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Chevrolet Sonic tem boa mecânica, mas barulho e falhas descolam rótulo premium

Olhar malvado e boca enorme garantem visual marcante ao Sonic, novidade da Chevrolet Imagem: Reprodução

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em São Paulo (SP)

30/05/2012 19h17

A Chevrolet apresentou na segunda e terça-feiras (28 e 29), em Armação dos Búzios (RJ), o Sonic, modelo nas carrocerias hatchback e sedã com pretensões de disputar a preferência do consumidor de compactos premium, ou seja, de carros com um diferencial qualquer, de conforto, tecnologia e/ou estilo.

Importado da Coreia do Sul (saiba mais aqui) sem uma versão LS (a sigla indica a linha mais básica de modelos da atual gama da GM), o Sonic chega às lojas do país com as duas opções de acabamento mais recheadas, LT e LTZ, câmbio manual de cinco marchas ou automático de seis (opcional da versão mais completa) e motor de 1,6 litro Ecotec Dual CVVT flex, que pode empurrar o modelo com até 120 cavalos de potência, quando alimentado com etanol.

Após percorrer, ora como condutor do Sonic hatch automático, ora como passageiro, a distância de quase 170 quilômetros entre o Estácio, na cidade do Rio, e Búzios (distância vencida também no trajeto de volta, desta vez a bordo do sedã manual), UOL Carros ouviu aquela que pode ser considerada a definição mais direta e precisa sobre quem a GM acredita ser o típico comprador do modelo. Ela foi emitida pelo vice-presidente da companhia no Brasil, Marcos Munhoz: "O Sonic é um carro para jovens, pessoas na faixa dos 30, 35 e até 40 anos. Meu filho, por exemplo, não vai querer comprar um Cobalt, que custa cerca de R$ 40 mil, vai preferir o Sonic de R$ 60 ou R$ 62 mil".

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A elevada margem de valor descrita por Munhoz tratava do panorama anterior à redução provisória que o governo fez do IPI (válida até agosto). Com o corte calculado, os valores oficiais do Sonic são um pouco menos salgados:

-  Chevrolet Sonic LT hatch: R$ 46.200
-  Chevrolet Sonic LTZ hatch: R$ 48.700
-  Chevrolet Sonic LT sedã: R$ 49.100
-  Chevrolet Sonic LTZ sedã: R$ 51.500
-  Chevrolet Sonic LTZ A/T hatch: R$ 53.600
-  Chevrolet Sonic LTZ A/T sedã: R$ 56.100

A referência feita pelo executivo ao Cobalt na fala sobre o Sonic é justificada pela origem comum de ambos: ele e o Sonic são montados sobre a plataforma Gamma II, receita versátil que dá e dará conta da maioria dos lançamentos -- Cobalt, Sonic, os futuros Spin, Trax e o projeto Ônix (hatch e sedã) -- da renovada Chevrolet.

Embora não sejam diretamente relacionáveis, é possível fazer a analogia entre Cobalt, Sonic e Cruze e os antigos Astra, Vectra e Vectra GT, já aposentados. De novo, a palavra de Munhoz: "O Cobalt faz o papel que era do Astra sedã, o perfil do comprador é semelhante. Acima dele, surge o Sonic, hatchback ou sedã, atraindo quem se interessaria pelo Astra hatch. Cruze [o sedã] e Cruze Sport6 [hatch] ocuparam o espaço, claro, de Vectra e Vectra GT". Seria muito mais lógico, porém, incluir o Corsa II (que ainda está à venda por R$ 29.359), em algum ponto da comparação.

O fato é que a GM pensa no Sonic como sua opção para quem pode pagar um pouco mais por um compacto, mas exige ter mais conforto, tecnologia e, de quebra, algo para impressionar aos amigos. É o mesmo papel que cumprem New Fiesta (hatch e sedã), na Ford, Honda City e Fit, na Honda, Punto, na Fiat e C3, na Citroën -- os três primeiros foram listados pela GM como rivais do Sonic; os outros dois são lembrados aqui por UOL Carros.

SERÁ QUE ELE É?
A grande questão sobre o Sonic é saber se ele justifica o uso do rótulo de carro compacto premium e, claro, os preços cobrados. É possível falar do visual, mas goste você ou não da nova cara de um Chevrolet, haverá motivos para discutir linhas, formas e tamanho da frente com grade bipartida até a exaustão.

No Sonic, estes elementos são radicalizados e o carro tem jeito mal-encarado, instigante, que brinca com círculos interrompidos (como nas lanternas e caixas de roda proeminentes), retângulos preenchidos (faróis e segmentos da grade), ângulos e vincos. O resultado é realmente atraente ao público mais jovem, principalmente no que tange ao dois-volumes, mais horizontalizado e com um estilo que clama para ser tunado. Quem gosta de incrementar, vai encontrar um prato cheio nos faróis e lanternas com elementos expostos. Quem não gosta, vai poder dizer que a GM economizou demais ao não cobrir os conjuntos com lentes. Os antenados podem argumentar que faltou um toque de LED aqui e ali, algo que o New Fiesta tem. E os críticos podem matar a conversa ao vaticinar que tudo ficou muito parecido com um veículo que não tem nada de premium, como o Ford Ka. 

No sedã, não há  argumento: a frente não conversa direito com o terceiro-volume e o carro fica careta, lembrando modelos feitos para o público emergente, como o Peugeot 207 Passion ou o Nissan Versa. E você, leitor, sabe bem o que queremos dizer citando tais exemplos...

O fator premium também pode ser medido pelo vigor de um carro ao ser atiçado pelo pé direito no pedal do acelerador. O novo motor da família Ecotec, de 1,6 litro, com coletor de admissão variável e duplo comando das 16 válvulas com abertura também continuamente variável, não faz feio e mantém o Sonic sempre esperto, mesmo em giros mais baixos. Mérito também do bom gerenciamento feito pelo câmbio -- no caso, pelo câmbio automático de seis marchas, presente apenas no Sonic mais caro, e como opcional. A caixa manual de cinco marchas, embora bastante acertada e com engates precisos, não lida tão bem com o ímpeto do carro.

O Sonic e seu motor tendem a chegar rápido à casa das 4.000/5.000 rotações, comportamento que eleva consumo e ruído. Embora o teste compartilhado não seja a situação ideal para medição de consumo, podemos indicar os números do computador de bordo: média de 7,8 km/l, sempre com álcool e rodando majoritariamente em rodovias. Isso, claro, pode ser melhorado com o passar do tempo, conforme o motor amacia e o motorista encontra o timing da condução com o modelo. Já o ruído...

Além do barulho do motor em acelerações e retomadas mais profundas, há o irritante (por ser alto e constante) som de rodagem, sinal de que o isolamento acústico ficou aquém do ideal. Não só o isolamento, mas o acabamento interno, no geral, deixam a desejar. A qualidade do plástico utilizado é boa, o sistema de som é eficiente (embora seja simples demais e seu áudio seja ruim para quem viaja atrás) e quase tudo condiz com o Sonic americano, guiado por UOL Carros em janeiro (leia aqui).

O arremate, porém, é ruim. Durante o teste, o forro de tetos e colunas cedeu a apalpadas; há botões falsos (ocupados pelo switch do controle de estabilidade no exterior) e vazios no console (em outros países, há um slot para cartão de memória, não visto por aqui); e quem senta no banco traseiro do Sonic sedã viaja com a cabeça sob a janela traseira, situação incômoda em dias de sol forte e perigosa em casos de acidente -- o pior, porém, é que desta posição é possível colocar a mão no espaço livre entre o forro e o teto do carro e, sem qualquer esforço, despregar os grampos e descolar todo o revestimento (veja o quadro ao lado). 

Outras lacunas: o sistema de freios, que é eficiente e conta com ABS e EBD, mas traz tambor (e não discos) no conjunto traseiro. E há o fato do Sonic coreano ter apenas dois airbags, enquanto que nos Estados Unidos (onde custa entre US$ 13.800 e US$ 18 mil -- algo entre R$ 27.800 e R$ 36 mil) traz sempre dez bolsas infláveis. O rival New Fiesta, vindo do México, pode ter até sete. E, assim, acaba convencendo mais como compacto premium que o carro da GM. 

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