! Folclórico Israel de Jesus clama para si status de revolucionário - 26/01/2007 - Pelé.Net - Revista
UOL EsporteUOL Esporte
UOL BUSCA


  26/01/2007 - 09h11
Folclórico Israel de Jesus clama para si status de revolucionário

Bruno Thadeu, especial para o Pelé.Net

SANTOS - Compositor, instrumentista, "manager" de futebol, técnico inovador, revolucionário. Tudo isso reunido num homem só. Citando Arnold Schwarzenegger e Santos Dumont, o folclórico Israel de Jesus, hoje cérebro e coração da Matonense, clama o reconhecimento da opinião pública em torno de sua genialidade ainda desconhecida do mundo. Para isso, acredita ardorosamente em suas duas armas: a música e o excêntrico esquema tático denominado "roleta".

FRASES DE ISRAEL DE JESUS
Divulgação
Técnico Israel de Jesus, na capa de seu cd
"Alguns me chamam de maluco, mas o Santos Dumont também era chamado de louco quando quebrava telhados".
"Acham estranho uma pessoa tentar revolucionar o futebol e a música. O Arnold Schwarzenegger não era um excelente ator e agora virou governador?".
"O pessoal vai ficar de boca aberta quando a Matonense estrear no Paulista. O adversário não vai entender nada".
"Já foi o tempo em que Cafu e Roberto Carlos passavam a vida inteira como laterais. Jogador não tem posição fixa comigo. Não digo que o Muricy está me copiando, mas ele usa o Souza em várias posições, como na roleta".
"Me expulsaram da Portuguesa só porque eu toquei banjo no vestiário".
O presidente e treinador da Matonense afirma ter trazido o samba ao futebol na tentativa de revolucionar o mundo da bola, carente de inovações táticas. Israel de Jesus promete inovar o conceito de disciplina tática com a apresentação do sistema batizado de "roleta", cujo diferencial em relação aos demais esquemas é a ausência de posições determinadas em campo.

A base do esquema de jogo futurista é extraída de ensinamentos da música. O recurso não surgiu à toa. Israel também é cantor e banjonista. Ele lançou seu sexto álbum, intitulado "A Força do Amor", que reúne canções de samba, pop, rap e hip-hop, além de um videoclip. As faixas musicais estão disponíveis gratuitamente na página oficial do clube interiorano.

Da música, Israel conta que absorveu para os gramados o poder de improvisação, a originalidade e a versatilidade, elementos vitais para a formação de um futebolista. Música e futebol têm tudo a ver, avalia.

"A idéia da roleta não veio do carrossel holandês [seleção da Holanda da década de 70]. Me inspirei na música para investir nesse esquema. O brasileiro é mestre na arte de criar. O Chico Science botou maracatu no rock, a Elis Regina inovou a MBP com maestria também. O mesmo músico grava samba e grava rock. Quero essa versatilidade no futebol. O jogador precisa ter todo o campo para apresentar seu talento. Não pode ficar numa área restrita. No futebol atual, ele 'nasce' com a camisa 4 e termina com a mesma numeração. Isso já era", argumenta Israel do Carmo, assim chamado no meio artístico.

Os jogadores da Matonense alternarão ao longo dos 90 min as funções de defensor, armador e finalizador. Apenas o goleiro fica fora da roleta. Para confundir ainda mais o rival, a numeração não segue os padrões do futebol. Um atleta de característica ofensiva pode utilizar a camisa 3, vestida habitualmente por zagueiros.

PLÁGIO DE MURICY NO SÃO PAULO
Divulgação
Técnico Israel de Jesus, à beira do campo
Esperando o sucesso de seu esquema tático, Israel de Jesus tratou de patentear a roleta e espera ser lembrado pela invenção. Segundo ele, o técnico Muricy Ramalho, do São Paulo, já teria "clonado" a roleta, embora não tenha pedido autorização ao criador.

"O esquema sem posição fixa está todo ele registrado no Rio de Janeiro. Dizem que sou louco por insistir na tática, mas o Muricy, por exemplo, já vem adotando o meu esquema de jogo. Ele usa o Souza em vários setores. Não penso em processar alguém por copiar o meu esquema. Quero apenas que o torcedor associe essas estratégias ao Israel de Jesus", comenta o visionário treinador.

"Jamais o Leão, Luxemburgo ou Muricy vão admitir que um dia copiaram ou copiarão o Israel. Mas já fico feliz em saber que estou empenhado em mudar o futebol", finalizou.
Com pretensão de abalar a estrutura do futebol mundial, Israel também almeja incrementar o samba. Paralelamente à vida de patrão e técnico da Matonense, ele concilia a carreira musical. Israel já fez parte do grupo Exaltasamba e produziu álbuns de diversas bandas do gênero, dentre elas o Katinguelê.

"Eu procuro pensar sempre à frente, seja no futebol ou na música. Esse é o meu jeito. Coloquei o banjo no samba, deu certo, mas também encontrei resistência na música, igual ao futebol. Acontece que a cultura brasileira é contrária a qualquer evolução", aponta.

Ansioso por colocar em prática a roleta, Israel conta os dias para estréia da Matonense na chamada segunda divisão de São Paulo -mas que equivale à quarta divisão. O time de Matão fará seu primeiro jogo no dia 8 de abril, embora a Federação Paulista de Futebol ainda não tenha definido o rival e nem o local da partida.

"O pessoal vai ficar de boca aberta quando a Matonense estrear no Paulista. O adversário não vai entender nada. O Paulista nem começou e já temos convite para fazer jogos na Coréia. Eles sabem que o brasileiro entende de bola e agora querem aprender conosco o lado tático", disse Israel, que tocará banjo na preleção dos jogos como parte da estratégia de união do plantel.

De acordo com o criador da "roleta", a implantação dessa nova filosofia tática erradica o maior defeito do atleta brasileiro: a resistência ao futebol coletivo.

"Não há posição fixa na roleta. Formamos sim o jogador de futebol. Não quero um lateral, mas um atleta que saiba jogar pelo lado. Tendo domínios de várias funções, ele será muito mais valorizado. O brasileiro tem fama de talentoso, mas também de mau profissional e de ter aversão a sistemas táticos. Estou formando jogadores talentosos e, mais do que isso, capacitados para assimilar qualquer determinação em campo", explica.

O difícil é convencer os atletas mais rodados a aceitar a invenção. "É muito mais complicado aplicar a roleta com atleta experiente. Ele não quer perder o espaço no meio-campo, não quer grandes inovações. Já a molecada entendeu perfeitamente o projeto, pois sabem que serão preparados para atuar em todas as funções, abrindo muitas portas na carreira", alega.

"Schwarzenegger" da bola?
A multiplicidade de funções, seja com a prancheta ou com o microfone, rende inúmeras contestações por parte dos torcedores da Matonense e das outras equipes então dirigidas por Israel. Termos pejorativos fazem parte da vida do treinador, tais como maluco, louco e charlatão; Ele rejeita essas classificações e se considera incompreendido.

Para corroborar a tese de que é perfeitamente possível conciliar com competência duas funções completamente distintas, o patrão da Matonense se vê na pele do ex-Exterminador do Futuro Arnold Schwarzenegger, que largou o cinema para governar a Califórnia-EUA.

"Fui muito humilhado, mas já estou conseguindo provar meu valor. Graças a Deus. Hoje muitos me agradecem. Acham estranho uma pessoa tentar revolucionar o futebol e a música. O Arnold Schwarzenegger não era fantástico no cinema e agora virou governador?", citou Israel.

"Alguns ainda me chamam de maluco, mas o Santos Dumont também era chamado de louco quando quebrava telhados", complementa.

A adoção do sistema "um por todos, todos por um" não é recente na carreira de Israel de Jesus. Em 2003, o treinador teve passagem pela Portuguesa Santista, seguindo para a São Carlense. Israel colecionou desafetos e polêmicas, chegando às agremiações por meio da Futura Esportes, empresa sua e que funcionava semelhante à parceria Corinthians/MSI.

Na Lusa santista, Israel foi expulso do clube após exibição de imagens em que tocava pagode com jogadores minutos antes de uma partida.

A união com a São Carlense se desfez de forma traumática. O clube chegou a entrar em campo com 22 atletas, 11 deles pertencentes à empresa de Israel e a outra metade montada pela diretoria da agremiação. Respaldado por uma liminar, o time "da diretoria" representou o clube no duelo; Israel se negou a sair de campo e, por isso, teve que ser guindado por policiais.

Apesar dos desligamentos dolorosos, Israel avalia que conseguiu na Matonense a oportunidade de, enfim, mostrar seu valor. "Aquilo tudo foi humilhante para mim. Mas depois viram que eu estava certo e que queria reestruturar a São Carlense e a Portuguesa. Dei a volta por cima, estou muito bem na Matonense e farei dela um grande clube", vislumbra Israel, eleito patrono da equipe até 2008.


ÚLTIMAS NOTÍCIAS
03/09/2007
Mais Notícias