Câmbio, motor e multimídia elevaram Onix e HB20; qual o próximo trunfo?
Fernando Calmon
Colaboração para o UOL, em São Paulo (SP)
08/11/2017 12h00
Há cinco anos, dois modelos iniciaram uma mudança no mercado brasileiro de carros de passeio. As propostas eram semelhantes -- hatches compactos inéditos, com o diferencial de serem mais equipados que os existentes, depois evoluindo para uma família de modelos pequenos. As datas de chegada, também: foram apresentados na época do Salão do Automóvel de São Paulo de 2012, um sendo mostrado um pouco antes, outro no decorrer da feira (entre o final de outubro e a segunda semana de novembro), com estreia nas lojas ocorrendo na sequência. Em pouco mais de duas temporadas, com altos e baixos, Hyundai HB20 e Chevrolet Onix desbancaram os concorrentes, incluindo o então todo-poderoso Volkswagen Gol e o variado Fiat Palio. Esta semana, UOL Carros publica série lembrando essa pequena revolução.
Este segundo texto é do jornalista Fernando Calmon, que tem 50 anos de experiência no setor, é colunista de UOL Carros, engenheiro e consultor.
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A grande depressão do mercado interno de veículos, que encolheu as vendas em cerca de 50% em apenas três anos, pode ter alterado, talvez de forma definitiva, o modo como os brasileiros desejam comprar seus carros. De fato, modelos mais baratos e poucos equipados sofreram juntamente com a parcela de clientes que perdeu poder aquisitivo. Era um estrato importante de pessoas que pela primeira vez estavam comprando um modelo zero-quilômetro. Até então, eram típicos clientes de automóveis usados.
Esse fenômeno de fundo econômico acabou por mudar o panorama do mercado com a rápida e avassaladora ascensão de modelos de projeto mais moderno, completos e, naturalmente, de preço maior. Não foi à toa, portanto, que Chevrolet Onix e Hyundai HB20 assumiram as duas primeiras posições na preferência dos consumidores. Quem se manteve ainda com algum fôlego financeiro exigia produtos com algo a mais para oferecer.
Receita do líder atual
A liderança do Onix combinou pelo menos três características, ressaltadas por Hermann Mahnk, diretor de marketing da General Motors: "Conectividade, nível de conteúdo superior e o câmbio automático de seis marchas em um modelo de entrada ajudou a atrair compradores até de outros segmentos", comentou em resposta a UOL Carros.
Ele lembra que compradores entravam nas lojas e procuravam logo saber tudo sobre a central multimídia "My Link". Em seguida o sistema de apoio remoto OnStar, uma mordomia virtual, agregou mais valor percebido ao carro.
O espaço interno garantido pela generosa distância entre-eixos de 2,53 m foi outra característica que agradou muito. Só agora o Fiat Argo se aproximou, com apenas 1 cm a menos nessa referência; e o novo Volkswagen Polo se transformou em novo paradigma com 2,57 m.
A GM também não teve dúvida de manter em linha a versão original, renomeada como Onix Joy (e mais barata, ou seja, preço ainda vende...), ao renovar o carro em julho de 2016.
HB20 correu por fora
Caminho semelhante trilhou o segundo colocado em vendas. HB20 investiu em estilo mais rebuscado, motor de 1 litro de três cilindros, nível de equipamento acima dos padrões do segmento de compactos, versão sedã de linhas harmoniosas e garantia total de cinco anos.
A marca coreana pesquisou muito para descobrir o gosto do brasileiro e alcançou seu objetivo, embora ainda distante do líder. Lançou até mesmo um motor 1.0 turboflex, mas menos desenvolvido para manter o preço. Sem injeção direta de combustível teve que manter o superado sistema de partida auxiliar a gasolina ao usar etanol.
Novas propostas
De toda essa sacudida de mercado ficou um "talvez" proposital lá do começo do texto. Esse cenário do "quanto mais completo melhor" pode se alterar quando o comprador do seu primeiro carro zero-quilômetro voltar ao jogo.
Pode abrir brechas para modelos mais básicos e até menos sofisticados em projeto. Por isso é bom observar a trajetória de vendas do Renault Kwid.
Com o atrativo de algo novo no ar a preços atraentes, é um subcompacto anabolizado que pode alterar, em parte, o entendimento de brasileiro gostar apenas de comprar carro "a metro" e sempre bem equipado.