sem carboidrato

Dieta cetogênica é segura, mas com ressalvas: veja
como fazer

O nome vem da cetose, espécie de queima da gordura induzida pelo corte radical nos carboidratos. Ao reduzir esse nutriente, que é o principal fornecedor da glicose que dá energia para as células, o organismo busca outras fontes de combustível, principalmente a gordura, que é o nutriente mais ingerido na dieta cetogênica.

 No geral, o consumo de carboidratos fica abaixo de 50 g ao dia. Para se ter ideia, normalmente nós ingerimos cerca de 200 g ou mais do nutriente diariamente.

O processo, além de usar a gordura corporal, dá origem aos corpos cetônicos, moléculas que interferem nos hormônios envolvidos no apetite, como a grelina.

Como fazer a dieta cetogênica

Não há um número exato de refeições por dia. Para induzir a cetose, é preciso que o corpo passe um tempo em escassez de carboidratos. Por isso, a dieta tem duração mínima de 2 a 3 semanas, podendo chegar a 6 meses. No geral, por conta da restrição severa, o programa dura por volta de 40 dias.

Primeiro, é preciso conversar com um profissional para entender a necessidade energética. A partir daí, ele pode ou não estabelecer um limite de calorias diário.

Durante a primeira semana, que é uma fase de adaptação, a falta de glicose para o cérebro pode provocar efeitos colaterais como mau-humor, cansaço e fraqueza. Mas depois a tendência é que o humor se estabilize e o corpo se "acostume" com a nova maneira de fabricar energia.

As verduras estão todas liberadas e a maioria dos legumes, mas vários vegetais tem que sair do prato, entre eles batatas, mandioca e a família das leguminosas: feijão, soja, lentilha, ervilha etc. As frutas 100% permitidas são abacate e coco, pois são fonte de gordura.

Alimentos permitidos

No campo das gorduras, manteiga, castanhas, azeite, castanhas e banha de porco também entram no cardápio. Além destes, carnes, peixes, frango, ovo, queijos, iogurte e açaí completam a lista dos liberados. As únicas bebidas que podem ser ingeridas são água, café e chá sem açúcar.

A dieta privilegia alimentos naturais e limita produtos processados. Não podem ser consumidos: doces, pães, macarrão, farinhas, bebidas alcoólicas, amidos, sucos, tubérculos, como cenoura, batata, mandioca, inhame, vegetais como milho, leguminosas, como feijão, soja, ervilha, grão-de-bico.

Alimentos proibidos

Por exemplo, pessoas com diabetes ou hipertensão devem ficar atentas, pois frequentemente é preciso fazer ajustes nos medicamentos. Caso contrário, há risco de crises de hipertensão e hipoglicemia por conta das alterações no metabolismo.

Sim, mas com ressalvas. Ela não pode ser feita por tempo prolongado, pois é muito restritiva. É eficaz a curto e médio prazo, mas os mecanismos fisiológicos envolvidos nela suscitam preocupações.

Dieta é segura?

Sem contar que cortar carboidratos significa deixar de ingerir vários alimentos com vitaminas e minerais importantes para a saúde, como cereais, leguminosas e frutas. A maioria dos estudos clínicos feitos até agora indica o uso de suplementos junto com a dieta cetogênica.

Já quem tem doenças no fígado ou rim não pode seguir essa dieta, pois o aumento na ingestão de proteínas e gorduras pode sobrecarregar estes órgãos. 

Por conta de todos esses fatores, apesar de segura na maioria dos casos, a dieta cetogênica não pode ser feita sem acompanhamento médico.

O alto consumo de gorduras é outro ponto a ser considerado. Ao fazer com que 90% das calorias venham da gordura, há o risco de aumento do triglicérides e colesterol, o que pode ser um problema para quem já tem níveis altos dessas moléculas.

Sim. Como os carboidratos compõem a maior parte das refeições, ao cortá-los há uma redução das calorias consumidas diariamente --que naturalmente leva ao emagrecimento. Fora isso, a cetose consome gordura corporal, o que também leva à perda de peso rápida que fez a dieta ficar famosa.

A dieta emagrece?

Só que os efeitos podem ser temporários, principalmente se a dieta for feita por conta própria. Nesse caso, a restrição abrupta pode desencadear picos de comilança que prejudicam no processo de queima da gordura.

Há ainda outros benefícios indiretos, como uma melhor ação da insulina, o hormônio que bota o açúcar para dentro das células, e diminuição da glicose em circulação, o que é bom para os diabéticos.

Há também uma ponderação sobre o cardápio. Por exemplo, de nada adianta não comer batata mas exagerar no bacon porque ele é uma gordura.

A dieta cetogênica tem seu valor, especialmente no combate à obesidade e/ou síndrome metabólica. Desde que, é claro, seja feita com acompanhamento, e tenha duração limitada de no máximo seis meses. 

Vale ou não vale fazer?

É preciso encontrar uma estratégia alimentar que possibilite a manutenção do peso perdido a longo prazo. O cuidado começa quando o período de restrição acaba, com a reintrodução gradual e muito bem controlada dos carboidratos. Sim, eles voltam!

Por fim, o grande problema da cetogênica, e de praticamente todas as dietas, é a manter os ponteiros da balança no lugar depois que elas terminam.

Reportagem: Chloé Pinheiro

Fontes: Marcella Garcez, nutróloga diretora da Associação Brasileira de Nutrologia; Maria Lourdes Teixeira da Silva, nutróloga da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo; Maria Fernanda Barca, endocrinologista doutora pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP); Andreia Naves, nutricionista diretora da clínica Nutrexx.

Publicado em 7 de janeiro de 2021