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  07/11/2006 - 09h10
João Carlos abandona o gramado, mas não o futebol

Fernando Lacerda, do Pelé.Net

BELO HORIZONTE - Uma arritmia cardíaca, diagnosticada em junho deste ano, durante exames realizados no Ipatinga, apressou a decisão de se tornar um ex-jogador de futebol, que João Carlos dos Santos vinha amadurecendo há tempos. Mesmo depois de outros exames, feitos no Rio de Janeiro, terem lhe garantido que poderia seguir jogando, o caminho da aposentadoria não tinha mais volta e aos 33 anos ele virou um ex-zagueiro, que tinha o objetivo de abraçar a nova carreira de treinador de futebol.

"Já vinha refletindo sobre a possibilidade de encerrar a carreira. Quando vim para o Democrata disputar o Campeonato Mineiro deste ano já tinha essa intenção, de me despedir por aqui. Aí apareceu o convite do Ipatinga para a disputa da Série C", comentou João Carlos, que foi revelado pelo clube de sua cidade natal, Sete Lagoas, e projetado nacionalmente pelo Cruzeiro.

O ex-zagueiro, que também teve bons momentos no Corinthians, onde foi campeão brasileiro em 1999 e do Mundial da Fifa em 2000, não esconde que ficou surpreso e abalado com a notícia de que tinha problemas no coração. "Sempre fui uma pessoa saudável, um jogador fisicamente vigoroso. Meus exames no Cruzeiro, Corinthians, Botafogo, Seleção Brasileira nunca tinham dado alteração nenhuma", observou o ex-jogador.

No dia 29 de junho deste ano, o site oficial do Ipatinga publicou uma matéria informando que após descobrir uma arritmia cardíaca, que provoca a alteração nos batimentos cardíacos, João Carlos decidia encerrou a carreira, 23 dias depois de ter sido contratado pelo Ipatinga.

A matéria feita pela assessoria de comunicação do clube do Valo do Aço revelava ainda que João Carlos tinha sido submetido a testes de esforço físico, ergoespirométricos e eletrocardiograma com a equipe do Centro Universitário do Leste de Minas (Unileste), que constataram uma alteração, confirmada por uma cintilografia de perfusão miocárdica.

João Carlos conta que não se contentou com esse diagnóstico e buscou a ajuda de profissionais de sua confiança, a partir do departamento médico do Botafogo, clube que defenderam em 2004. "Fiz uma série de exames que não deram nada de anormal e que indicaram que eu poderia seguir jogando, mas a minha decisão já estava tomada. Fica sempre uma insegurança, um receio e achei melhor começar uma nova fase da minha vida", lembrou o ex-defensor.

Novos Horizontes

Do susto e da decisão de abandonar os gramados, profissionalmente, João Carlos passou a ação em busca de sua nova profissão. Aceitou um convite para assumir o cargo de treinador do time de juniores do Democrata de Sete Lagoas e se inscreveu em um curso para formar técnico de futebol, promovido pelo Conselho Regional de Educação Física e realizado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

"Estou começando do zero. O Democrata é a primeira etapa da minha carreira de treinador de futebol, que espero seja muito bem-sucedida, porque sempre soube que quando parasse de jogar, iria continuar dentro do futebol e ser técnico sempre esteve em minha mente", comentou João Carlos, que completou 34 anos em 10 de setembro último.

As aulas começaram no início de novembro e irão durar seis meses. Depois de se formar, João Carlos planeja fazer estágios em clubes de futebol do Brasil e do exterior. "Tenho portas abertas em vários lugares. Fiz muitas amizades no futebol e pretendo fazer bons estágios. Penso em começar em Portugal, onde já tenho algumas opções", afirmou o ex-zagueiro, que disputou 13 jogos pela Seleção Brasileira sob o comando de Vanderlei Luxemburgo.

Com a "amarelinha", João Carlos, um zagueiro de bom porte físico, que também sabia aparecer no ataque, foi campeão da Copa América no Paraguai e disputou a Copa das Confederações. Além de jogar na Seleção e em grandes times do Brasil, como Cruzeiro, Corinthians e Botafogo, João Carlos teve a oportunidade de jogar no exterior, defendendo o Cerezo Osaka, do Japão, entre 2002 e 2003.

Ele diz estar gostando do começo da carreira de treinador e vem conciliando o curso com o trabalho à frente do Democrata. Mais feliz ainda, o ex-jogador está pelo falto de viver uma vida normal, segundo ele, sem nenhuma limitação. "Faço questão de correr com os meninos do time,participo ativamente dos treinos e bate minha pelada com os amigos, aqui em Sete Lagoas, toda quarta-feira", observou.

"O curso ali teoria e prática. A gente tem aulas não apenas com técnicos de futebol, mas também com o pessoal do vôlei, do futsal, enfim, de outros esportes, o que é muito importante para a formação", avaliou João Carlos, que classificou a equipe do Democrata para o hexagonal final do Campeonato Mineiro.

Nessa fase, a situação não está boa para o seu time, que é o atual vice-lanterna, com apenas um empate, diante do Cruzeiro, em quatro jogos. Nas outras três partidas, o Jacaré foi derrotado por Atlético-MG, Villa Nova e América. "Ainda temos chance de recuperação. Vamos jogar duas vezes contra o Vespasiano, que é o lanterna e ainda tem o segundo turno", afirmou o ex-zagueiro, referindo-se ao time do ex-ponta ÉderAleixo.

Planos

Mas João Carlos deixa claro que o seu objetivo como técnico de juniores não é conquistar títulos, mas sim contribuir para a formação de futuros craques. "Não penso em chegar à final do Mineiro, em ganhar títulos. Meu pensamento é formar jogadores, o que é essencial no futebol, especialmente para equipes do interior", justificou.

O treinador elogia a infra-estrutura da base do Democrata de Sete Lagoas, que é administrada de forma separada do profissional. "A parceria com o Atlético-MG não atinge os juniores, só vale para o profissional. Mas as coisas aqui funcionam bem. Os jogadores tem toda a assistência, boa alimentação campo de treinamento", salientou. Ele cita como exemplo o alojamento para 15 garotos que moram no clube. "A estrutura é das melhores", acrescentou.

João Carlos começou a jogar no Democrata-SL, onde se profissionalizou em 1992. Por ser daquela cidade, ele diz ter um carinho enorme com esse clube e garante que mesmo quando deslanchar em sua carreira de técnico não abandonará o Jacaré. "Tenho o objetivo de seguir minha carreira de treinador, mas quero continuar ajudando o Democrata e vou fazer isso de outras maneiras, até mesmo no profissional, no futuro", revelou.

Um sonho do ex-zagueiro é ampliar o trabalho de base do Democrata, com a criação de uma escolinha de futebol e de equipes nas demais categorias, como infantil e juvenil. "A base é tudo, principalmente para um time do interior", receitou o aprendiz de treinador, que se diz preparado para superar os obstáculos na nova profissão.

"Lá no curso, por exemplo, são muitos alunos. É muita gente querendo ser técnico. Sei que o caminho é difícil, o futebol é a minha vida há muito tempo, mas é isso que quero e vou correr atrás", garantiu João Carlos, com o mesmo entusiasmo, com que marcava um atacante adversário.


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