A certa altura de "Love Lies Bleeding", que aqui ganhou o subtítulo "O Amor Sangra", a fisioculturista Jackie liga para casa, de onde aparentemente ela partiu em termos nada amigáveis.
Seu irmão caçula atende e, em uma mistura de lágrimas e fúria, ela deixa escapar uma frase: "Nunca se apaixone".
Neste mundo desenhado pela diretora Rose Glass, o amor é instrumento de danação, de conflito, uma força dedicada a estraçalhar qualquer um em seu caminho.
Ainda assim, é um sentimento intenso e irresistível, que uma vez deflagrado se torna o centro gravitacional em torno do qual as figuras mais improváveis se entregam sem freios.
É assim, violento e inevitável, que o amor costura a vida de Jackie (Katy O'Brian) com a irascível Lou (Kristen Stewart).
Responsável por uma academia em uma dessas cidades perdidas nos cantos esquecidos dos Estados Unidos, Lou traz consigo bagagem emocional considerável.
A jovem divide segredos perigosos com o pai (Ed Harris) e carrega o fardo de defender a irmã (Jena Malone) do marido abusivo (Dave Franco).
A chegada de Jackie, nômade a caminho de uma competição de fisioculturismo em Las Vegas, é o combustível que alimenta o fogo.
São duas pessoas tragadas para o abismo pelo peso de seus próprios pecados.
Ainda assim, explode entre elas um sentimento vibrante e desafiador, que pode tanto livrá-las de uma vida torta como acelerar o encontro com um destino trágico.
Em seu segundo filme, depois da estreia surpreendente com "Saint Maud", Rose define seu estilo e exibe firmeza ao usar uma estrutura familiar para explorar a condição humana.
Apesar de elementos potencialmente conflitantes, o filme não se desdobra sobre a trama de assassinato(s), muito menos sobre o caos familiar.
Mantendo a solidez dessa estrutura está a troca generosa entre Kristen Stewart e Katy O'Brian.
Em papéis que poderiam escorregar facilmente para a caricatura, as duas atrizes constroem personagens intensas que não hesitam em gritar sua fragilidade.