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Confusão do IPI tende a ser neutra para consumidor; no futuro, todos ganham

Nenhuma fabricante ousará abandonar um mercado tão forte como o brasileiro Imagem: Moacyr Lopes Junior/Folhapress

FERNANDO CALMON

Colunista de UOL Carros

03/10/2011 19h17

Ainda não baixou toda a poeira do aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), mas já é possível uma análise aprofundada. Claro, trata-se de medida protecionista que todos execram. Entretanto, isso é o que menos falta no mundo, hoje, por meio de barreiras válidas ou disfarçadas, especialmente após a crise financeira de 2008. Exemplos: no México, só podem importar as marcas que produzam lá ou mediante acordos comerciais (chineses e sulcoreanos ficam de fora); os que não fabricam na Argentina devem compensar a importação comprando produtos locais e exportando.

Há outros casos curiosos. Apesar do alto poder aquisitivo, na Coreia do Sul todos os importados, inclusive marcas premium, ocupam apenas 1% do mercado interno. Será que estrangeiros oferecem menor prazo de garantia? Na China, o programa subsidiado de veículos elétricos só é válido para os produzidos por chineses. Provavelmente, pela qualidade superior...

Isso posto, vem o IPI majorado em 30 pontos percentuais, na média aumento real da alíquota de 26,5%. Difícil derrubar essa medida na Organização Mundial do Comércio (OMC). O governo alegaria que a nova alíquota é para todos, sem distinção de origem, seguida por normas de incentivos para fabricação local, como já ocorre com computadores e outros bens. Decisões da OMC são lentas e o IPI maior vale, inicialmente, até o final de 2012. Tempo curto demais para eventual disputa.

Veja também

Emenda constitucional, de dezembro de 2003, de fato estabelece um mínimo de 90 dias para alterar um tributo. Alguns acham que a regra vale para impostos novos e que IPI existe desde os anos 1960. Juízes terão que decidir. Faz parte do cipoal legislativo típico do famigerado Custo Brasil.

Protecionismo, em princípio, prejudica consumidores. Porém, é bom lembrar que não se exige conteúdo local para produzir veículos no país, salvo os 60% dentro do Mercosul. O novo índice de nacionalização de 65% é mais rigoroso: desconta (agora) a carga fiscal, há processos produtivos regulados e gastos obrigatórios em pesquisas. Deixa alguma flexibilização por dispensar das exigências 20% da produção.

EMPREGOS, JÁ
Também não dá para exagerar. Novas marcas que queiram construir fábricas aqui poderiam seguir uma escala crescente de uso de autopeças nacionais ou do Mercosul, iniciando em 30%. Parece óbvio que isso ocorrerá.

Afinal, mesmo que a maior intenção de investimento desses entrantes signifique menos de 10% do que apenas um dos fabricantes estabelecidos já iniciou, o Brasil precisa de todos os empregos que possa gerar. Na longa cadeia industrial a geração de renda é superior ao setor comercial, no nosso estágio de desenvolvimento atual.

Ponderando prós e contras, inclusive a situação cambial que favorece importar e não fabricar localmente, toda essa confusão do IPI tende a ser neutra para o consumidor, em médio prazo, e favorável, em longo prazo, por atrair investimentos pesados e maior concorrência. De início, bônus e financiamentos subsidiados podem até diminuir.

É ingenuidade, no entanto, achar que importadores repassarão toda essa carga fiscal, desistindo de um dos mercados mais atraentes do mundo, onde todos brigam por décimos de participação nas vendas.

Siga o colunista: www.twitter.com/fernandocalmon
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VAIVÉM
Dodge Journey e Fiat Freemont continuarão a vir do México
isentos de imposto de importação e do IPI majorado. Acordo bilateral tem sido muito favorável ao Brasil: exportamos mais de 1,5 milhão de unidades em dez anos e importamos nem um terço desse volume. March e novo Fiesta, hoje mexicanos, serão fabricados aqui, diminuindo importações.

PARECE, MAS NÃO É
Sedã compacto Chevrolet Cobalt
não terá arquitetura baseada na do Corsa alemão e muito menos será a versão sedã do Agile. Por ora, a GM esconde essa informação, mas o carro foi desenvolvido em conjunto pelas filiais brasileira e sulcoreana (antes conhecida como GM Daewoo Auto & Technology). Modelo chega ainda esse ano, substituindo Astra e Corsa sedã atuais.

PEGOU BEM
Versão básica do Tiguan 2012 passa a custar R$ 110 mil
com repasse parcial do novo IPI. Derivado do Golf, recebeu retoques na frente e traseira e, no interior, rádio com navegador. Assist Park II agora permite entrar e sair das vagas, inclusive as transversais, com mínima intervenção do motorista. Impressiona a nova tração 4x4 permanente, tanto no asfalto como na terra.

BEBE MENOS
Vender a ideia de um modelo comum voltado para a economia
de combustível não é nada fácil. A Fiat faz isso agora com o motor de 1,4 litro do Uno Economy. Antes só aplicava o conceito a motores de 1 litro, como do próprio Uno. Pacote inclui transmissão, pneus, suspensões e gerenciamento do motor modificados para alcançar de 10% a 15% de economia.

INVESTIMENTO
Bosch aumentará oferta de produtos de ponta produzidos no
Brasil. Além do ABS de nona geração, ESP também entra no portfólio. São unidades mais compactas e leves, iguais às europeias, para ampliar segurança ativa nos automóveis. A empresa inicia atividades de energia solar, nacionalizando placas fotovoltaicas.
 

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