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O dia em que o Brasil ganhou da Ferrari

Por Julianne Cerasoli

Nos anos 1990, um grupo de brasileiros foi pioneiro em uma das funções mais técnicas da Fórmula-1, a telemetria. Eram Octávio Guazzelli, Fernando Bueno de Paiva, André Dallari e Ricardo Nardini. Todos com 20 e poucos anos, foram os responsáveis por criar o departamento na Minardi.
Arquivo NGD

O Giancarlo Minardi, depois de alguns anos, deu uma entrevista para os brasileiros e brincou: ?eu achava que tinha uma equipe de F1 e eles achavam que sabiam fazer telemetria?. Na verdade, a gente adquiriu esse conhecimento juntos e essa é a parte mais legal da história

Octávio Guazzelli,
que somou 105 GPs, milhares de quilômetros de testes e cinco anos de parceria
Apesar da brincadeira de Minardi, o trabalho dos brasileiros era sério. E uma história envolvendo a Ferrari prova isso. Aconteceu no final de 1990, quando a Minardi se preparava para começar a usar os motores da Scuderia...
Patrick Behar/Corbis via Getty Images
Tecnicamente, isso representaria um salto para o time, que era equipado com os motores Cosworth na época. Mas havia um custo: 12 milhões de dólares, contra oito do equipamento antigo. E mais: a Ferrari queria que a Minardi passasse a usar a sua telemetria. A um custo de mais 4 milhões de dólares.

Eles queriam o dobro do que a gente não tinha para entregar um equipamento que era, efetivamente, pior. Então, ficou acertado que a gente iria para Fiorano com nossa estrutura de pista para comparar com o sistema da Ferrari

Guazzelli
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Na pista de Fiorano, a Ferrari tinha 32 pontos de medição de telemetria. O time brasileiro da Minardi tinha apenas os dados do carro. Mesmo assim, a tecnologia brasileira foi melhor. ?Por algum motivo que eu não sei explicar até hoje, assim que o carro saiu, começou a funcionar tudo redondo para a gente. Na Ferrari, nada. Não conseguiam dado nenhum?.
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Depois do almoço, o então presidente da Ferrari, Luca di Montezemolo, disse que eles estavam satisfeitos: a Ferrari iria fornecer seus serviços, mas sem custo. E a Minardi poderia continuar usando a telemetria brasileira.
Mark Thompson/Getty Images

Até hoje me emociono porque foi uma vitória técnica. Para mim, foi o auge. Foi o apogeu da nossa competência, da nossa visão, já que a gente trabalhou muito para desenvolver softwares e sistemas

Guazelli
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Os brasileiros seguiram ligados à F-1. Guazelli, por exemplo, trabalhou em Interlagos e na Ferrari.
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Publicado em 19 de junho de 2020.

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