Série mostra origem sem glamour e cheia de perigo da Harley-Davidson
James Cimino
Colaboração para o UOL, em Los Angeles
23/09/2016 20h12
Antes de se tornarem o símbolo da rebeldia entre os anos 1960 e 1970, as motos Harley-Davidson não passavam de "bicicletas motorizadas", cujos motores vazavam óleo e, às vezes, explodiam.
A história do mito antes de se tornar mito é o mote principal de "Harley-Davidson: a Série", que estreia nesta sexta (23), às 22h10 no canal pago Discovery Chanel.
Meio dramático, meio documental, o roteiro narra em três episódios a parceria entre os irmãos Arthur e Walter Davidson e o amigo deles, Bill Harley, responsável por projetar o motor que fez da moto um sucesso nas corridas em pistas de terra, no começo do século 20.
Por trás do mito
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Não era medo de se acidentar ou de morrer, era medo que seu motor falhasse
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Vou dizer pra vocês que eu achava que eu sabia andar de moto, até que vi o que eles faziam
Motos replicadas, histórias reais
A reportagem conversou com os atores durante o lançamento da série no Petersen Automobile Museum, em Los Angeles (EUA), museu que abriga as primeiras Harley-Davidson, além de veículos famosos usados no cinema como a Kombi de "Pequena Miss Sunshine", um Batmóvel, o carro de Walter White em "Breaking Bad" e o recém-reformado DeLorean de "De Volta para o Futuro".
Michiel Huisman, que está em "Game of Thrones" no papel de Daario Naharis (o namorado de Danaerys), interpreta Walter Davidson na série. Durante a conversa, contou que as motos que usam são apenas réplicas das originais, mas que seu personagem usa falas verdadeiras, retiradas do diário de Walter Davidson.
"Lendo os diários, a gente descobre exatamente o que ele sentia quando estava montando sua criação: não era medo de se acidentar ou de morrer, era medo que seu motor falhasse. E na época era pelo menos cem vezes mais perigoso que hoje. Só que esses caras eram durões. A gente costuma brincar nos bastidores que esta é uma série do tempo em que os homens eram homens para valer", afirma Huisman.
Ele conta ainda que o maior desafio foi recriar as corridas, porque as sequências eram muito perigosas. "Vou dizer para vocês que eu achava que sabia andar de moto, até que vi o que eles faziam. Se quebravam o tempo todo. Por isso eu digo que eles eram homens para valer, coisa que eu não sou e por isso deixo para os dublês", brincou Huisman.
Questionado se era mais difícil pilotar uma Harley-Davidson ou namorar a rainha dos dragões, foi político: "Ambas são cheias de truques e com ambas você tem que saber exatamente o que está fazendo!"
Para fãs de moto... e mecânica
Embora tenha pretensões dramáticas, a série é um prato cheio para obcecados por mecânica. Por isso, muitas das cenas podem parecer monótonas ao público mais generalista, podendo ser cultuadas por iniciados.
Grande atrativo, em termos de aventura, é mesmo a reprodução dos enduros, onde Harley e os Davidson exibiam os dotes de sua criação. Vencer, neste caso, era garantia de encontrar um patrocinador da produção e alguém que comercializasse seu produto.
Espírito da liberdade
A gênese do design que revolucionou o mundo das motocicletas, no entanto, só aparece no último episódio, quando a Grande Depressão Americana devastou a indústria. À beira da ruína e com um cenário propício ao tudo ou nada, os três sócios decidiram ousar.
Sem este ponto de partida, Peter Fonda jamais teria cruzado os Estados Unidos montando sua "Capitão América" e traduzindo o espírito de liberdade, que fez da Harley-Davidson e de suas motos um dos maiores símbolos do movimento hippie. Essa conexão da marca com o rock and roll, no entanto, a série não mostra.