos Zarlenga. Mas não por causa das atitudes ou declarações deste argentino de gestos discretos e personalidade forte.
Presidente da General Motors do Brasil desde 2016, Zarlenga ainda liderava as operações do Mercosul quando sugeriu que a empresa poderia deixar o Brasil. O caso veio à tona após o vazamento de um comunicado interno no qual o executivo dizia que a empresa teve "prejuízo agregado significativo no período de 2016 a 2018" e que iria "tomar todas as ações necessárias" para deixar de perder dinheiro.
Após vários desdobramentos e incertezas, a GM conseguiu um novo acordo que garantiu abatimento de 25% no ICMS. Em troca, a empresa confirmou um investimento de R$ 10 bilhões nas fábricas de São Caetano do Sul e São José dos Campos até 2024, que devem garantir a manutenção de aproximadamente 15 mil empregos gerados pela empresa no Estado.
Já Zarlenga saiu fortalecido do episódio e assumiu o comando da GM América do Sul em abril. Viveu um ano sem maiores sustos até os dois casos de incêndio do Onix Plus, que culminaram em um recall envolvendo mais de 19 mil carros para atualização de um software da central eletrônica do sedã. Os incidentes aconteceram apenas uma semana após conversar com UOL Carros - daí o motivo de não ter se pronunciado sobre o assunto nesta entrevista.
Durante uma hora de entrevista, o argentino foi sincero e não fugiu de nenhum assunto. Falou sobre o supracitado episódio de deixar o país, criticou as dificuldades com exportações e disse que o nível de exigência do consumidor de carros de entrada está longe de ser o mesmo de antes. Teve tempo até para fazer suas previsões para o futuro da indústria.