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Jeróme Valcke beija Ricardo Teixeira em encontro dos dois no Rio de Janeiro, em 2010

Jeróme Valcke beija Ricardo Teixeira em encontro dos dois no Rio de Janeiro, em 2010

08/07/2011 - 12h00

Críticas da Fifa à Copa-2014 são teatro entre Valcke e Teixeira, diz jornalista

Gustavo Franceschini e Roberto Pereira de Souza
Em São Paulo

Andrew Jennings, jornalista da BBC inglesa, já fez críticas contra a Fifa, o COI (Comitê Olímpico Internacional) e seus dirigentes. Agora, um dos poucos repórteres vetados em eventos das duas entidades voltou sua lente de contato para Ricardo Teixeira e a Copa do Mundo de 2014. E avisa: não confia na veracidade das críticas da entidade à organização da Copa-2014. Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, o repórter escocês contou que Ricardo Teixeira, presidente da CBF, é muito próximo de Jeróme Valcke. Para ele, o duelo verbal dos dois não passa de teatro para aumentar os custos.

  • Divulgação/Panda Books

    O repórter Andrew Jennings, famoso crítico da Fifa, não crê nas críticas feitas à organização de 2014

“Nós vimos Valcke passar meses dizendo: ‘O Brasil tem de se apressar’. Isso pode ser verdade, mas eu acho que a motivação vem do amigo dele, Ricardo. Quanto mais pressão se coloca no Brasil, quanto mais falam ‘Vamos, comecem a construir, quero ver paredes crescendo’, mais fácil fica para as construtoras elevarem os custos. É nessa hora que as empreiteiras dizem: ‘Bom, estamos trabalhando com o cronograma apertado, indo o mais rápido que podemos, mas isso custa mais dinheiro’”, disse Jennings, autor do livro "Jogo Sujo", editado no Brasil pela Panda Books. 

Na conversa, o repórter da BBC ainda falou sobre a investigação de João Havelange pelo COI, que está em curso, e sobre a possível queda de Joseph Blatter. Para ele, nos próximos meses podem emergir denúncias que derrubariam o atual presidente da Fifa, especialmente no que diz respeito a compra de votos para a escolha das sedes da Copa do Mundo de 2018 e 2022.

Leia a íntegra da entrevista abaixo:

UOL Esporte: Há um mês, você disse que Blatter não duraria mais um ano na Fifa. Você continua acreditando nisso?
Andrew Jennings:
Ele tem de cair no próximo ano. Os escândalos estão muito grandes. Ele não comenta, mas o resto do mundo está comentando... Agora a Fifa está em uma situação complicada. E Blatter é responsável por isso. Ele poderia comandar melhor a Fifa, mas ele não escolheu isso. E tem mais escândalos a caminho. Ele sabe e eu sei que há mais escândalos na mira. Nós estamos esperando especialmente pela investigação da Justiça suíça sobre a corrupção [da ISL, empresa de marketing ligada à Fifa nos anos 1990 e que foi pega pagando propina a diversos dirigentes]. Em um ano, vamos saber quais são as pessoas envolvidas. Sabemos que Blatter está envolvido, sabemos que dois brasileiros estão envolvidos, isso vai vir a público, e eles vão ficar envergonhados.

ASSISTA A JENNINGS FALANDO SOBRE A RELAÇÃO ENTRE VALCKE E R. TEIXEIRA

UOL Esporte: A Justiça suíça vai mesmo liberar os nomes?
Andrew Jennings:
Achamos que eles vão, porque isso já aconteceu antes, quando o Supremo Tribunal suíço decidiu que era interesse público liberar os nomes. E eles acham que é o caso desta vez. Os promotores já disseram que sim. As três partes investigadas é que estão gastando dinheiro com advogados para evitar a divulgação. Não temos problema com o Estado, só com os caras malvados.

UOL Esporte: Existem dois brasileiros envolvidos?
Andrew Jennings:
Existem dois, e acho que vocês e maioria dos brasileiros já ouviram falar deles. Um é João Havelange, e o outro é Ricardo Teixeira. Eles são citados no relatório, admitiram ter recebido propina. Quando eles conseguiram a confidencialidade, tiveram de admitir que receberam o dinheiro e tiveram de devolver parte dele. Nós, da BBC, e outros jornais suíços, estamos pressionando para que o relatório seja divulgado. Mas eu ia achar ótimo se o governo brasileiro dissesse: ‘Nós gostaríamos de saber se tem algo contra o sr. Teixeira’. Nós [da BBC] sabemos o que há no relatório, e eles [governo] têm de saber, porque Teixeira está no Comitê Organizador.

UOL Esporte: Qual é o tamanho do escândalo da briga pelas sedes de 2018 e 2022?
Andrew Jennings:
É difícil dizer. Eu acompanho isso há mais de vinte anos, e às vezes você encontra números grandes como US$ 100 milhões. Eu não sei. O que o Qatar pode ter pago para ter a Copa de 2022? Bom, as nossas fontes nos dizem que estamos falando de US$ 1,5 milhão para alguns dos membros africanos do Comitê Executivo. Então, se eles [Qatar] tiveram dez votos, estamos falando de US$ 20 milhões. Não é tanto dinheiro para o emir do Qatar. Nós não sabemos se alguém foi pago. O que nós sabemos é que US$ 1,5 milhão foram acertados entre três membros africanos do Comitê Executivo da Fifa e as pessoas do Qatar, porque tínhamos alguém no local da transação. Nós não sabemos se o dinheiro foi pago, mas sabemos que foi negociado.

JENNINGS RESPONDE: A INVESTIGAÇÃO DO COI PODE PUNIR JOÃO HAVELANGE?

UOL Esporte: Pode ser o maior escândalo da história da Fifa?
Andrew Jennings:
É difícil dizer, porque é uma família de escândalos, todos estão relacionados. Você vê o escândalo de Mohammed Bin Hamman [candidato à presidência da Fifa que foi afastado do pleito por comprar votos], que foi pego dando US$ 1 milhão de propina para os países pequenos do Caribe no Congresso da Fifa. Aí você pensa: se Bin Hamman, do Qatar, foi pego com bolsas de dinheiro para a eleição da Fifa, o que garante que ele não fez o mesmo no processa de escolha da sede da Copa de 2022? E aí vem a Rússia. Se as pessoas da Fifa aceitaram dinheiro para eleger o Qatar em 2022, por que não aceitariam da Russia por 2018?

UOL Esporte: O COI está investigando João Havelange. Qual deve ser o resultado desse inquérito?
Andrew Jennings:
Eu acho que o COI está comprometido com uma investigação séria. Por causa dos escândalos do passado, eles tinham de mostrar que sabem lidar com escândalos. Então, eu acho que eles estão bem dispostos a expulsar Issa Hayatou, o presidente da Confederação Africana e vice-presidente da Fifa. Nós o pegamos recebendo propina e ele está na lista de pagamentos da ISL. Eu acho que Lamine Diack, presidente da Federação de Atletismo também. Provavelmente nós temos Havelange, mas eu sei o que a defesa vai dizer. Ele vai apelar: ‘Olha, eu estou muito velho, isso aconteceu há 15 anos, eu não lembro da data. Você disse que eu recebi propina? Eu não me lembro’. O que você pode fazer com um homem de 95 anos? Você não pode bater nele e dizer: “Vamos, sim, você pode lembrar”. Mas ao menos ele vai sair marcado. Ele confessou que recebeu propina. Aquilo vai envergonhá-lo.

JENNINGS RESPONDE: O ESCÂNDALO DAS SEDES DE 2018 E 2022 PODE SER O MAIOR?

UOL Esporte: Nos últimos meses vimos a Fifa, especialmente Jeróme Valcke, criticar duramente a organização da Copa do Mundo de 2014. Qual é a relação entre Valcke e Teixeira?
Andrew Jennings:
Íntima demais. Eu acho que talvez eles estejam fazendo amor juntos. Eu não me importo. É um assunto pessoal, é a vida deles. Se eles querem ser amantes, não é problema nosso. Deixa eles, essa é a uma sociedade livre. No entanto, se eles também estão lidando com o dinheiro da Fifa e o dinheiro dos impostos, então eu fico preocupado. Muito preocupado. Nós vimos Valcke passar meses dizendo: ‘O Brasil tem de se apressar’. Bom, isso pode ser verdade, talvez vocês estejam devagar. Mas eu acho que a motivação vem do amigo dele, Ricardo. Quanto mais pressão se coloca no Brasil, quanto mais falam ‘Vamos, comecem a construir, quero ver paredes crescendo’, mais fácil fica para as construtoras elevarem os custos. É nessa hora que as empreiteiras dizem: ‘Bom, estamos trabalhando com o cronograma apertado, indo o mais rápido que podemos, mas isso custa mais dinheiro’.  E o Sr. Teixeira: ‘Oh, muito obrigado. Oh, espere um pouquinho...’ [gesticula como se enfiasse dinheiro nos bolsos]. E disseram que Teixeira e Valcke passaram as férias juntos... De novo, não é ilegal, mas eu não gosto de ver que ele está apressando o Brasil para dar ao amigo dele mais dinheiro de impostos. Eu não acho essa uma situação legal. Esses conflitos não deviam estar acontecendo. 

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