SXSW: influencers querem ajudar a mudar a realidade, mas precisam de marcas

Há uma revolução em curso no universo das redes sociais. Criadores engajados encabeçam campanhas e testam poder de transformação da sociedade, envolvendo sua comunidade nessa troca. É o que discutiram Tracy Sturdivant, presidente da The League, Michele Hope, sexologista e influencer, e a humorista Evelyn from the Internets, no painel "Scrollar pode nos salvar? O papel dos criadores na mudança", na quinta (14), no SXSW, o maior festival de inovação do mundo.

Criadores, influencers e artistas são aqueles que tem a revolução na mão. São eles que conseguem guiar as pessoas pelo caminho da empatia e não da apatia
Tracy Sturdivant, presidente da The League

Michelle conta que, durante a faculdade de jornalismo, tinha a intenção de ser a Dr. Ruth Westheimer do sexo, em referência à sexóloga americana da TV. Começou a fazer vídeos para o YouTube e viu que seu público estava ali. "Eu passei a acreditar que poderia transformar o mundo falando o que as pessoas não sabiam sobre sexo. Sou apaixonada por liberdade", ela decreta.

Evelyn afirma que as pessoas estão cansadas de suas próprias batalhas e não sabem por onde começar. Nesse sentido, o conteúdo que influenciadores produzem serve de luz no fim do túnel. "Humor junta as pessoas e é como se estivéssemos dizendo 'vamos partir daqui'", diz. Para isso, é preciso perder o medo de contar sua história e falar de seus traumas.

Hope concorda e conta que ter notado isso representou "uma liberdade fenomenal" em sua carreira e ajudou outras pessoas. "Recebo muitas cartas de gente dizendo que eu salvei seu casamento, que sua esposa havia sido vítima de um estupro anteriormente e, graças aos meus conselhos, ele pode entender um pouco mais sobre o que ela vinha sentindo e ajudá-la", afirma.

Ainda assim, a humorista Evelyn questiona a relevância de seu trabalho. "Quem eu estou ajudando? Quem será que anda me ouvindo?", ela se pergunta. Feedbacks de pessoas que encontra nas ruas a fazem entender que está no caminho certo. "Tenho consciência de que não vou consertar o mundo para todo mundo, mas a gente vem falando como poderíamos fazer isso", afirma.

Michelle concorda: já ouviu de um segurança que ele não entendia nada de feminismo, mas, depois de acompanhá-la por um tempo, já começava a achar que ela tem razão. "Isso é o que me move. Me faz chorar."

Posicionamento das marcas é importante

Hope é frequentemente acusada de se importar demais com a liberdade feminina. "Eu poderia ser diferente?", pergunta, contando ser frequentemente procurada por marcas interessadas em divulgar sex toys.

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Quero divulgar produtos que venham junto com posicionamento claro sobre o aborto. As marcas querem saber minha posição sexual favorita, mas não se importam com a minha posição política? Não é assim que quero trabalhar
Michele Hope, sexologista e influencer

Ela enfrenta constantes problemas com o Facebook, rede social da qual foi banida há anos por falar de educação sexual. "Não é certo que criadores que tratam do tema sexo sejam banidos por falar de um tema que não é nada além de saúde mental".

Evelyn tem vontade de desistir quando se depara com esse tipo de situação. "Eles não se importam, estão ganhando dinheiro. Se você parar, outro criador de conteúdo aparece para lhe substituir", reflete sobre a política das grandes companhias de tecnologia.

Um dos métodos de Michelle para escolher com quem vai trabalhar é ver se nas posições de liderança há pessoas parecidas com ela, que a façam se sentir representada. "Se não há ninguém que contemple essa questão, não aceito a proposta". As agências e marcas precisam entender mensagem e audiência - não dá para o dono de empresa conversar com uma influencer transgênero e errar o pronome, exemplifica. "É ofensivo e fica claro que a marca não está antenada na proposta."

Elas ainda discutiram a importância do papel do criador nos destinos políticos do país em um ano de eleição. "Há muita gente que influencia pessoas, mas não entende direito o que pode fazer. Não dá para se manter neutro afirmando que não gosta de falar de política, por que uma hora a política vai falar de você", reflete Sturdivant.

Para elas, o papel essencial do influenciador é criar um espaço seguro para o debate, em que todos se sintam à vontade. O criador e a marca precisam atuar juntos.

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Há ainda um conselho para quem sente a síndrome de impostora ao criar conteúdo: se você tem uma história verdadeira para contar, saiba que as pessoas vão ouvir.

Todo mundo gosta da jornada do herói, com altos e baixos. Às vezes penso que não me sinto encaixada porque não fui feita para estar em alguns lugares que frequento. Mas as pessoas gostam disso. Assim, não se sentem sozinhas
Evelyn from the Internets

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