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15/02/2010 - 07h02

Novas regras forçam adaptações no judô e até luta tradicional vira solução

Bruno Doro
Em São Paulo

A Federação Internacional de Judô está usando, desde o fim do ano, regras mais rígidas. Os quimonos foram regulamentados, os golpes também. Pegadas de perna, que fizeram a fama do judô do leste europeu, foram banidas. Agora, judoca que tentar um golpe colocando a mão na perna do rival é eliminado. Nada de advertência ou pontuação contra. Pegou na perna, perdeu a luta.

PASSO ATRÁS PARA O JUDÔ?

A mudança de regras não foi uma unanimidade no judô nacional. Flávio Canto, medalhista de bronze em Atenas-2004, por exemplo, não gostou. Ele é um dos que precisará mudar seu estilo de luta para se adaptar, mas suas reclamações são bem mais amplas.

“A influência de outras lutas foi considerada negativa, mas é a evolução do esporte. Falaram que estão em busca do judô mais bonito, mas a beleza é relativa nesse caso. O surfe passou por isso. Quando uma geração chegou com os aéreos, os juízes não sabiam o que fazer. Porque, de acordo com as regras, eram as linhas mais clássicas que valiam mais pontos. Hoje, o esporte consegue englobar as duas escolas. E o judô fez o contrário. Está eliminando as influências de outras lutas. Isso pode acabar com o esporte em países como a Geórgia”, analisa o judoca, de 34 anos, em seu quinto ciclo olímpico.

Técnico da Sogipa, Kiko Pereira tem a mesma opinião. “Essas mudanças vão contra a disseminação do judô no mundo. Você está eliminando a transferência de conhecimento entre modalidades. E privilegiando técnicas que são muito mais complexas e de aprendizado mais lento. As novas regras beneficiam quem já tem o conhecimento, não quem quer aprender”.

A decisão radical fez com que métodos de treinamentos mudassem e, atletas que antes seriam considerados favoritos, voltassem ao tatame para treinar novas técnicas. É o caso de Flávio Canto. “Não digo que terei de aprender a lutar judô de novo. Mas são mudanças muito grandes. Eu não gostei, mas essa é só minha opinião”.

Solução tradicional

Apontada como uma das grandes prejudicadas, a Geórgia, duas vezes campeã mundial por equipes (2006 e 2008), já preparou uma maneira de contra-atacar: o chidaoba. Luta nacional do país, ela é uma espécie de judô sem quimonos, em que é proibido aplicar golpes nas pernas com os braços.

“É injusto o que dizem, que o judô da Geórgia depende das catadas de perna. É claro que temos atletas muito bons que têm essa característica. Nestor Khergiani é vice-campeão olímpico e mundial e vai sofrer. Mas ele já está com 34 anos. Os mais jovens não terão problemas. O chidaoba é uma luta popular, todo geórgio pratica. E agora vai ser muito útil nessa adaptação”, diz Zura Usupashvilli, que trabalha com a confederação do país.

Outras nações, porém, já sentem a mudança. Na Rússia, a mistura entre o judô e outras lutas é comum. O maior exemplo é o sambo, que une elementos do judô e da luta greco-romana. “Por lá, os atletas do sambo vão para o judô para poder lutar nas Olimpíadas”, conta Kiko Pereira, técnico da Sogipa, do Rio Grande do Sul.

“Os países do leste europeu certamente vão sofrer. Mas é uma questão de adaptação. Já estamos sabendo de treinos em que eles treinam os mesmo golpes que antes eram feitos com catadas de perna sem pegar as pernas”, completa Pereira.

Para o treinador, observações como essa são importante. Afinal, ele será o responsável pela transição de João Derly para o “novo judô”. O gaúcho bicampeão mundial é apontado como o maior prejudicado, no Brasil, pelas mudanças. “É uma questão de talento. E o João é um atleta talentoso. Talvez demore um pouco mais, mas ele tem todas as condições de conseguir resultados expressivos novamente”, diz Kiko.

Interpretação

Apesar da mudança estar valendo desde janeiro, a interpretação da regra ainda não é uniforme. Usupashvilli acompanhou a delegação da Geórgia no Grand Slam de Paris, na próxima semana, e percebeu diferenças. “Os critérios ainda são diferentes. Os juízes não tiveram um comportamento uniforme”, diz.

Por isso, os técnicos no Brasil também vão tratar de analisar o comportamento dos árbitros. “A regra é para todo mundo, mas existem diferenças de interpretação. A mesma regra pode ser aplicada mais rápida por um juiz do que por outros. Por isso mesmo, assim que meus atletas voltarem, vou conversar sobre isso, para passar o conhecimento para todos da equipe”, fala Floriano de Almeida, técnico do Minas Tênis, que trabalha com Luciano Corrêa, Érika Miranda e Ketleyn Quadros, trio da seleção.
 

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