Votar ainda é um desafio para alguns eleitores do Acre
Edilenza caminhou três horas, chegou pontualmente às 8h em sua sessão eleitoral, mas não conseguiu votar. Retornou a sua casa pouco depois das 11h para preparar o almoço para seu marido e fez todo o caminho de volta até o colégio eleitoral.
"Voto porque é obrigatório. Mas é um peso", afirmou.
Com a pele curtida pelo sol, Gilson Taliste, de 49 anos, também reflete cansaço depois de mais de duas horas esperando na sessão eleitoral do bairro 6 de agosto, um dos mais pobres de Rio Branco, capital do Acre.
"A única coisa que se pode fazer é apoiar uma perna na parede, e depois outra. E assim vai passando o tempo", conta o agricultor, que demorou duas horas de ônibus para percorrer os 110 quilômetros que separam sua casa do local de votação.
Como Edilenza e Gilson, milhares de pessoas em todo o Brasil se veem obrigadas a cada eleição a realizar longos percursos para exercer seu direito a voto, principalmente no norte do país, onde a infraestrutura de transporte é precária e muitas vezes inexistente.
Para eles, as condições pioraram ainda mais este ano porque o sistema biométrico de identificação de eleitores sofreu problemas técnicos; aumentou o tempo de espera, e levou muitos brasileiros a condenar firmemente o voto obrigatório.
"Acho que é uma covardia que o voto seja obrigatório. Cada pessoa teria que poder decidir", comenta Izaquiel Cunha da Silva, de 30 anos, enquanto duas mulheres que estão atrás dele na fila concordam com a cabeça, repetindo suas palavras.
Com 35 graus em Rio Branco, cerca de 500 pessoas tentam escapar do sol da tarde e buscam refúgio sob a marquise do colégio, enquanto os funcionários conferem os documentos nas diversas salas do prédio.
Em outra das sessões eleitorais da capital acreana, situada no parque ecológico Capitão Ciríaco, as filas e o aborrecimento dos eleitores se repete entre árvores de seringueira.
"Nunca mais vou votar. Da próxima vez pago uma multa. Mas não voto", reclama Adansinete Álvez, acompanhada por seus dois filhos.
Eleições 2014 no Acre
A poucos metros do colégio eleitoral, José Francisco descansa no pátio de sua casa, construída em madeira e onde tem um pequeno palanque para as brigas de galos que ele mesmo cria. Ele já votou, e votará sempre - diz - "seja obrigatório, ou não".
Proveniente de uma família de seringueiros, José Francisco conta que suas filhas, fruto do casamento com sua ex-mulher, são parentes do líder ecologista assassinado Chico Mendes, defensor da floresta amazônica e de seus habitantes.
"A causa de Chico Mendes foi muito relevante e tem que continuar", ressalta, apelando para a importância do voto.
José Francisco conta que neste domingo votou na candidata do PSB Marina Silva, filha de seringueiros e companheira de luta de Chico Mendes em sua juventude, embora tenha reconhecido que, em nível regional, continue apostando no PT do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.