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  03/10/2006 - 11h57
Goleiro João Gabriel, aos 28, troca futebol pela advocacia

Nico Noronha, do Pelé.Net

PORTO ALEGRE - Quem não sonhou em ser um jogador de futebol? João Gabriel não apenas sonhou como atingiu o objetivo e, durante 10 anos, defendeu o Internacional, atual campeão da Libertadores da América. Até aí nenhuma novidade, milhares concretizam o sonho e fazem o possível para prolongar uma carreira que dá inveja a milhões. O curioso na história desse porto-alegrense e colorado, é que ele decidiu largar a bola no auge da forma física, aos 27, e hoje, um ano depois, é um feliz advogado, sem nenhum arrependimento pela troca.

João Gabriel antecedeu Clemer como dono da camisa nº 1 do Inter. Em 2002, entretanto, sofreu uma lesão pouco comum, o rompimento de um músculo abdominal, "e o clube decidiu buscar um outro goleiro, de forma emergencial", conta. Veio Clemer, que não saiu mais.

A recuperação da lesão nem demorou tanto assim, mas a vaga no time jamais voltou para ele. Teria sido essa causa da decepção e o motivo para decidir largar tudo? "Não", apressa-se a responder João, enquanto fala ao Pelé.Net numa das salas do escritório que divide com Mariju Maciel, num edifício do bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre.

A causa principal surgiu dois anos depois, no final de 2004, quando o clube decidiu emprestá-lo ao Mogi, para disputar o Paulistão 2005. Se apresentou, a campanha do time acabou sendo razoável, seu desempenho bom, mas João Gabriel constatou que aquele era o começo de uma nova fase da carreira, fase essa que preferiu não encarar. E como o curso de direito estava no fim...

"Eu não queria peregrinar"
João Gabriel Moeller Demeneghi abandonou o futebol porque sentiu que o caminho que se apresentava à sua frente é aquele pelo qual trilha a maioria dos jogadores quando deixa o clube grande. Uma temporada aqui, outra ali, de uma cidade para outra, sem sossego, times cada vez menos importantes, salários diminuindo, enfim...

"Eu havia casado dois anos antes, estava me formando e planejava ter um filho. Então avaliei bem e decidi largar tudo, investir em outra carreira, e estou muito feliz assim", disse o ex-goleiro. O curso de direito, na Ulbra, que vinha sendo cumprido à duras penas, duas cadeiras por ano, teria de ser a sua segurança a partir de então.

O filho, Eduardo, acabou nascendo há dois meses, fruto do casamento com Thiana; e a nova profissão está se consolidando na Maciel & Demeneghi Advogados Associados, ao lado de Mariju, profissional já experiente na área desportiva, e que entre tantos outros casos, cuida no momento do processo de cidadadia italiana para o volante Lucas, do Grêmio, que no final do ano se transfere para a Europa.

"Atuamos mais na área trabalhista, defendendo jogadores que têm dificuldades de enfrentar os departamentos jurídicos dos clubes, pois esses sempre contam com um grande aparato, exercem pressões sobre os atletas, alguns os fazem assinar contratos prejudiciais, aquelas situações que todos os que conhecem esse universo sabem que existem", explana João Gabriel.

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Antecessor de Clemer no Inter, João Gabriel, 28 anos, trocou os gramados pelo escritório.
Outro motivo para que o goleiro deixasse as luvas, chuteiras e a camiseta de mandas compridas de lado, adotando gravatas, sapatos sempre lustrosos e casacos sóbrios, foi a eterna aversão à badalação. "Eu nunca gostei, por exemplo, das concentrações, mas havia uma coisa que me incomodava ainda mais: a falta de privacidade, o assédio da imprensa, a badalação em volta dos jogadores de futebol".

João sempre foi assim mesmo. Na década em que defendeu o Internacional, só concedia entrevistas quando não havia mesmo como escapar delas. As concedia visivelmente contrariado, com uma fala mansa, revelando enfado, como que pedindo para que não o incomodassem mais.

"No primeiro teste quis ser centroavante
Mas quando, menino, decidiu ser jogador de futebol, não levou em conta esse ônus que viria junto caso se tornasse um grande profissional. Morava no bairro Tristeza, Zona Sul, bem próximo ao Beira-Rio, e queria era correr atrás da bola, preferencialmente marcando muitos gols. O pai, médico, deu liberdade ao guri para que fizesse o que quisesse.

"No primeiro treino pedi para ser testado como centroavante, mas joguei apenas uns 30 minutos, porque quase todo mundo queria igual. Ao mesmo tempo notei que só quem jogava o tempo todo era quem pedia para ser goleiro", relembra. Daí que, na segunda chance, nem vacilou. Chegou ao treinador e disse: "Quero ser goleiro".

E foi. Chegou à Seleção Brasileira de juniores que foi vice-campeã no Sul-Americano do Chile. "Nosso time era bom, tinha o Alex, hoje na Turquia, o Chris, ainda hoje defendendo a Seleção, o Athirson e o Perdigão, que está no Inter, também jogava. Mas a Argentina tinha o Riquelme e um grupo também muito forte e nos ganhou na final", lembra, num dos raros momentos da entrevista em que sua fisionomia parece revelar saudosismo pelo fuitebol.

Mas na seqüência retoma a postura sóbria do advogado e acrescenta que "não há nenhuma chance de voltar a jogar futebol". A pergunta seguinte é se isso não poderia ocorrer nem mesmo se surgisse uma proposta com bons cifrões e num grande clube. Ao que ele responde... "Era só o que faltava numa hora dessas".

"Estive bem perto do título brasileiro"
Atualmente nem ao estádio vai mais. Prefere ficar à frente da televisão, filho no colo, ao lado da esposa, torcendo pelo seu Inter. Mas mantém contato com ex-companheiros, como o zagueiro Lúcio, titular da Seleção Brasileira, ou então o seu maior amigo, Leandro Guerreiro, volante que hoje defende o Criciúma - e do qual é padrinho do filho.

Leandro que, curiosamente, foi responsável por aquela que talvez tenha sido sua maior frustração como jogador. No ano 2000 o Internacional precisava de um empate no Mineirão, contra o Cruzeiro, para chegar às semifinais do Brasileirão. A equipe estava bem e a Taça estava logo ali, quatro jogos distante.

Mas o volante, desatento, dispersivo, num lance fácil, deixou Geovanni roubar a bola, investir contra a meta de seu amigo João Gabriel, e na saída desse fazer o gol que eliminou o Colorado da competição.

De qualquer forma a ótima relação entre eles se manteve e as amizades que se perpetuaram é o melhor que João Gabriel guarda, do seu período não tão longo como jogador de futebol profissional. Ao lado, é claro, de três títulos gaúchos.


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