De missão militar no Iraque à Nasa

Jeanette Epps, a trajetória da primeira mulher negra em longa missão na ISS

Seis meses no espaço. É esse o tempo que fará de Jeanette Epps a primeira mulher negra em uma longa missão à Estação Espacial Internacional (ISS). A astronauta deve embarcar em 2021 à bordo da nave CST-100 Starliner, da Boeing, ao lado dos colegas Sunita Williams e Josh Cassada. Para chegar à Nasa, Jeanette percorreu um longo caminho, sempre trilhado pelo estudo.
Nascida no estado de Nova York, Jeanette se destacava na escola quando o assunto era matemática e ciência. Aos nove anos, ela recebeu um elogio do irmão mais velho, que ao olhar o seu boletim disse orgulhoso: "Você pode se tornar cientista, engenheira e até astronauta". Na cabeça da pequena Jeanette, a semente foi plantada.
Reprodução/Instagram Jeanette Epps
Aos 16 anos, ela já estava decidida: iria cursar engenharia. A Nasa parecia ainda um sonho distante, até ver Mae Jemison, a primeira mulher negra a entrar no espaço, na capa da revista JET.
A identificação com Mae Jemison (foto) foi imediata. Em 1994, Jeanette se tornou mestre em Ciência pela Universidade de Maryland e, seis anos depois, doutora em Engenharia Aeroespacial.
Reprodução/Nasa
Com seu trabalho acadêmico e pesquisas em laboratórios, Jeanette chegou a trabalhar para a CIA (Agência de Inteligência Americana) como oficial de operações técnicas. O cargo a levou para uma das experiências mais marcantes de sua vida: uma missão no Iraque.
Divulgação/Nasa

Pra quem vivia dentro de laboratório, tomar a decisão de ir para o Iraque foi assustador, mas pensei: 'Tenho que fazer isso'. Fiquei lá por quatro meses e foi uma experiência que mudou minha vida, mas não é para todos. (...) Perceber que nossas guerras são travadas por filhos, maridos e esposas, que podem a qualquer momento não voltar para suas famílias teve impacto real em mim"

Jeanette Epps,
em entrevista à Elle britânica
Após a CIA, Jeanette ingressou para a 20º turma de candidatos à Nasa. Em 2009, ela e mais nove foram selecionados entre 3.500 participantes. De lá pra cá, a astronauta já passou por diversos treinamentos, simuladores de voo, instrução intensiva em sistemas da ISS e atividades sob a água para caminhadas espaciais.
Robert Markowitz/NASA via AP
Apesar do anúncio recente da Nasa, a astronauta deveria ter ido para ISS em 2018, quando foi selecionada para a missão com o foguete russo Soyuz. Meses antes do lançamento, Jeanette foi substituída pela astronauta Serena Auñón-Chancellor.
Na época, um dos irmãos de Jeanette, Henry Epps, considerou a decisão de cunho racista. "Minha irmã, Dra. Jeannette Epps, tem lutado contra o racismo opressor e misógino na Nasa e agora eles a estão permitindo que um astronauta branca tome seu lugar!", escreveu Henry nas redes sociais.
Reprodução/Instagram Jeanette Epps
A Nasa não deu nenhuma explicação sobre a substituição. A astronauta também não comentou a decisão, apenas disse que se encontrava em ótimas condições físicas e técnicas para a missão.
Reprodução/Instagram Jeanette Epps
Em depoimento à Elle britânica, Jeanette afirmou que o racismo e o machismo sempre estiveram presentes em sua vida, mas que isso nunca foi motivo para a impedir de continuar.
Reprodução/Instagram Jeanette Epps

Tive experiências bastante negativas, tanto na universidade quanto na carreira. Uma das perguntas que costumam me fazer é se tive algum problema em ser negra trabalhando com engenharia. Sempre digo que não tenho problemas com isso, mas que outras pessoas podem ter e isso é problema delas. Tomar isso pra mim é me impedir de seguir. A intenção dessas pessoas é prejudicar seu crescimento e limitar o pensamento criativo

Jeanette Epps
Sobre o período de seis meses que passará na Estação Espacial Internacional, Jeanette declarou: "Quando astronautas retornam para a Terra, vejo o quanto querem voltar para o espaço. Suspeito que comigo não será diferente".
Reprodução/Instagram Jeanette Epps
Publicado em 05 de setembro de 2020.
Reportagem: Diana Carvalho
Edição: Fernanda Schimidt