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Clientes acusam funcionários de lanchonete em SP de racismo e agressão

Lucas ficou com a cabeça machucada após ser agredido em restaurante no centro de São Paulo Imagem: Arquivo pessoal

Laura Reif

Colaboração para o UOL, em São Paulo

28/02/2020 17h13

Na segunda-feira (24), um grupo de cerca de 10 amigos decidiu ir a uma lanchonete no centro de São Paulo para comer durante o Carnaval, quando começou a chover. Um programa que parecia normal, até que alguns deles tiveram a entrada ao local barrada, enquanto novos clientes transitavam livremente para dentro da lanchonete Esquina da Praça, no bairro da República.

Os três jovens que tiveram a entrada proibida são Peterson Santos, 35, Lucas dos Santos, 24, e Weslley Nascimento, 28, três negros em meio a um grupo de brancos. De acordo com eles, o gerente do local foi questionado sobre o que teria motivado a atitude e respondeu dizendo que "era por isso que não gostava de pretos".

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"Depois disso começamos a filmar tudo o que estava acontecendo, principalmente as atitudes do gerente quando começamos a questionar o ocorrido", contou Peterson à reportagem.

De acordo com ele, o dono foi chamado para atendê-los, mas "fez pouco caso" e logo chamou um segurança para expulsá-los. Rapidamente a situação ficou violenta enquanto os jovens enfrentavam o dono, acusando-o de racismo.

"Ele veio com um pedaço de madeira junto com os seguranças para nos agredir e um dos garçons arremessou uma cadeira no meu rosto. Me defendi colocando a mão, mas mesmo assim machucou o meu dedo, onde sofri uma luxação. E o que me causa mais revolta é que meu primo foi agredido por um segurança negro."

Lucas, que é primo de Peterson, levou um golpe na cabeça aplicado por um dos agressores que portava um pedaço de madeira. Em contato com a reportagem, ele destacou que nunca havia passado por uma situação semelhante antes.

"A gente não estava fazendo baderna, só queria comer um salgado e ir embora."

Em vídeo obtido pela reportagem, é possível ver cadeiras sendo jogadas de dentro do bar em direção aos clientes.

"Comecei a gravar o vídeo para comprovar que estava havendo um ato de racismo. É uma coisa que odeio, mexe muito comigo. No meio da confusão, meu amigo Lucas escorregou no chão. Nisso, os seguranças foram para cima dele agredindo com pauladas. Quando fui tentar apartar, fui chutado na barriga, onde já fiz uma cirurgia. Senti dor e me afastei", relatou Weslley. Ele foi levado à tenda de primeiros socorros por um amigo, localizada na Praça da República.

A advogada Carolina Fichmann contou à reportagem que está cuidando do caso. Lucas foi a uma Deatur [Delegacia Especializada em Atendimento ao Turista] no mesmo dia e registrou Boletim de Ocorrência, mas a delegada registrou somente lesão corporal no texto. Carolina informou que entrará com uma petição para requerer investigação de eventual crime de racismo.

Racismo é crime previsto pela Lei 7.716/89. A advogada explicou que o caso se enquadraria no artigo 5º da Lei: "Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a servir, atender ou receber cliente ou comprador."

"Tento até esquecer isso que aconteceu, porque marca muito a gente. Quando olhei para trás, vi um monte de funcionários, seguranças, agredindo a gente com cadeiras, pedaços de madeira. Foi muito assustador. Do nada um monte de gente vindo para cima", relatou Weslley.

A reportagem entrou em contato com o Esquina da Praça, mas não obteve retorno até o fechamento da matéria. O contato da reportagem foi deixado via telefone com uma atendente, caso os responsáveis pelo estabelecimento queiram dar o outro lado.

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