Carros elétricos são mais rápidos por natureza. Com exceção dos modelos voltados aos ciclos urbanos, quase todos costumam ser mais rápidos em aceleração do que os concorrentes a combustão, pois o torque instantâneo se mostra um aliado. Pisar pouco e andar muito parece não ser o suficiente.
É só ver o que aconteceu recentemente no circuito alemão de Nürburgring, Alemanha, onde o Porsche Taycan Turbo conseguiu desbancar o recorde do Tesla Model S Plaid. Lembrando que estamos falando de carros de produção em massa, o que descarta protótipos, conceitos ou modelos criados como exemplares quase que únicos. O Porsche conseguiu fazer os 21 km do trecho norte do circuito em 7m33.3 segundos, contra 7m35,6 s do Tesla. Não custa nada reforçar que foram apenas três segundos entre um e outro, uma diferença mínima para uma pista tão longa. Foi uma espécie de revanche, dado que o Model S Plaid havia batido o recorde anterior do Taycan Turbo S em 12 s. A vitória parece estreita, mas ganha contornos mais impressionantes ao serem levados em consideração os números de potência e torque dos rivais. O Porsche gera 761 cv, 107,1 kgfm de torque e tem peso de 2.295 kg, enquanto o Tesla conta com 1.034 cv, 145 kgfm e pesa o equivalente a 2.189 kg, o que mostra o melhor aproveitamento do Taycan Turbo S. Sem falar nas diferenças no desempenho anunciado. O cupê de quatro portas alemão vai de zero a 100 km/h em 2,8 segundos e chega a 260 km/h, face os 2,1 s e 322 km/h do liftback (aqueles sedãs com tampa traseira basculante) americano. A Porsche fez algumas modificações no Taycan recordista. São alterações que incluem novos ajustes do controle dinâmico de chassi, bancos tipo concha, gaiola de segurança e pneus Pirelli P Zero Corsa, algo que passou a ser disponibilizado também no modelo de série, uma maneira de escapar das acusações da rival. A marca alemã se preocupou em manter o mesmo peso do carro recordista em relação ao de produção. O dono da Tesla, Elon Musk, já falou que vai bater o recorde novamente. É de se perguntar por que os fabricantes de elétricos estão apostando tanto em versões mais rápidas? A questão pode ser respondida por vários aspectos. Ter um carrão mais rápido do que o dos outros é algo aprendido com os automóveis a combustão, além da publicidade e, claro, da velha regra de vença na pista, vença nas vendas. "É uma pista mística e a colocação é de que, se você é rápido e quer superar os rivais, tem que quebrar o recorde de Nürburgring para garantir o feito e conquistar a mídia positiva dessa performance. Já há desde a fase de projeto uma maneira de equilibrar os requisitos. É uma troca que já é pensada na concepção do carro" Professor Fabio Delatore, docente do departamento de Engenharia Elétrica da FEI e coordenador do projeto Fórmula FEI elétrico. Alguns aspectos negativos têm que ser considerados. Tal como ocorre com os modelos a combustão, os elétricos que andam mais consomem, inevitavelmente, mais energia/combustível. Só que os fabricantes tentam compensar essa sede por eletricidade com baterias de maior capacidade. É a única maneira de administrar o alto gasto energético e não parar mais frequentemente para recarga. O Taycan consome entre 25.6-24.3 kWh/100 km na regra WLTP, além de ter alcance entre 390-416 km e tamanho de bateria de 83,7 kWh. O Tesla drena as baterias a 22 kWh/100 km e chega a 600 km de autonomia, mérito também do pack de células de 95 kWh. Está certo que o Porsche e o Tesla não são os únicos exemplos de carros elétricos que se tornaram superesportivos. A BMW vai apresentar em breve um teaser do seu primeiro M elétrico, enquanto as outras alemãs estão se mexendo. A Audi mesmo tem o RS e-tron GT, modelo que tem a mesma plataforma do Taycan. Um ponto a ser levado em consideração é a capacidade de regeneração de energia dos elétricos, algo que seria desperdiçado na maioria dos superesportivos térmicos. "Os projetos deles são multimotores, enquanto a tração movimenta os dois eixos. É feito um estudo para que a energia de desaceleração seja recuperada antes mesmo de serem acionadas as pinças do freio", ressalta Fabio. Outro ponto importante destes carros é a aerodinâmica de baixo coeficiente, algo que incrementa a performance e a economia. O alto consumo energético prejudica o mérito de superesportivos elétricos? Em somente em parte, pois tais carros seguem uma lógica de desempenho cada vez maior aplicada há mais de um século na indústria automotiva. Imagine só um modelo top de linha da Porsche que não se destaque em desempenho no segmento. Além disso, a fonte de energia pode ser inteiramente renovável em muitos países. **** MAIS SOBRE CARROS E AUTOMOBILISMO: NEWSLETTER DE FLAVIO GOMES Todo domingo, Flavio Gomes escreve sobre a F1 e outras competições do automobilismo e relata bastidores de sua longa carreira como jornalista. Para se cadastrar e receber a newsletter semanal, clique aqui. |