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A Despedida de Guga das Quadras

Paris marca início e fim de carreira gloriosa e dolorosa de Guga

Antoine Morel
Em Paris

Há 11 anos, Gustavo Kuerten virava um herói nacional ao bater sete adversários em duas semanas e ser o primeiro brasileiro na era moderna do tênis a conquistar um torneio de Grand Slam. Com apenas 20 anos e cabelos de sobra, Guga virou a paixão dos franceses também depois do título de Roland Garros de 1997. A ligação com a cidade francesa perduraria até o final da carreira, quando decidiu após esgotar as possibilidades de se manter em alto nível bem fisicamente, por conta de lesão crônica no quadril, se aposentar justamente em Paris, em 2008.

Reuters

Guga beija a taça de Roland Garros em 2001, o seu último Grand Slam

FOTOS DE SUA CARREIRA
ANO RANKING ATP TÍTULOS
2008 1.140º Lugar 0 Títulos
2007 680º Lugar 0 Títulos
2006 1078º Lugar 0 Títulos
2005 293º Lugar 0 Títulos
2004 40º Lugar 1 Título
2003 16º Lugar 2 Títulos
2002 37º Lugar 1 Título
2001 2º Lugar 6 Títulos
2000 1º Lugar 5 Títulos
1999 5º Lugar 2 Títulos
1998 23º Lugar 2 Títulos
1997 14º Lugar 1 Título
1996 88º Lugar 0 Títulos
1995 187º Lugar 0 Títulos
1994 421º Lugar 0 Títulos
1993 665º Lugar 0 Títulos

Saiu do circuito por cima, com a quadra Philippe Chatrier, a principal do complexo de Roland Garros, lotada e com Guga sendo saudado pela torcida em vários momentos. O brasileiro foi derrotado por Paul-Henri Mathieu em três sets, mas foi aplaudido de pé pela torcida e recebeu um pedaço da quadra como recordação.

Durante o confronto, o ex-número um se emocionou várias vezes e saiu com a sensação de dever cumprido. "Fiz tudo que eu queria. Saquei bem, fui para rede. Eram estes sentimentos que estava buscando aqui. Foi um objetivo alcançado, proporcionar um bom nível de tênis", explicou, após a partida.

Nos 13 anos de carreira profissional, a França teve o prazer de ver os principais momentos de Guga. Seja em bons momentos, como nas vitórias contra Thomas Muster, Juan Carlos Ferrero ou Michael Russell, ou em maus, como na derrota para Marat Safin em 1998 ou nas dores sentidas a partir do torneio de 2000.

Após perder o jogo de despedida para o francês Paul-Henri Mathieu, Guga admitiu os momentos distintos de sua trajetória. "Eu entendo que minha carreira se dividiu em dois caminhos. Um estágio da carreira foi de sucesso e pude chegar nos objetivos que queria. No segundo, foi extremamente difícil. Mas, ao mesmo tempo, para mim, foi importante viver esses anos, para crescer como pessoa, para entender o que são outros objetivos", explicou.

Antes da primeira operação no quadril, em 2002, era comum ver o brasileiro ser atendido por médicos na quadra por conta da lesão. As dores eram anteriores até ao período de 43 semanas na liderança do ranking mundial, feito nunca alcançado por um tenista nacional. O saibro de Paris ficou marcado, mas Guga se firmou na liderança com títulos em outros pisos – a grama, porém, ficou faltando.

Idolatrado pelas conquistas, o catarinense ganhou mais prestígio ainda ao mostrar como vivia com a família e a relação que tinha com a avó Olga e o irmão Guilherme. O jeito humilde ficou exposto após os títulos, e ele conquistou milhares de fãs no Brasil em um status só antes visto fora do futebol por Ayrton Senna na F-1.

Para Guga, a relação ajudou no seu jeito de ser. “Eu acho que aprendi muito com meu irmão. Eu aprendi que não preciso estar nas melhores colocações do ranking para estar feliz”, explicou o atleta um dia antes da aposentadoria nas quadras parisienses. O auge no circuito não durou muito. A partir de 2004, na segunda cirurgia no quadril, o fim se iniciava.

As três temporadas seguintes, em 2005, 2006 e 2007, Kuerten se arrastou nas quadras. Teve pouco sucesso como antes e fazia pausas para tentar melhorar a forma física. Sem sucesso. Nada lembrava o glorioso Guga que em 2000 fez o que quis no circuito: obteve cinco títulos (entre eles, Roland Garros e a Masters Cup), foi a duas finais e levou, de quebra, o Brasil à semifinal da Copa Davis.

Foi na equipe brasileira que o ídolo tomou uma das únicas posições políticas na carreira e decidiu, em 2004, que não jogaria mais na competição por países enquanto o então presidente da Confederação Brasileira de Tênis estivesse no comando. A postura fez o time ser rebaixado, mas Guga teve o apoio de outros tenistas.

Neste tempo, teve respaldo também do técnico Larri Passos, seu mentor desde o início da carreira. Os dois tiveram uma breve separação, mas voltaram à parceria no final de 2006, quando a aposentadoria começou a dar forma. Em 2007, após um começo de muitos jogos no primeiro trimestre, o tenista viu muitas derrotas e ainda sentiu dores. Jogar duplas foi uma alternativa para se manter no circuito. Titular da equipe brasileira nas parcerias da Davis, desde que tinha chegado ao topo, ele tentou em vão as vitórias e anunciou o fim no começo de 2008.

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