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Saul Klein montou esquema para mulheres caírem em armadilha, dizem vítimas

Pedro Lopes, Camila Brandalise e Mariana Gonzalez

Do UOL, em São Paulo

29/03/2022 04h00

"Disseram que eu ia conhecer o dono de uma agência [de modelos]. Que ele me daria o trabalho, mas queria conhecer as meninas antes. Achei que seria um estúdio, mas, quando cheguei lá, era um apartamento bem pequeno."

Quem conta essa história é Clara* (nome fictício para preservar a identidade), uma das vítimas do milionário Saul Klein ouvidas no documentário "Saul Klein e o Império do Abuso", produzido por MOV e Universa, do UOL.

Cinco delas estão no documentário e afirmam que, entre os 17 e 18 anos, caíram em uma armadilha. Primeiro, foram procuradas pelas redes sociais por mulheres prometendo dinheiro e trabalhos como modelo. "Falaram que eu iria conhecer o dono de uma agência", conta uma das vítimas.

Depois desse primeiro contato, eram levadas para um flat para conhecer "o patrão", Saul Klein. Na ocasião, ele as estuprava, segundo seus relatos.

Levadas a acreditar que aquele era um trabalho para uma pessoa importante e ouvindo promessas de que receberiam grandes quantias, eram envolvidas no esquema de abusos que se seguia a partir de então e do qual, contam, carregam traumas até hoje.

Ao todo, 14 mulheres que viveram trajetórias semelhantes depuseram em um inquérito policial que atualmente investiga o empresário por seis crimes: favorecimento à prostituição, lesão corporal por violência psíquica, estupro, estupro de vulnerável, organização criminosa e transmissão de doença venérea.

O advogado de Saul, André Boiani e Azevedo, diz ao documentário que ele não comandava uma rede de prostituição e abuso, mas, na verdade, contratava uma agência que fazia a aproximação entre ele e as jovens. Por isso, é inocente em relação às acusações. "O que ele contratava eram moças que iam aos eventos dele", afirma Boiani.

As vítimas contam que Saul se atraía por um perfil específico: "meninas novinhas que se vestem e falam como criança", diz uma jovem. Algumas vinham de outros estados e eram sempre magras, brancas e de famílias muito pobres.

"Ele usava dinheiro e presentes como moedas de troca para manipulá-las e mantê-las por perto", observa a advogada Marina Ganzarolli, fundadora do Me Too Brasil.

Uma das vítimas contou que, quando foi se encontrar com Saul, andou de táxi pela primeira vez: "Nunca tinha visto tanto dinheiro, minha mãe era empregada doméstica, ganha um salário mínimo".

Em algumas ocasiões, durante contato sexual com o empresário, elas dizem que pediam para parar e choravam, mas eram repreendidas pelas "mais velhas", como eram chamadas as aliciadoras de Saul Klein — entre elas Ana Paula Fogo, a "Banana", que também aparece no documentário.

"Quando uma das meninas questionava o que estava acontecendo, tinha eu e outras [mulheres] mais velhas dizendo que não [era abuso]", afirma Ana Paula.

As vítimas dizem ter frequentado a casa de Saul em Alphaville, bairro nobre de Barueri (SP), e um sítio na cidade de Boituva (SP), onde ele promovia festas com dezenas de garotas. Uma delas conta que, nessas ocasiões, elas tinham que usar roupas infantilizadas e ficar em círculo em volta dele, aplaudindo e fazendo elogios, enquanto ele passava beijando uma a uma na boca.

Motoristas, assistentes — todas mulheres, que presenciavam episódios de violência sexual —, seguranças e outros funcionários trabalhavam, segundo as vítimas, para manter o esquema em pé e normalizar os abusos. "Não foram adultas, profissionais do sexo. Ele pegava uma menina de 17, 18, 19 anos e fazia ela parecer ter dez. E não era ele sozinho. É uma rede montada para satisfazer um homem. E ele [Saul] banca tudo isso", diz uma das garotas.

A série documental "Saul Klein e o Império do Abuso", com três episódios, já está disponível no YouTube de MOV.doc.

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