Aos 71, ritmista do Monobloco usa "porrada" na bateria para extravasar
Janaína Nunes
Colaboração para o UOL, em São Paulo
30/01/2018 04h00
Aos 71 anos, Vera Parente não quer saber mais de terapia com remédio. Quando precisa extravasar, a artista visual tem a solução perfeita: batucar. "É uma terapia limpa, alivia e alegra. E para ajudar, toco o surdo de segunda para poder dar porrada mesmo. Assim libero tudo de ruim de uma vez", dispara. Ela é a mais velha integrante do Monobloco, grupo que frequenta há quatro anos e desfila há dois anos em São Paulo.
Baiana (de Salvador) e filha de músicos, Vera sempre gostou da folia e tocava em outros blocos. "Mas no Monobloco é diferente. É uma energia, uma troca. As pessoas são ótimas, os mestres são responsáveis e didáticos. Enfim, é uma felicidade. A gente pode até chegar aborrecida, mas nada que uma porrada no surdo não mude. A gente sai relaxada. Quem dera todo mundo pudesse experimentar". Vera não falta a nenhum ensaio do bloco, que ocorre toda quarta-feira a partir de meados de abril.
A alegria de Vera é tão contagiante e ela toca com tanta concentração e prazer que ganhou o apelido de rainha. No caso, a “coroa” da baiana seria esse tambor, conhecido como o coração de uma bateria. "O peso do surdo é o peso de uma gravidez. Às vezes, as pessoas se espantam ao me ver tocando, incluindo a família, mas eu não ligo. Sou batuqueira mesmo, gosto do sereno também". No dia em que conversou com a reportagem, o marido de Vera havia passado mal. Ela correu para ajudá-lo e voltou assim que o companheiro melhorou para o ensaio. "Só vim porque ele mandou", brinca.
A família de Débora fica impressionada com sua empolgação e dedicação ao grupo. Para ajudar na postura ao carregar instrumento, ela faz academia. "Preciso fortalecer a lombar", acrescenta. Ela está presente em todos os ensaios. "É um compromisso como qualquer outro. A diferença é que é bem mais divertido. A gente sai leve daqui. A vida flui melhor. É uma vibe bem diferente de tudo que já fiz", completa.
O Monobloco surgiu no Rio de Janeiro e está comemorando 18 anos de existência. De presente ganhou uma música de Moraes Moreira, "Amor de Carnaval", que vai embalar ao lado de outras canções, a festança no Rio, em Minas Gerais e em São Paulo. Na capital paulista, o grupo (com 150 ritmistas) desfilará pela terceira vez consecutiva (no dia 4). No ano passado, ele arrastou 70 mil foliões no Ibirapuera. A ideia é repetir o feito.
"Por experiência própria, digo que é impossível não se apaixonar", completa Débora.