Com frente herdada do Siena, Palio retoma consistência nas vendas
Da AutoPress
Especial para o UOL
08/06/2009 14h00
Difícil imaginar que a simples modificação de um conjunto de faróis baste para elevar significativamente as vendas de um veículo. Mas aconteceu com o Palio. Modelo mais emplacado da Fiat no país há anos, o hatch compacto vivia uma má fase desde a terceira re-estilização, promovida em março de 2007. As vendas estavam em franco declínio, a ponto do modelo ser superado pelo veterano companheiro de vitrine, o Mille (encontrado por preços a partir de R$ 21.960). Mas, em janeiro, a montadora italiana trocou os faróis de refletor simples pelos de dupla parábola, iguais aos do Siena (sedã com preços iniciando em R$ 32.770). A modificação incluiu ainda a grade frontal, que ganhou uma moldura cromada, também aplicada no sedã compacto. E o efeito foi imediato. Já em fevereiro, o Palio reassumiu a segunda colocação nos emplacamentos gerais de automóveis, atrás do Volkswagen Gol (que custa a partir R$ 27.590 na versão 1.0 e R$ 31.460 para o 1.6).
E não foi uma retomada tímida. O Palio subiu das 10.766 unidades comercializadas em janeiro, para 12.754 unidades em fevereiro. Em março, deu um grande salto até 19.640 emplacamentos. E, em abril e maio, o hatch da Fiat somou 16.297 e 16.612 unidades, respectivamente, estabelecendo uma nova -- e competitiva -- média mensal. O pivô das vendas do Palio continua a ser a versão Fire, que mantém o desenho da segundo facelift do modelo, lançada em 2003. No mix de vendas, a configuração mais básica responde por 69% das vendas, com preços a partir de R$ 24.490.
Na mais recente re-estilização, a Fiat manteve intocado o desenho do Palio Fire, mas aplicou o nome Economy, já adotado no Uno. Apenas o motor 1.0 litro 8V flex foi modificado para atender às novas regras do Proconve (Programa de Controle das Emissões de Poluentes por Veículos). Com pequenas alterações nos coletores, pistões e válvulas e uma tímida elevação da taxa de compressão, a unidade de força ganhou 8/9 cv de potência: agora gera 73/75 cv aos 6.250 rpm, além de 9,5/9,9 kgfm de torque aos 4.500 giros - com gasolina/álcool. Já o "novo" Palio, que parte de R$ 28.790, também dispõe de uma configuração de entrada equipada com o mesmo motor 1.0 8V flex. Esta versão concentra 11% das vendas.
Mas, no modelo com o visual mais recente, é a configuração intermediária do Palio ELX, equipada com o propulsor 1.4 8V flex, que puxa as vendas. São 18% do mix de emplacamentos e preço a partir de R$ 33.110. A unidade de força também recebeu ajustes para atender as últimas exigências do Proconve. Com novos pistões e coletores de admissão e de escape, o propulsor 1.4 litro ganhou 5 cv de potência e passa a desenvolver 85/86 cv a 5.750 rpm e um torque máximo de 12,4/12,5 kgfm aos 3.500 giros.
Veja também
ACELERADAS
- O Palio é fabricado pela Fiat na fábrica de Betim (MG) desde abril de 1996. Na época, era equipado com motores 1.5 8V e 1.6 16V. |
- Desde que foi lançado no Brasil, o Palio já passou por quatro atualizações. A primeira foi em 2000, com desenho assinado pelo designer italiano Giorgeto Giugiaro. A segunda foi em 2003. O terceiro e o quarto face-lifts foram em 2007 e 2009. |
- A Fiat oferece atualmente um leque de 11 cores para a carroceria do Palio. São quatro sólidas (azul, branco preto e vermelho) e mais sete metálicas (azul, bege, prata, preto, verde e dois tons de cinza). As metálicas adicionam R$ 848 ao preço final. |
A Fiat passou a oferecer também no Palio ELX a opção do motor 1.8 8V flex fornecido pela General Motors e antes exclusivo da versão "esportiva" R e da topo de linha HLX, que saiu de linha. O propulsor tem potências de 112/114 cv aos 5.500 rpm e torque de 17,8/18,5 kgfm aos 2.800 giros (no Palio R, 113/115 cv e torque de 18/18,5 kgfm). Com ele, o Palio ELX parte de R$ 34.800 e de R$ 39.390, na configuração R duas portas -- juntas, elas têm apenas 2% do mix de vendas.
A ligeira repaginação do Palio também envolveu alguns itens de série. Faróis de dupla parábola, grade com moldura cromada e faróis de neblina são equipamento de série em todas as versões, assim como o brake-light e um aerofólio traseiro, fixado no teto. No interior, o quadro de instrumentos tem agora fundo preto e mantém velocímetro, conta-giros, marcador da temperatura da água, relógio digital e a pequena tela em cristal líquido à direita onde são exibidas informações do computador de bordo e as "barrinhas" que indicam o nível de combustível.
A versão ELX, especificamente, oferece direção hidráulica, computador de bordo, regulagem de altura da coluna de direção e para-choques, maçanetas e retrovisores externos na cor da carroceria.
Entre os equipamentos mais importantes, porém, quase tudo é opcional. Ar-condicionado, trio elétrico, airbags frontais, freios com ABS e o sistema de som Connect, com rádio/CD/MP3, conexão Bluetooth e entradas USB e iPod, por exemplo, fazem o preço na versão 1.4 flex chegar a elevados R$ 45.119. Não por acaso, embora as vendas do Palio tenham crescido com a nova frente, é a versão de entrada Fire que mais impulsiona a forte "arrancada" nos emplacamentos do hatch compacto.
FICHA TÉCNICA
Fiat Palio ELX 1.4 flex |
Motor: Gasolina e álcool, dianteiro, transversal, 1.368 cm³, quatro cilindros em linha, duas válvulas por cilindro e comando simples de válvulas no cabeçote. Injeção de combustível multiponto sequencial e acelerador eletrônico. |
Transmissão: Câmbio manual de cinco marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira. |
Potência: 85 cv (gasolina) e 86 cv (álcool) aos 5.750 rpm. |
Torque: 12,4 kgfm (gasolina) e 12,5 kgfm (álcool) aos 3.500 rpm. |
Diâmetro e curso: 72,0 mm x 84,0 mm. Taxa de compressão: 10,3:1. |
Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson, com braços oscilantes inferiores transversais, molas helicoidais, amortecedores hidráulicos e barra estabilizadora. Traseira independente por eixo de torção, com braços oscilantes inferiores longitudinais, molas helicoidais, amortecedores hidráulicos e barra estabilizadora. |
Freios: Dianteiros a discos ventilados e traseiros a tambor. Oferece ABS com EBD como opcional. |
Carroceria: Hatch em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Oferece airbags duplos frontais como opcional. |
Dimensões: 3,85 metros de comprimento, 1,64 m de largura, 1,44 m de altura e 2,37 m de entre-eixos. |
Peso: 981 kg. |
Porta-malas: 290 litros. |
Tanque: 48 litros. |
IMPRESSÕES AO DIRIGIR
O upgrade recente do Palio foi exclusivamente estético. A bordo do hacth compacto da montadora italiana, tudo continua igual. A maciez e boa ergonomia são quase uma marca registrada: tanto a suspensão, quanto os engates do câmbio ou mesmo o giro do volante nas manobras são extremamente amaciados. No interior, a aplicação de tecidos no forro das portas e peças de plástico rígido em duas cores no painel -- preto e cinza metalizado -- tentam fazer do ambiente compatível com a proposta de conforto, acabamento estiloso e algum requinte. No conjunto, o Palio até é simpático.
Em movimento, porém, o hatch compacto revela limitações naturais para um modelo que está em linha de produção há 14 anos, entre mudanças visuais e ligeiros aprimoramentos mecânicos. Nas retas e curvas, o Palio tem pouco equilíbrio e que não aceita abusos. Após ultrapassar os 120 km/h, surge uma sensação de flutuação, com falta de precisão na comunicação entre as rodas e o volante, transmitindo insegurança. Também é comum no dia-a-dia o motorista ter de corrigir constantemente a trajetória em retas, a velocidades de 60 km/h.
Já nas curvas, sobretudo nas mais fechadas, basta entrar mais agressivo para as rodas traseiras "ameaçarem" se desgarrar da pista. A carroceria torce bem nas manobras. Durante as frenagens também falta rigidez à estrutura em monobloco. A dianteira embica com vontade e afeta diretamente o equilíbrio. Na versão ELX 1.4 flex avaliada, estavam instalados freios com ABS e distribuidor eletrônico de frenagem EBD, além de airbags frontais. E durante toda a avaliação, o sistema antitravamento dos freios foi acionado constantemente, mesmo nas frenagens não tão intensas, demonstrando ser um item de segurança de grande importância no Palio.
Quanto ao desempenho, o motor 1.4 8V flex mostrou alguma evolução. A unidade de força oferece respostas razoáveis ao pedal do acelerador, com seus 86 cv de potência e o torque de 12,5 kgfm com álcool. Em geral, boa parte do torque é liberada a partir dos 2.500 rpm, o que deixa o modelo até um pouco ligeiro no trânsito urbano. Foram necessários 5,4 segundos para arrancar de zero a 60 km/h. Já para ir de zero a 100 km/h, o hatch compacto levou 12,1 segundos, desempenho não muito entusiasmante, assim como a máxima de 167 km/h. Também faltou energia nas retomadas. Foram necessários 13,5 segundos para recuperar o fôlego de 60 km/h aos 100 km/h em quarta marcha.
A explicação do rendimento comedido do Palio é o difícil entrosamento do motor com o câmbio manual de cinco velocidades. A primeira marcha é excessivamente curta para compensar a falta de torque em baixos giros. O que acaba provocando um buraco entre a primeira e a segunda marchas. Os 12,5 kgfm são liberados integralmente apenas aos 3.500 rpm, o que força o motorista a manter os giros do propulsor elevados para não perder força. Os engates do câmbio ainda são esponjosos e imprecisos. E o curso é demasiadamente longo. No caso da versão ELX avaliada, a ergonomia agrada, com ajustes de altura para o assento do condutor e a coluna de direção. Mas é preciso pagar à parte pela regulagem no banco, assim como pela grande maioria dos equipamentos. (por Diogo de Oliveira)
DE ZERO A 100 PONTOS, O PALIO ELX 1.4 FLEX
Desempenho - O propulsor 1.4 flex produz uma quantidade de energia apenas razoável para o Palio. Os 86 cv de potência e o torque de 12,5 kgfm com álcool empurram o hatch compacto com vigor comedido. No trânsito urbano, o Palio é até esperto. O zero a 60 km/h é cumprido em 5,4 segundos e o zero a 100 km/h é feito em 12,1 s. Mas o desempenho do motor é afetado mesmo pela falta de sintonia do câmbio manual de cinco marchas, que tem a primeira relação muito curta, para compensar o baixo torque, e um degrau muito grande entre a primeira e a segunda marchas, o que exige que o condutor mantenha os giros sempre elevados para não perder a força, principalmente em ladeiras. Nota 6. |
Estabilidade - Enquanto nas retas a sensação de flutuação surge logo após os 120 km/h, nas curvas mais fechadas a estrutura em monobloco torce excessivamente. Já a suspensão mais macia interfere nas frenagens. A dianteira embica bastante, mesmo em paradas mais amenas e fica instável em situações extremas. Durante a avaliação, o sistema ABS com EBD, opcional no modelo, mostrou-se fundamental, sendo constantemente acionado. Nota 6. |
Interatividade - A versão intermediária ELX é bem dotada neste quesito. Os comandos em geral ficam bem posicionados, com acessos intuitivos. E o assento do condutor tem regulagem de altura, também disponível na coluna de direção. Assim, é fácil encontrar a melhor posição de dirigir. O novo quadro de instrumentos, agora com fundo preto, mantém a iluminação em âmbar e tem boa leitura, com os numerais grandes. Um pequeno visor no canto direito inferior traz informações do computador de bordo e hodômetro, além do indicador do nível de combustível no tanque, exibido no confuso padrão de barras empilhadas verticalmente. O que desagrada no Palio é o câmbio. A alavanca fica bem posicionada, próxima ao volante, mas tem engates esponjosos e cursos demasiadamente longos. É preciso esticar totalmente o braço para acoplar a quinta marcha. Nota 7. |
Consumo - Abastecido com álcool, registrou consumo elevado para um modelo com um motor pequeno. A média foi de 6,4 km/l num percurso com 2/3 de cidade e 1/3 de estrada. Nota 6. |
Conforto - O espaço para pernas é reduzido tanto na frente quanto atrás, como na maioria dos compactos. Os bancos também não colaboram para o bem-estar a bordo. Além de terem tamanho limitado pelo espaço físico do hatch, com 2,37 metros de entre-eixos, as espumas têm densidade elevada e causam desconforto em viagens longas. O isolamento acústico também é apenas razoável. Os ruídos externos e o ronco áspero do motor invadem o habitáculo o tempo todo. Nota 6. |
Tecnologia - A plataforma do Palio sofreu um reforço em 2003, mas é basicamente a mesma há 14 anos. Já o motor 1.4 8V flex, da versão avaliada ELX, é mais recente, do início da década. De moderno mesmo, o Palio traz alguns equipamentos de fábrica, que na versão ELX 1.4 nem são tantos. Na verdade, os destaque são os freios com ABS e EBD e os airbags frontais, que são opcionais. O sistema de som Connect, outro opcional, também merece referência, com a integração de rádio/CD/MP3, conexão bluetooth e entradas USB e para iPods. Nota 6. |
Habitabilidade - Os acessos ao interior do Palio não são muito amplos. Nos bancos dianteiros, há até um vão mais convidativo, com boa amplitude. Mas atrás o espaço é apertado. O porta-malas também sofre do mesmo mal. O vão tem boa altura, mas é espremido nas laterais. Já a capacidade de 290 litros está dentro da média do segmento. E as regulagens ficam bem posicionadas. As únicas exceções são as alavancas de abertura da tampa do porta-malas e do tanque de combustível no assoalho, próximas dos pés do motorista. Nota 6. |
Acabamento - Os plásticos rígidos em duas cores no painel e tecidos nas forrações das portas tentam dar algum requinte ao Palio. Mas trata-se de um carro básico. As texturas não impressionam aos olhos e ao toque e os encaixes são apenas razoáveis. Há espaços entre algumas peças e falta precisão de montagem. Também há rebarbas aparentes, embora o conjunto não incomode tanto. De qualquer forma, a versão ELX 1.4, mais adornada por dentro, é superior a concorrentes como Chevrolet Corsa (com motor 1.4 a partir de R$ 31.829) e Ford Fiesta (1.0 a partir de R$ 27.895, 1.6 por R$ 31.795). Nota 7. |
Design - A nova frente copiada do Siena, com os faróis em dupla parábola e a grade com moldura cromada, fez bem ao Palio. O hatch compacto da Fiat está mais atraente. Os vincos nas laterais também realçaram as linhas. Mas as lanternas traseiras encorpadas não têm tanta harmonia com as linhas dianteiras. Nota 7. |
Custo/Benefício - A versão ELX 1.4 tem um preço interessante. É vendida por R$ 33.110. O problema é que a lista de série é muito enxuta. Entre os itens, há basicamente a direção hidráulica e computador de bordo. É preciso pagar para ter ar-condicionado, vidros, travas e espelhos laterais elétricos, o sistema de som Connect, além de regulagem de altura para o assento do motorista, entre outros. E com todos os opcionais da versão avaliada, o preço chega a elevados R$ 45.119 e esbarra nos compactos premium. Nota 6. |
Total - O Fiat Palio ELX 1.4 flex somou 63 pontos em 100 possíveis. NOTA FINAL: 6,3. |