Chefão do COI recusa mordomias e leva chá de cadeira em visita ao Brasil

Aiuri Rebello e Vinícius Konchinski

Do UOL, em Brasília e no Rio de Janeiro

  • Alan Marques/ Folhapress

    Dilma se reúne com o novo presidente do COI, Thomas Bach, em Brasília na terça-feira (21): simpatia mútua

    Dilma se reúne com o novo presidente do COI, Thomas Bach, em Brasília na terça-feira (21): simpatia mútua

Teve de tudo na primeira visita oficial do novo presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional), o alemão Thomas Bach, ao Brasil. Ao contrário de muitos dirigentes esportivos e chefes de Estado, Bach surpreendeu ao fazer um estilo mais popular, recusando privilégios e tentando ao máximo vivenciar o cotidiano das cidades que visitou - o presidente do COI até topou com bom humor almoçar um pão de queijo e um pão de batata devido à agenda corrida. A estada do alemão no país teve correria para não perder voos, dia de caos no Rio de Janeiro e até chá de cadeira antes de reunião. 

O dirigente ficou menos de 48 horas no país -- chegou na manhã de terça-feira (21) e embarcou de volta para a Europa na noite de quarta-feira (22) -- e passou por três cidades: Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro.

Oficialmente a visita era apenas de protocolo, já que Bach foi eleito em setembro e ainda não conhecia a presidente Dilma Rousseff. Na prática, enquanto o novo presidente do COI atraía a atenção por onde passava, seus assessores técnicos fechavam alguns detalhes sobre os preparativos para os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro.

Apesar da correria e confusão em alguns momentos da programação e ainda haver muitas indefinições e dúvidas na organização das olimpíadas -- orçamento final e responsabilidades do governo, atrasos em obras, prazo apertado para validação internacional de um novo laboratório antidoping e por aí vai -- assessores próximos ao alemão garantem que ele vai embora um feliz e satisfeito com o que viu e ouviu, apesar de algumas preocupações.

Nos dois dias que durou a visita oficial, a reportagem do UOL Esporte acompanhou a comitiva do COI, em Brasília e no Rio de Janeiro. Veja abaixo alguns bastidores da passagem de Bach pelo Brasil.

Franciscano

Para chegar ao Brasil e nas viagens entre São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro, Bach fez questão de não alugar e nem voar de carona em jatinhos executivos, apenas em aviões de carreira normais. Por causa disso, ele quase perdeu na terça-feira o voo da Gol que o levaria da capital federal à fluminense. O compromisso no Palácio do Planalto terminou por volta das 13h30, pelo menos uma hora depois do previsto inicialmente.

Como o avião partia por volta das 14h40, Bach e sua comitiva correram para o aeroporto internacional Juscelino Kubitschek, que está em obras, enquanto o ministro do Esporte ainda fazia seu pronunciamento. Atrasados, não tiveram tempo de almoçar e, para não ficar em de estômago vazio, o presidente do COI acabou comendo antes de embarcar um pão de queijo e um pão de batata.

Sala de espera

Logo em seu primeiro compromisso oficial no Brasil, o presidente do COI teria esperado por quase uma hora e meia no Palácio do Planalto em Brasília para conhecer a presidente Dilma. A reunião estava marcada para às 11h de terça-feira. O alemão desembarcou naquela manhã em São Paulo, seguiu direto para a capital federal e conseguiu chegar no horário com sua comitiva ao palácio, onde estava o presidente do Comitê Organizador dos Jogos Rio-2016, Carlos Arthur Nuzmann, e pelo menos três ministros.

Mas a presidente teria aparecido só quase às 12h30 para a reunião. Jornalistas que esperavam o pronunciamento após o encontro ficaram surpresos ao descobrir, por meio da assessoria de imprensa do Planalto, que a reunião ia começar apenas naquele horário. Por volta das 13h30, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, e Bach desceram para falar com a imprensa.

Após o evento, assessores tanto da Presidência da República quanto do COI negaram que o "chá de cadeira" tenha ocorrido. De acordo com a versão oficial, o que teria acontecido foi uma quebra de protocolo por parte da presidente Dilma Rousseff. Ela teria chegado pontualmente para a reunião às 11h e ido para uma sala reservada com Bach, o ministro das Relações Exteriores, Luís Alberto Figueiredo, e o ainda ministro da Educação e futuro Ministro da Casa Civil, Aloisio Mercadante. Após pelo menos uma hora, o grupo teria voltado para a sala onde estava o resto dos participantes, onde foi feita nova rodada de conversas, desta vez com todos.

  • Thomas Bach (com a bola) aproveitou para conhecer o Maracanã

Boa impressão

Independentemente de ter havido "chá de cadeira" ou não, o fato é que Bach volta para casa com uma boa impressão da presidente Dilma Rousseff. De acordo com membros de sua comitiva no Brasil, ele ficou impressionado como Dilma possuía muitas informações técnicas sobre os preparativos dos Jogos. O alemão esperava apenas trocar sorrisos e posar para fotos no Palácio do Planalto mas saiu de lá feliz, confiante e mais tranquilo sobre os Jogos do Rio. Segundo participantes do encontro, Dilma também parece ter gostado do presidente do COI e eles se entenderam muito bem.

 

Dia de caos

Bach queria fazer de carro a visita às obras da Olimpíada no Rio de Janeiro nesta quarta-feira, antes de ser convencido por Nuzman a percorrer o trajeto de helicóptero, conforme mostrou o UOL Esporte. Segundo o presidente do Comitê Rio-2016, não daria tempo de ver tudo por causa do pouco tempo e do trânsito.

Ontem o Rio de Janeiro viveu um dia de caos, e Bach viu tudo do alto. Um trem da Supervia, concessionária dos trens metropolitanos da capital fluminense, descarrilou no início da manhã, paralisando todo o sistema. As composições voltaram a circular apenas do final da tarde, o que complicou muito o trânsito na cidade e a vida do trabalhador que depende dos trens para se locomover e teve de substituí-lo por ônibus. O problema afetou pelo menos 600 mil passageiros da concessionária, que ficaram sem trem.

As linhas da Supervia serão a principal ligação de transporte público do resto do Rio de Janeiro até o Complexo Deodoro, em construção na zona norte, onde serão disputadas 11 modalidades durante a Olimpíada. Já foi anunciado que uma linha de BRT que ligaria o complexo esportivo ao centro da cidade -- inicialmente prevista para estar pronta até 2016 -- não será feita a tempo.

Nos vemos em breve

Por animação sincera ou dever protocolar, o alemão convidou a presidente Dilma para conhecer a sede e o museu do COI em Genebra, na Suíça. Dilma aceitou prontamente, mas disse que infelizmente não haveria tempo de fazer a visita desta vez. Ela embarcou na noite de quarta-feira (22) para o país europeu, onde participa de uma reunião sobre a Copa com o presidente da Fifa, Joseph Blatter, nesta quinta-feira (23). A presidente também é uma das convidas para o Fórum Econômico Mundial, em Davos, também na Suíça. Apesar disso, Dilma teria se comprometido a voltar lá.

'Tempo é a chave'

No curto pronunciamento que fez à imprensa em Brasília, na terça-feira, Bach repetiu a frase "o tempo é a chave do sucesso para os jogos" pelo menos três vezes. Apesar do foco e pressa para que os preparativos para da Olimpíada de 2016 ganhem ritmo e cumpram os prazos necessários, o alemão cometeu um ato falho: "Tenho certeza que a partir dos próximos meses e nos próximos quatro anos veremos um dinamismo cada vez maior na preparação dos Jogos", declarou ele após dizer que Dilma havia garantido que os preparativos seriam acelerados. Falta pouco mais de dois anos para o início da Olimpíada do Rio. No Blog do Planalto, o trecho da "reportagem" que reproduz esta frase foi editado para retirar a gafe.

Estamos juntos

Na manhã de quarta-feira, Bach reuniu-se com representantes das marcas nacionais que já fecharam contrato de patrocínio para os Jogos do Rio -- Bradesco, Sadia, Batava, Embratel, Claro e Skol, entre outros. Apesar de ainda não ter fechado o contrato, participou da reunião também representante dos Correios. O patrocínio da estatal às olimpíadas será anunciado nesta sexta-feira (23). De acordo com o COI, cerca de 50% de todas as cotas, mundiais e nacionais, já foram vendidas.

Algo para anunciar

Paralelamente à agenda oficial cumprida por Bach, técnicos do COI sentaram com o ministro do Esporte e seus assessores e a chefia do COB para definir, afinal, o orçamento do evento. Nesta quinta-feira será divulgado o orçamento parcial da Olimpíada de 2016. Apenas a parte privada, que inclui os investimentos feitos pelo COI e Comitê Rio-2016 nos Jogos, sem contrapartida governamental (entenda-se União, governo e município do RJ). A divulgação da Matriz de Responsabilidades Olímpicas -- documento que trará enfim o orçamento completo com a lista com todas as obras necessárias para as olimpíadas, prazos, custos e quem paga qual parte da conta -- está prevista para o dia 28 de janeiro, na semana que vem.

Boa praça

Por onde passou, o novo presidente do COI distribuiu sorrisos, cumprimentos e simpatia. Antes de deixar o Comitê Organizador da Olimpíada, fez questão de cumprimentar funcionários de todas as áreas do órgão, e ainda parou para dar um adeus especial às recepcionistas da entidade. Com os jornalistas que o "perseguiam", foi sempre solícito e nunca deixou de responder a uma pergunta. Ao responder sobre suas impressões sobre o Rio, ele disse que "é uma cidade fantástica". Em Brasília, já havia dito que os Jogos irão deixar uma cidade mais bonita e melhor para trás, "como se isso fosse possível", gracejou.

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