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'Obrigado a passar o rodo': eles tiram atraso da pandemia no Carnaval

Iann e Gustavo curtiram o Carnaval em Salvador e São Paulo, respectivamente - Arquivo Pessoal
Iann e Gustavo curtiram o Carnaval em Salvador e São Paulo, respectivamente Imagem: Arquivo Pessoal

Camila Corsini

Do UOL, em São Paulo

16/02/2023 04h00

O primeiro Carnaval após dois anos de folia restrita devido à pandemia tem um sentimento no ar: tirar o atraso.

Até quem era mais contido na pegação resolveu se soltar este ano. A sensação é de que não há tempo a perder — e, a qualquer momento, a vida pode virar de cabeça para baixo de novo, como ocorreu quando o coronavírus arrasou o mundo em 2020.

"Não consigo me lembrar quantas bocas eu beijei no último final de semana. Chegou uma hora que eu parei de contar", disse o advogado Iann Barberino, de 27 anos. O pré-Carnaval em Salvador foi só um prenúncio do que está por vir.

Em 2020, o último Carnaval antes do isolamento social, Iann estava apaixonado, focado em apenas uma pessoa e não quis aproveitar a folia. Agora, se vê "obrigado a passar o rodo".

As pessoas vão querer tirar o atraso, sair de casa e beijar mais do que nos últimos três anos. Elas estão com medo de acontecer alguma coisa e querem aproveitar ao máximo a vida
Iann Barberino

Iann, que já foi a dois blocos de Salvador, pretende aproveitar os próximos dias na Pipoca — grupos que acompanham trios elétricos da capital baiana.

Para isso, ele está temporariamente alocado na casa de uma amiga, que mora em um dos circuitos de Carnaval da cidade.

"Isso acaba facilitando porque não tenho desculpas para não estar no Carnaval. Não precisa pegar transporte público para voltar para casa, passar perrengue pedindo carro de aplicativo. A intenção de vir para cá foi facilitar a ida para a rua todos os dias."

Iann, de Salvador, usou fantasia de 'marmita de casal' nos blocos - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Iann, de Salvador, usou fantasia de 'marmita de casal' no bloco
Imagem: Arquivo pessoal

'Marmita de casal'

Para o look do último final de semana, ele escolheu uma fantasia um tanto quanto polêmica — mas que fez sucesso nas ruas. "Todo mundo gostou muito e parava para tirar foto."

Com uma tiara simulando um ovo frito na cabeça, ele segurava uma tampa metálica em que estava escrito "marmita de casal". O termo é conhecido nas ruas e faz alusão ao terceiro elemento de um ménage — que aceita ser a "marmita" de um casal.

A ideia do Carnaval é buscar ser irreverente mesmo, brincar, se divertir. Passamos o ano todo com tanta responsabilidade, tantas coisas sérias. Esse é o momento de a gente abstrair um pouco

'Não importava o gênero'

Carnaval - Ricardo Borges/UOL - Ricardo Borges/UOL
Carnaval 2023 é o primeiro após dois anos de restrições da folia no Brasil
Imagem: Ricardo Borges/UOL

A analista de marketing Joana* (nome fictício) decidiu, de última hora, ir para o bloco Gambiarra, na região de Pinheiros, zona oeste de São Paulo, no último domingo. A festa rendeu: a jovem calcula que beijou 20 bocas diferentes.

Não sei quantas bocas eu beijei, só aproveitei. O pessoal vinha dançar, olhava para o lado e todo mundo se beijava -- não importava o gênero
Joana

Ela acredita que as pessoas estão mais saidinhas neste Carnaval — e com bastante saudade da festa.

"A galera está muito aberta. Percebi muitos casais abrindo o relacionamento nesta época para esse tipo de situação rolar. Todo mundo se entrega", disse a jovem, de 26 anos.

Pegação como essa era coisa do passado para Joana, que se surpreendeu consigo mesma.

Isso não é normal para mim. No dia seguinte, fiquei até pensando: 'quantas doenças será que eu peguei?'. Mas, na hora, você se entrega
Joana

Ela, que não estava tão animada para a folia, pretende sair para as ruas no próximo fim de semana — mesmo sabendo dos perrengues e com medo de ser assaltada.

Por mais que eu quisesse descansar neste mês, percebi que não vai dar. Sou louca por Carnaval e vou ter de ir para mais bloquinhos. Talvez não beijar tantas pessoas como beijei, até por segurança. Mas o Carnaval pede para a gente se divertir muito Joana

"É um momento que as pessoas cessam o julgamento. Você dança do jeito que quiser, vai para rua e se veste como quiser. Todo mundo te aceita", diz a analista de marketing.

'Objetivo era 10, beijei uns 20'

Gustavo, de São Paulo, foi para o bloco com a meta de beijar 10 pessoas - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Gustavo, de São Paulo, foi para o bloco com a meta de beijar 10 pessoas
Imagem: Arquivo Pessoal

O farmacêutico Gustavo Lessi, de 21 anos, aproveitou o último domingo no bloco da Lexa, na zona oeste de São Paulo. Foi a primeira vez que ele curtiu a folia na rua.

"Meu objetivo era beijar umas 10 pessoas, consegui beijar de 15 a 20. Não cheguei a casar [ficar com alguém por um período longo no bloco] com ninguém no rolê, era só um beijinho mesmo e tchau. Tudo rápido e passageiro."

Segundo o farmacêutico, as pessoas estão tirando o atraso e beijando bastante. E é o que ele pretende continuar fazendo nos próximos dias — ele já confirmou presença no bloco das Gloriosas, comandado por Glória Groove, e no da cantora Pabllo Vittar.

Cuidados

Atenção beijoqueiros: a pegação geral não é isenta de riscos para a saúde. É possível contrair a doença do beijo, transmitida pelo vírus da mononucleose, além de outras infecções pela saliva (incluindo a covid-19).

A melhor prevenção é evitar o contato íntimo com muitas pessoas, já que nunca é possível saber quem está infectado.

Em relação à covid-19, é importante estar com a vacinação em dia. E, claro, evitar ir ao bloquinho se estiver com qualquer sintoma.

Vai fazer sexo? Vale a dica já conhecida e fundamental: usar preservativo.

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