Escaldado com a Copa, governo tira legado da Olimpíada de lista de obras

Aiuri Rebello e Vinícius Konchinski

Do UOL, em Brasília e no Rio de Janeiro

Para evitar o desgaste político, as críticas e o vexame internacional gerado por atrasos, mudanças, desistências, denúncias e outros problemas no cronograma de obras do chamado legado da Olimpíada do Rio em 2016, a APO (Autoridade Pública Olímpica) decidiu não se comprometer e não incluiu nenhuma obra de mobilidade urbana -- ou qualquer outra de infraestrutura que não seja específica para os Jogos -- na Matriz de Responsabilidades Olímpica. O documento, que reúne a lista de todas as obras, assim como seus custos e quem paga a conta, necessárias para os Jogos Olímpicos foi divulgado na manhã desta terça-feira (28), no Rio de Janeiro.

A estratégia é diferente da adotada para a Copa do Mundo e tenta evitar o má impressão deixada pela não conclusão de grande parte das intervenções programadas a tempo. A Matriz de Responsabilidades do Mundial de futebol da Fifa trouxe, desde sua primeira versão em 2010, um plano ambicioso de reestruturação nas 12 cidades-sede do evento.

Além dos estádios, estava prevista a construção de VLTs (Veículos Leves Sobre Trilhos) em quatro capitais, diversos BRTs (espécie de corredor expresso de ônibus), mais a reforma e ampliação dos 12 aeroportos das sedes, requalificação de vias e avenidas e a reurbanização de algumas áreas. Hoje, a menos de cinco meses do inicio do Mundial, cinco estádios não estão prontos (todos deveriam ter sido entregues em dezembro) e a maior parte das obras de mobilidade urbana e infraestrutura não saiu do papel ou não serão terminadas a tempo da Copa.

Na Olimpíada, a Matriz traz apenas os projetos dos complexos esportivos e a vila olímpica necessários para os Jogos de 2016 -- uma lista com 52 obras. Dessas, menos da metade, ou 24 iniciativas, possuem um orçamento total definido no valor de R$ 5,6 bilhões. É como se a Matriz da Copa tivesse saído apenas com a lista de obras de estádios, até agora estimados em R$ 8,1 bilhões. A maior parte destas gastos, tanto na Copa como na Olimpíada, é pago com financiamento, renúncias ou investimento da União, Estados ou municípios.

Como não estão dentro da Matriz -- tudo o que está na lista teoricamente tem de estar pronto até junho de 2016 -- as obras não necessariamente têm de ser entregues até os Jogos do Rio, apesar de o governo federal afirmar que trabalha para isso. Desta forma, não será possível dizer que obras de infraestrutura e mobilidade urbana estão atrasadas, como acontece agora com as da Copa. De acordo com o governo uma nova lista de obras, desta vez com a parte do legado, será divulgada em março, separadamente dos projetos tidos como olímpicos. 

Faziam parte do dossiê de candidatura do Rio de Janeiro a sede dos Jogos -- ou seja, estavam prometidas para 2016 -- a ampliação do Metrô para a Barra da Tijuca, a construção de pelo menos dois corredores de BRT, melhorias no aeroporto internacional do Galeão, despoluição da Baía de Guanabara e revitalização da zona portuária da cidade, entre muitos outros projetos.

Só Olimpíada

"A Matriz de Responsabilidades só contem obras que estão sendo feitas exclusivamente para Olimpíada, tudo o que não seria feito se não houvesse os Jogos Olímpicos no Rio", afirma o general Fernando Azevedo e Silva, indicado pela presidente Dilma Rousseff no final do ano passado para comandar a APO. O órgão tem a função de coordenar os esforços da prefeitura, governo estadual e federal para a preparação dos Jogos Olímpicos.  

Para o secretário-executivo do Ministério do Esporte, a versão "enxuta" da Matriz da Olimpíada é fruto de um aprendizado com o Pan-Americano de 2007 e e a Copa de 2014. "Precisamos nos comunicar de forma mais clara, aprendemos isso na Copa", diz ele. "Dividimos em duas partes: o que será feito exclusivamente para os Jogos e o que seria feito independentemente da Olimpíada, mas foi acelerado". Ficaram de fora da lista de obras obrigatórias para as olimpíadas mesmo instalações essenciais para o evento, como a reforma do laboratório de testes antidoping do Rio, Ladetec..

A obra foi prometida para a Olimpíada. O laboratório de análise química da Faculdade de Química da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) era o único credenciado pela Wada (agência internacional antidoping) no Brasil. No segundo semestre do ano passado, foi descredenciado após uma série de erros em exames. O novo Ladetec está em construção, mas o TCU (Tribunal de Contas da União) já detectou irregularidades nas obras e há dúvida se haverá tempo de entregar a obra e recredencia-lo antes do início dos Jogos.

Outra obra já anunciada que não ficará pronta até 2016 é a construção de uma linha de BRT ligando o centro do Rio de Janeiro ao Complexo Deodoro, na zona norte, onde serão disputadas 11 modalidades olímpicas. Para chegar lá, o público dependerá de linhas especiais de ônibus que circularão apenas no evento e da SuperVia, concessionária de trens metropolitanos no Rio de Janeiro que repetidamente tem apresentado problemas graves. Na semana passada, um trem descarrilou e 600 mil passageiros ficaram sem trem um dia útil inteiro.

Mais variado

A parte esportiva do legado da Olimpíada é mais variada que a da Copa, que consiste apenas em estádios e centros de treinamento de futebol reformados. Ficam para a cidade-sede dos Jogos Olímpicos parque aquático, ginásios e complexos esportivos de diversas modalidades, todos públicos. Para os Jogos Pan-Americanos que a capital fluminense recebeu em 2007, foram construídos um velódromo e o Parque Aquático Maria Lenk, no Barra da Tijuca. 

Nenhum deles, porém, atende as exigências olímpicas. O velódromo do Pan já foi demolido e outro está em construção. Deve custar R$ 136,2 milhões, segundo a Matriz. Um parque aquático temporário de cerca de R$ 218,3 milhões de dinheiro público será construído para a Olimpíada. 

As obras esportivas estão dividas entre o Parque Olímpico da Barra, Complexo Deodoro, Região de Copacabana e do Maracanã. Investimentos no Parque Olímpico da Barra e na Vila Olímpica serão basicamente tocados com recursos privados, via PPP (Parceria Público Privada).

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