Fizeram História

O legado de Ruth Bader Ginsburg não pode ser esquecido

Aos 87 anos, como você se sentiria ao ver o seu rosto em tatuagens, estampado em camisetas, canecas e o seu estilo virar até fantasia de Halloween? Ruth Bader Ginsburg viveu essa experiência.
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A juíza conseguiu um feito inédito: sua atuação feminista e progressista ultrapassou o ambiente de poder da Suprema Corte dos EUA e a tornou um ícone cultural, marcando espaço entre mulheres e jovens que passaram a vê-la como referência na luta contra o avanço do conservadorismo no país.
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A morte de Ginsburg no dia 18 de setembro, causada por complicações de um câncer no pâncreas, deixou uma brecha para o fortalecimento da maioria conservadora na alta Corte. Escolhida por Trump para ocupar o lugar de Ginsburg, a juíza católica e conservadora Amy Coney Barrett (foto) pode significar um retrocesso em pautas ligadas às conquistas de direitos das mulheres, como a legalização do aborto.
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Meu desejo mais fervoroso é que eu não seja substituída até que um novo presidente seja empossado

Ruth Bader Ginsburg
Quando estava em tratamento contra o câncer, Ginsburg expressou a vontade de continuar no cargo até a próxima eleição americana, marcada para o dia 3 de novembro, acreditando na vitória do democrata Joe Biden contra Trump.
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A advogada feminista Ruth Bader Ginsburg

Nascida em 1933, no Brooklyn, Ginsburg perdeu a mãe aos 17 anos, um dia antes de se formar no colégio. "A pessoa mais corajosa e inteligente que conheci foi tirada de mim muito cedo. Rezo para que possa ser tudo o que ela teria sido se tivesse vivido em uma época em que as mulheres tinham liberdade para sonhar, trabalhar e cuidar dos filhos", disse Ginsburg durante sua nomeação à Suprema Corte.
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Aos 26 anos, Ruth Bader teve a primeira filha, Jane, após se casar com Marty Ginsburg. Nesse período, enfrentou a primeira discriminação que era comum às mulheres grávidas na década de 50: foi rebaixada de cargo em um escritório onde trabalhava como assistente social e teve o seu salário reduzido. Por conta disso, escondeu a segunda gravidez.
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Ginsburg ingressou na prestigiada Faculdade de Direito de Harvard em 1956. O curso tinha apenas nove mulheres. Em certa ocasião, o reitor da universidade chegou a reunir as estudantes e pediu para que "justificassem" o fato de terem "tomado o lugar" de um homem na instituição.
À época, situações de machismo e sexismo eram frequentes. Ginsburg chegou a perder trabalho por ser mulher e teve que batalhar para conseguir um emprego de destaque na área de Direito.
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Nenhum escritório de advocacia em Nova York me contrataria, pelo simples fato de que eu era judia, mulher e mãe.

Ruth Bader Ginsburg
A carreira de Ginsburg começa a mudar quando ela se torna professora da Universidade de Rutgers, em Nova Jersey, em 1963. No mesmo ano, forma um projeto de direitos das mulheres na União Americana pelas Liberdades Civis e passa a atuar contra a discriminação de gênero e ao pleno direito das mulheres à cidadania.
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As mulheres terão alcançado a verdadeira igualdade quando os homens compartilharem com elas a responsabilidade de criar a próxima geração.

Ruth Bader Ginsburg

O legado de Ruth Bader Ginsburg

As vitórias de Ginsburg como advogada em casos de discriminação de gênero abriram precedente para uma mudança na legislação americana. De acordo com o "The Guardian", vitórias ocorridas entre os anos de 1971 e 1976 obrigaram as leis a mudarem em todo o país.
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Grande parte da legislação familiar, tributária e financeira era composta por medidas que designavam somente aos homens salários e benefícios, enquanto as mulheres eram sempre dependentes. Em apenas cinco anos, todas essas leis foram declaradas inconstitucionais. Na época em que a Suprema Corte decidiu pela primeira vez em favor de Ginsburg, muitos bancos ainda não emitiam cartões de crédito para mulheres.
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O trabalho de Ginsburg ajudou a inaugurar uma revolução feminista que mudou a estrutura das famílias americanas e expandiu possibilidades e oportunidades na vida de muitas mulheres

Moira Donegan,
escritora e jornalista
Nomeada em 1993 à Suprema Corte, pelo então presidente Bill Clinton, Ruth Bader Ginsburg se tornou a segunda mulher indicada à mais alta Corte dos Estados Unidos, que conta com um total de nove juízes.
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Me perguntam quando haverá um número suficiente de juízas [na Suprema Corte dos Estados Unidos] e eu digo: 'Quando houver nove'. E aí, as pessoas ficam chocadas. Mas houve nove homens, e ninguém nunca levantou uma questão sobre isso.

Ruth Bader Ginsburg

"Notorious RBG"

As ações da juíza, que frequentemente discordava com opiniões fortes e diretas da maioria dos colegas conservadores, serviram de inspiração para mulheres e jovens que passaram a idolatrá-la e a lutar contra a desigualdade de gênero.
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Na internet, o sucesso veio em forma de Tumblr - uma página criada com o nome de "Notorious RBG' (um trocadilho em referência ao rapper Notorious B.I.G., morto em 1997).
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Acredito que pessoas de todas as idades ficam entusiasmadas ao verem uma mulher na vida pública que tem demonstrado que, mesmo aos 85 anos, pode ser inabalável em seu compromisso com a igualdade e com a justiça

Irin Carmon,
uma das autoras do livro "Notorious RBG", sobre a vida da juíza, lançado em 2018
Além de livro, páginas na internet, rosto estampado em canecas e camisetas, Ruth Bader Ginsburg ganhou ainda um filme inspirado no começo de sua trajetória, "Suprema" (2018). No longa, a magistrada é interpretada pela atriz inglesa Felicity Jones (foto).
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O corpo de Ruth Bader Ginsburg foi enterrado em 29 de setembro, depois de uma série de homenagens e cerimônias abertas ao público.
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Gostaria de ser lembrada como alguém que usou todo o talento que tinha para fazer seu trabalho da melhor maneira possível. E para ajudar a reparar as divisões na sociedade e tornar as coisas um pouco melhores

Ruth Bader Ginsburg
Ruth Bader Ginsburg (1933 - 2020)
Wikimedia / Wikimedia Commons
Publicado em 03 de outubro de 2020.
Reportagem: Diana Carvalho
Edição: Fernanda Schimidt

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