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Vendedor de moto deve ajudar o principiante a não errar na compra

O lendário Mappin, que brilhou no século passado; no destaque, anúncio de 1958 oferecia Vespas no local Imagem: Reprodução

Cícero Lima

Colaboração para o UOL

22/03/2013 17h55

Nos meados da década de 1970, um policial de trânsito era atração no centro de São Paulo. Irrequieto e sorridente, o "guarda Luizinho" fazia a alegria dos pedestres que aguardavam o semáforo fechar na esquina da rua Xavier de Toledo com o Viaduto do Chá. Qualquer carro que parasse sobre a faixa de pedestres era alvo de sua atuação. Performático, Luizinho dava broncas sonoras e bem-humoradas, ou abria a porta do carro para que os pedestres usassem o interior do veículo como caminho. Isso mesmo: as pessoas passavam dentro do carro para completar a travessia.

Muitos desses pedestres dirigiam-se ao Mappin, na época o principal magazine de São Paulo.

Shopping vertical, em seus andares encontrava-se de tudo. De lingerie a liquidificadores, fogões e geladeiras, assim como barracas para camping e... motocicletas. Você leu direito: motocicletas. Dentro do Mappin era comum encontrar alguém com os olhos brilhando no elevador, levando sua primeira moto para casa, desde a popular Yamaha RD 75 ou até a sofisticada (para a época) Honda CB 360.

Quase quatro décadas depois, muita coisa mudou: o Mappin fechou suas portas, o guarda Luizinho está aposentado e os magazines não são o principal ponto de comercialização de motos. Hoje, o Brasil tem mais de 2.500 concessionárias vendendo veículos de duas rodas, exclusivamente.

Essas 2.500 revendas entregaram ao brasileiro cerca de 1,7 milhão de motos em 2012, usadas no transporte pessoal ou por trabalhadores como motofretistas e mototaxistas. A moto é hoje fundamental na vida das pessoas e tornou-se comum em nossas estradas, ruas, vilas, pastos, trilhas etc.

Ainda assim, é pouco. A julgar pela crise do transporte público e os congestionamentos que dominam nossas metrópoles, a utilização da moto ainda tem muito para crescer, ganhando usuários novatos que querem escapar da longa espera nos pontos de ônibus ou do aperto dos trens. E aí surge a dúvida: essas pessoas sabem qual moto comprar?

NECESSIDADE, VONTADE
Há alguns dias, num curso destinado a 50 mulheres recém-habilitadas como motociclistas, observamos que a maioria delas não tinha intimidade com o veículo, subia na moto com dificuldade e pilotava tensa, com medo. Como elas enfrentarão as ruas e avenidas de verdade, com grande fluxo de veículos, motoristas apressados e agressivos?

Para algumas moças, o simples ato de ajustar a corrente ou regular o freio eram grandes novidades. Ou seja: ainda estavam longe de ser motociclistas preparadas para trafegar com desenvoltura e segurança -- mas já tinham sua Carteira Nacional de Habilitação, categoria "A", específica para motos.

As alunas escolheram o modelo de sua primeira moto pelas razões mais diversas. Algumas mais "espertas" mostravam empolgação e justificavam a opção com propriedade, usando argumentos como agilidade, capacidade de carga ou economia de combustível.

Por outro lado, algumas demonstravam desconhecer até os estilos de moto disponíveis. Muitas não sabiam que scooters possuem câmbio automático (não precisa trocar de marcha) e imenso porta-objetos sob o banco.

Outras se impressionaram com a postura mais confortável oferecida por uma moto trail e sua versatilidade para vencer obstáculos, como em estradas de terra.

Se você não pilota ou nunca teve contato profundo com uma moto, é natural não conhecer sua diversidade. No entanto, se pessoas que já compraram uma moto desconhecem as benesses do scooter ou a versatilidade de uma trail, é sinal de que o atendimento nas concessionárias não está à altura das necessidades dos clientes.

NÃO VALE ERRAR
Alguns fabricantes afirmam que muitos clientes compram a moto errada para eles: "Um homem com mais de 130 kg adquiriu uma moto de 100 cc e reclama que ela não anda", "Um cara baixinho adorou a big-trail, porém saiu da loja e caiu na calçada". Não faltam exemplos de compras equivocadas, de modelos que não atenderão às necessidades do dia-a-dia ou não condizem com o tipo físico ou a habilidade do motociclista iniciante. Basta uma busca rápida na internet para se deparar com vídeos de pilotos que se esborracham ao sair da concessionária com sua moto esportiva, por pura falta de habilidade.

Nesse universo de despreparados, a responsabilidade recai totalmente nos "consultores de vendas", como se denominam hoje os vendedores (assim chamados desde antes da época do guarda Luizinho). Cabe a eles orientar o cliente para a compra certa.

Os funcionários das concessionárias de motos devem listar as necessidades do cliente; saber se a moto será usada em estrada; se transportará garupa ou bagagem; e, por fim, levar em consideração tipo físico e nível de habilidade do comprador antes de oferecer o veículo mais adequado ao futuro motociclista.

Quem vai rodar diariamente pela estrada precisa de uma moto com maior desempenho (nesse caso, as motonetas devem ficar de fora). Já quem busca economia de combustível, rodará pouco e por vias secundárias, tem no scooter ótima opção; quem percorre estradas de terra terá na trail a melhor opção, e assim por diante. Parece óbvio, mas para os principantes pode não ser.

Claro que a compra emocional não deve ser contestada. Diversos motociclistas gostam de determinadas marcas ou certos modelos, e ninguém os fará mudar de opinião. Nesse caso, cabe ao vendedor alertá-los sobre as características do produto escolhido -- pois nada é pior do que comprar a moto errada. Principalmente se for a primeira.

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