Ela na boleia

Carolina Ortega virou caminhoneira nos EUA e hoje 'bomba' mostrando seu trabalho nas redes sociais

Vitor Matsubara Do UOL, em São Paulo (SP) Acervo pessoal

Sonho brasileiro nos EUA

Morar sozinha nunca foi um problema para Carolina Ortega. Talvez isso é que fez a jovem ir para os Estados Unidos após se decepcionar com a falta de oportunidades na área de Gestão Ambiental em Curitiba (PR), onde passou a maior parte de sua vida no Brasil.

Assim como milhares de estudantes, a intenção era estudar inglês, mas logo ela arranjou emprego na famosa rede de restaurantes Hard Rock Café. "Além de aprimorar o conhecimento do idioma, aprendi a me comunicar com as pessoas daqui e conheci a cultura do país", lembra

Parecia uma história comum até o dia em que sua vida mudaria para sempre. Por meio de conhecidos ela mudou de ares e começou a trabalhar em uma profissão improvável: motorista de caminhão.

Acervo pessoal
Acervo pessoal Acervo pessoal

Deitando no inglês

É claro que o começo não foi fácil, até porque Carolina nunca havia dirigido um caminhão na vida. E ainda havia a necessidade de fazer a prova para tirar a habilitação - em inglês, claro.

"Faz dois anos que comecei a trabalhar com caminhão, e, como eu só tinha CNH de carro no Brasil, precisei tirar minha carteira de motorista de caminhão nos EUA. Precisei aprender mais de 100 nomes diferentes de termos e peças, foi um baque! Comecei a me preparar, estudar e fiz as provas. Passei nelas até que chegou o dia de tirar a carteira, e consegui", lembra.

Seu primeiro emprego veio por meio de indicação de conhecidos - e Carolina afirma que dificilmente conseguiria uma oportunidade na área com tão pouco tempo de experiência.

Junto com o trabalho novo também vieram os perrengues, que aconteciam com frequência no começo, quando ela ainda guiava um caminhão antigo.

"Comecei a trabalhar em uma empresa menor com um caminhão mais velho que quebrava com frequência. Além disso, eu também não ganhava muita grana, mas todos esses problemas foram essenciais para me acostumar à nova área".

Acervo pessoal Acervo pessoal

Sozinha? Sem problema!

Agora a bordo de um belo Volvo, a paranaense diz gostar muito da vida de caminhoneira, principalmente pela oportunidade de conhecer vários lugares do país.

"Peguei muito gosto por esse trabalho, especialmente pela liberdade que o emprego te proporciona. Depois que você começa a dirigir parece que você fica apegado e começa a criar um vínculo com o veículo. O caminhão é da empresa, mas cuido dele como se fosse meu", afirma.

Essa também foi a impressão que tive, já que até a entrevista foi feita dentro do bruto. Mesmo trabalhando sem descanso por três semanas seguidas, Carolina não se incomoda com a vida longe de sua casa, na Flórida. Pelo contrário.

"Gosto muito da minha própria companhia e moro sozinha desde os 22 anos. Sou independente e me sinto bem com esse estilo de vida. Além disso, me sinto privilegiada em ter esse trabalho pelo fato de estar sempre em movimento. Talvez se eu precisasse estar em um lugar fixo estaria triste nesse período de pandemia".

Sorte que ela não está sozinha na boleia. Sua gata Freedom a acompanha em todas as viagens que faz pelo país.

Acervo pessoal Acervo pessoal

Relação respeitosa

Assim como no Brasil, a grande maioria dos caminhoneiros são do sexo masculino. Carolina reconhece que existe assédio, mas afirma que nunca passou por situações desconfortáveis.

"Aqui acho que de 90% a 95% dos caminhoneiros são homens, mas o número de mulheres na boléia está crescendo muito. Percebi um número maior de mulheres dirigindo e muitos homens nos cumprimentam, são muito educados", diz.

Até hoje, Carolina diz que nunca se sentiu intimidada com alguma abordagem mais ameaçadora.

"Às vezes alguns homens não são tão bacanas e mexem comigo, Não sei como seria se eu trabalhasse no Brasil, até porque só sou caminhoneira aqui (nos EUA), mas acho que isso acontece no mundo inteiro. É diferente ver mulheres dirigindo caminhões, mas acho que existe bastante aceitação por parte dos homens. E sempre tem alguém para te ajudar, mesmo quando você não precisa", diz, aos risos.

Acervo pessoal Acervo pessoal

Sucesso no YouTube

No ar desde 2019, o canal "Loira na Estrada" já é acompanhado por muita gente. Atualmente, quase 310 mil usuários estão inscritos - a grande maioria deles residentes no Brasil.

Carolina revela que a segunda maior audiência vem dos Estados Unidos e ainda há gente de várias partes do mundo que acompanha seus vídeos. "Muita gente me dizia que gostava do conteúdo, mas não entendia nada do que estava dizendo. Aí me veio a ideia de criar um canal só em inglês".

É por meio de seus vídeos que os familiares de Carolina acompanham seu dia-a-dia tão longe de casa. E eles gostam da vida que a jovem leva nos Estados Unidos.

"Minha família gostou bastante. É claro que existem riscos quando transportamos carga, mas nunca tive medo de assaltos. É só você dirigir com atenção, até para não causar acidentes", conclui.

Topo