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Gerseli Angeli: A "culpada" pelas banheiras de gelo

Denise Mirás
Especial para o UOL

MAIS SOBRE GERSELI
Nome: Gerseli Angeli
Área: Fisiologia
Formação: Fisioterapeuta com mestrado e doutorado em Fisiologia do Exercício
Atuação: com passagem pelo G.R. Barueri, é diretora científica do CEMAFE (Centro de Medicina da Atividade Física e do Esporte), ligado à Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), consultora de empresas basicamente para suplementos alimentares. Também atua na área de pesquisas científicas

Gerseli foi a primeira mulher a assumir o cargo de fisiologista em um clube de futebol profissional no Brasil. Não sabe se no mundo. Chegou ao Barueri para o Campeonato Paulista de 2007, com o time perto de cair. "Deram de cara comigo e houve, sim, uma certa estranheza!" Também com doutorado – em fisiologia do exercício, depois da formação em fisioterapia –, começou a trabalhar com a equipe porque o presidente Valter Jorquera queria um fisiologista – e não se importou de contratar uma mulher. É Gerseli, a "Gê", a "culpada" pelos banhos em tinas de gelo após os treinos, que do Barueri foram "exportados" para o São Paulo e depois ao Corinthians. "Acho que xingaram minha árvore genealógica inteirinha...", ri.

"Eu tinha 31 anos, cara de menina... Acho que foi na primeira vez que bati de frente com o técnico, o Sérgio Soares, uma pessoa muito bacana, que ganhei pontos. Ele me disse: 'A gente vai poder trabalhar junto, sim!'"

Quando a fisiologista chegou, o Barueri era penúltimo colocado (tinha acabado de subir e estava para cair de novo). Começou pelo diagnóstico, que mostrava jogadores mal-condicionados na preparação física, que perdiam rendimento durante os jogos. Além disso, Gerseli precisava melhorar a parte de suplementos nutricionais e ainda a recuperação muscular. O banho de imersão na banheira de gelo nasceu no Barueri.

"É para prevenir lesões. E conseguimos zerar o número de lesões, à exceção das traumáticas (provocadas por pancadas, por exemplo). Veja: o treino agride o músculo e é por isso que ele se condiciona – vai ficando mais forte. Por isso, não se faz alongamento após o treino, o que aumentaria o processo inflamatório, a dor, e as próprias lesões. Por isso, fazemos a imersão no gelo, que diminui o extravasamento de líquidos para fora dos vasos sanguíneos, ajudando como anti-inflamatório de ação local, sem efeitos colaterais como no caso daqueles que são ingeridos."

Os jogadores xingaram, reclamaram, mas depois incorporaram os banhos no gelo, as mudanças para treinos físicos a que não estavam acostumados, a suplementação pós-treino. "Foram sentindo a diferença, perceberam que, antes, estavam mal-condicionados. Um deles me falou, depois do São Paulo ter ganho de 5 a 0: 'Parecia que eu estava trombando com uma parede. E eu corria, e corria, e o São Paulo... parece que eles estavam passeando."

Boa professora, Gerseli foi explicando métodos e porquês, e reuniões e conversas proporcionavam troca de aprendizado com profissionais de outras áreas e mesmo com os jogadores. "No caso da gente, da mulher, é preciso ter postura. A partir daí, eles gostam muito de aprender, se interessam. Sempre digo: eu quero ensinar; o corpo é seu e por isso para você é importante saber."

É coisa de mulher, diz Gerseli. "A gente nasce com esse 'defeito', de querer meio que carregar no colo, querer ajudar, ter paciência, escutar. Escutar às vezes o que os jogadores custam a criar coragem para contar, como estar sentindo dor e ter medo de ficar fora. Não é puxar a brasa para a nossa sardinha, não, mas a mulher vê mais o contexto, tem percepção para ver mais o lado humano. E tem esse lado de trabalhar duro, de ser produtiva, de ter de mostrar que é boa. Às vezes vêem a gente como se fosse um ET!"

O Barueri não foi rebaixado, e os jogadores até se acostumaram a ligar para tirar dúvidas, mesmo hoje, quando Gerseli deixou o clube e presta consultorias.

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