CPI da Covid

As lições das senadoras para contornar o machismo

Por Camila Brandalise

Além de suspeitas de corrupção na compra de vacinas, gabinetes paralelos e defesas do 'tratamento precoce', a CPI da Covid tem também desvendado como o machismo atua na política. Na última terça, Simone Tebet (MDB-MS) foi chamada de “descontrolada” pelo ministro da CGU, Wagner Rosário.

Pedro França/Agência Senado

Depoente, Rosário foi chamado de machista por outros senadores na própria sessão e, mais tarde, se desculpou com Tebet. Apesar querer deixar o caso para trás, a senadora diz que é possível fazer “do limão uma limonada bem docinha.”

Leopoldo Silva/Agência Senado

O episódio trouxe à luz algo que realmente existe, e as pessoas precisam parar de falar que não. Não foi o primeiro. A CPI mostrou a forma como a mulher é interrompida a todo momento, as pessoas não nos deixam falar. Isso mostra como há dificuldade de reconhecer as mulheres."

Simone Tebet
GABRIELA BILó/ESTADÃO CONTEÚDO

A palavra 'descontrolada', por favor, não a usem para a mulher ao seu lado, que está trabalhando com você. Tem um caráter muito pejorativo. É como se, quando a mulher quer gritar, no sentido de defender seu direito, ela não pudesse fazê-lo.

Simone Tebet
Pedro França/Agência Senado

A CPI da Covid tem sido alvo de críticas desde o início, em maio de 2021 por não haver nenhuma mulher seus 18 membros.

As senadoras tiveram que pedir espaço ao presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), e entraram em um acordo.

Participam todas em esquema de rodízio das sessões para que uma possa se pronunciar a cada audiência. Nenhuma tem poder de voto.

Yoeml/Getty Images/iStockphoto

No dia 5 de maio, em depoimento do ex-ministro da Saúde Nelson Teich, senadores governistas criticaram o fato de as mulheres serem as primeiras a questioná-lo. Ciro Nogueira (PP-PI) bateu boca com Eliziane Gama (Cidadania-MA).

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A senadora Leila Barros (PSB-DF) ouviu algo parecido: “Calma, não precisa ficar nervosa" disse o senador Marcos Rogério (DEM-RO), quando questionava o ex-secretário de Comunicação Fábio Wajngarten.

Roque de Sá/Agência Senado

Não fique me olhando achando que vai me intimidar. Vossa excelência pensa o quê? Que vai controlar a gente?

Eliziane Gama,
após ser interrompida por Ciro Nogueira
William Borgmann/Cidadania

Não foi a primeira situação do tipo que Gama enfrentou na Comissão. Ela já ouviu de Omar Aziz um pedido de "calma" seguido do comentário de que estaria "muito agressiva".

O presidente da CPI também já a deixou falando sozinha durante uma réplica após ter sido citada por um dos senadores.

Edilson Rodrigues/Agência Senado

Os ataques são uma maneira velada de dizer que esse não é um lugar para nós, que CPI é 'briga de homem'.

Eliziane Gama
William Borgmann/Cidadania

A senadora Leila Barros (PSB-DF) ouviu algo parecido: “Calma, não precisa ficar nervosa", disse Marcos Rogério (DEM-RO), quando ela questionava o ex-secretário de Comunicação Fábio Wajngarten.

Roque de Sá/Agência Senado

Os homens aumentam o tom, chegam a ficar vermelhos de tão agressivos, mas eles não são chamados de agressivos. A mulher altera um pouco a voz, porque muitas vezes a gente altera justamente para ser respeitada, e vira a 'nervosa'.

Senadora Leila Barros
Roque de Sá/Agência Senado

Um mês depois do início da CPI, as integrantes da bancada feminina começaram a articular com líderes partidários para que fossem respeitadas.

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Queremos falar sem ser interrompidas. Queremos, como todo brasileiro, desvendar os equívocos na condução da pandemia e buscar alternativas para que o Brasil saia dessa crise sem precedentes.

Simone Tebet
Jefferson Rudy/Agência Senado

É engraçado que, quando um homem está falando alto, berra, ninguém fala que ele está nervoso. Fala que ele é macho. Quando é a mulher, está nervosa. Eles querem dizer é isso, que damos ataque, chilique.

Kátia Abreu,
senadora pelo PP-TO
Jefferson Rudy/Jefferson Rudy/Agência Senado

Nas conversas entre as 12 integrantes da bancada feminina no Senado, a indignação pelas situações de machismo são assunto diário, revelou Gama.

Yoeml/Getty Images/iStockphoto

Mesmo com o entendimento de que querem que nós deixemos de participar, vamos nos manter absolutamente firmes. Não vamos recuar um só milímetro.

Eliziane Gama
Pedro França/Agência Senado
Publicado em 27 de setembro de 2021.
Edição: Clarice Cardoso