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  28/11/2006 - 12h45
Após adeus ao futebol, Arilson resolve se dar última chance

Nico Noronha, do Pelé.Net

PORTO ALEGRE - Arilson, um dos mais talentosos meias surgido no futebol gaúcho nas últimas duas décadas, chegou neste 2006 ao fim da linha, na tortuosa estrada que escolheu para trilhar durante 13 anos como profissional da bola. No primeiro semestre do ano, após dois meses vestindo a camisa do Sampaio Corrêa, do Maranhão, onde sequer foi pago pelo trabalho desenvolvido, disse para si, após algumas noites mal dormidas: "Isso já é humilhação... Desisto".

E desistiu, a poucos meses de completar 33 anos de vida. A idade de Cristo.

Arilson Gilberto Costa foi um Cristo às avessas nesse universo do futebol. Por momentos um jogador genial, admirado por todos, campeão da América pelo Grêmio, vice do Mundo, e integrante da Seleção Brasileira na metade dos anos 90. Por outros, considerado um vilão, um marginal, um homem a ser apedrejado por ter desaforado a sagrada camisa nacional ao fugir da concentração durante o Pré-Olímpico de 1996, na Argentina.

No fim da estrada, Arílson pendurou as chuteiras, comprou terno e gravata e se associou a amigos, advogados, num escritório do bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre. Começou então a vida nova, tratando de administrar a carreira de outros jogadores, intermediando algumas negociações, aconselhando-os.

Um dos sócios é Carlos Rigotti, que num determinado dia, após tratar da colocação de alguns jovens atletas no mercado europeu, chamou Arilson para uma conversa e disse: "Estamos vendo todo dia jogadores fazendo bons contratos, alguns ingressando no mercado europeu, e tu, que jogas bem mais do que todos eles, já parado".

Arilson, apesar de sua eterna rebeldia, admite ser uma pessoa que também sabe ouvir, e aquele comentário o fez perder mais uma vez o sono. E após muito pensar, neste mês de novembro resolveu renascer. Vai defender, a partir de 2007, o Glória, da cidade de Vacaria, na região denominada "Campos de Cima da Serra".

O contrato é curto, só para o Campeonato Gaúcho, mas ele acredita que será o suficiente para mostrar sua velha arte e até vislumbra novos caminhos e um futuro do qual já desistira. "Alguns empresários, quando souberam que eu estava decidido a voltar a jogar, já me procuraram, um deles representando um clube da Romênia. Mas gostei da idéia de defender o Glória, o clube está cheio de grandes amigos, o ambiente é ótimo, e vou recomeçar por aqui mesmo", declarou, na entrevista ao Pelé.Net concedida do quarto do hotel que habita, enquanto não aluga um apartamento ou uma casa na cidade serrana.

Glória será o 12º clube, em seis países diferentes
O acordo com o Glória é, explicitamente, uma volta ao começo. Isso porque Arilson começou sua carreira nas categorias de base do Esportivo, de Bento Gonçalves, cidade vizinha a Vacaria. Foi de lá que partiu para o mundo, conquistou a América com a camisa do Grêmio - no seu melhor período - e defendeu equipes da Alemanha, Espanha, Chile, Colômbia e Arábia Saudita.

Divulgação 
Arílson, o 3º da esquerda para a direita, aceitou o convite para jogar no pequeno Glória, de Vacaria, por seis meses
Também pesou muito e de forma toda especial para a tomada de posição, a presença, no Glória, do treinador José Luiz Plein, com o qual já trabalhara no Grêmio, numa das três passagens que teve pelo clube. "Além disso, velhos conhecidos estão por aqui, como o André Gheller (ex-Inter), o Raone (ex-Juventude) e muitos outros. Estou feliz, o ambiente é ótimo, e isso compensa com sobra o fato de não estar ganhando um alto salário", comenta um novo e entusiasmado Arílson.

Em meio à entrevista, onde externa uma alegria juvenil, ele pede licença para atender outro telefonema. Ao fundo, é possível ouvir que está combinando ir à Igreja com alguém. Inevitavelmente, quando retoma a ligação, vem a pergunta: "Como é? Virou "atleta de Cristo"? Mudou tanto assim?". E com um riso incontido, do outro lado da linha, Arilson responde: "Não é isso. Sou evangélico e vou de vez em quando à Igreja, mas nada demais. Continuou o mesmo, fazendo os meus churrasquinhos, tomando a minha cerveja".

Em outros momentos, como reza a lenda, já tomou cervejas demais, trocou horas de necessário descanso por presença em mesas de bar e perdeu chances de ter continuidade em grandes clubes do País. "Se tivesse que recomeçar do zero, não faria um monte de coisas que acabei fazendo na carreira, mas, de coração, afirmo que não me arrependo de nada".

A briga com Zagallo e a fuga da Seleção
Mas não foi o contato com as altas horas da noite que mais reforçaram a imagem de jogador problemático. Foi, isto sim, a fuga da concentração da Seleção Brasileira, em 1996, na Argentina, durante o Pré-Olímpico.

"Nem disso você se arrepende?". E a resposta, com um Velho Lobo ainda engasgado na garganta, é definitiva: "Muito menos disso". Em seguida conta que na época jogava no Kaiserslautern, que o clube estava nas finais da Copa da Alemanha, e que o interesse dele e dos dirigentes alemães era disputar aquela decisão.

"Mas o Zagallo não me liberou, mesmo que o próprio presidente do Kaiser tenha viajado para tentar a minha liberação. E o pior: ao mesmo tempo não me dava nenhuma chance, não me deixava sequer no banco de reservas", acrescenta. E então, após mais uma das tantas noites de insônia, juntou suas coisas, chamou um táxi e fugiu, tentando chegar a tempo para a decisão alemã.

Mas deu tudo errado. Foi impedido de atuar devido ao ato de rebeldia, não jogou lá, não jogou aqui, e sua imagem desmoronou tanto para o Kaiserslautern como para a Seleção.

Aquele já era recém o seu segundo clube profissional. Depois, seria acolhido pelo Inter, viveria bons momentos no Palmeiras, voltaria ao Grêmio, passaria de forma obscura por clubes do exterior como o Valladolid (ESP), Universidad (CHI), Santa Fé (COL), e peregrinaria até chegar ao nordeste brasileiro, ao Sampaio Corrêa, ao fim da estrada.

Ele já treina, para recuperar a forma
Ao encerrar sua conversa com o Pelé.Net, Arilson diz que já está trabalhando forte no estádio Altos da Glória, em Vacaria. Estará em plena forma, em janeiro, quando começar o Campeonato Gaúcho e acredita que o clube conhecido como "Leão da Serra" - fundado em 15 de novembro de 1956 - fará bonito na competição.

Depois, continua a imaginar, se confirmarão as propostas do exterior e tudo estará novamente em seu lugar. "Há mesmo gente da Romênia e do Japão atrás dele", confirma Carlos Rigotti, que está encarregado de ouvir ofertas e buscar o melhor para o sócio e amigo.

Na sua nova cidade, já está sendo tratado como um ídolo, e os torcedores não vêem a hora de poder ir ao estádio aplaudi-lo. Sonham, junto com ele, de que tudo dará certo neste recomeço. E se as previsões se confirmarem, nada melhor do que comemorar o renascimento, em 2007, com uma boa picanha no espeto e uma cerveja estupidamente gelada.


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