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  31/07/2006 - 13h01
Zagallo, em choque, evita admitir fim da carreira

Danilo Valentini, especial para o Pelé.Net

SÃO PAULO - Os quase 50 anos de serviços prestados à seleção brasileira -consagrados pelo bicampeonato como jogador, em 1958 e 1962, e pelos títulos como técnico, em 1970, e como coordenador, em 1994- foram suficientes para Zagallo encobrir a sua lendária verve de brigão e boquirroto que marcou um estilo altamente emotivo de trabalhar pela 'amarelinha'.

Afastado oficialmente da nova comissão técnica escolhida por Ricardo Teixeira, o único homem tetracampeão do país se viu obrigado a engolir o choro e evitar duas coisas: criticar o ex-patrão pela renovação da equipe, sob o comando de Dunga, e falar em fim de uma carreira iniciada em 1948, pelo América-RJ.

Com uma voz debilitada que não combina com os momentos de sua empolgação mais rasgada, seja no desabafo do "vocês vão ter de me engolir" após a conquista da Copa América de 1997 ou no aviãozinho da comemoração em um amistoso com a África do Sul, um ano antes, Mário Jorge Lobo Zagallo concedeu entrevista exclusiva ao Pelé.Net na última sexta-feira, dia 28, um pouco antes das 19h.

Requisitado a falar "por uns dez minutos", retrucou. "Dez minutos é muito, tenho de jantar daqui a pouco", explicou Zagallo, que logo depois se esqueceu do tempo e falou simpaticamente, mesmo sem esconder a estranheza que o momento resguarda, mas sem correr no risco de mencionar palavras como decepção ou mágoa ou criticar o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), autor da escolha de Dunga como novo técnico de uma comissão que deverá ser formada pela geração vitoriosa de 1994.

"Sou grato (ao presidente da CBF), mas não esperava. Não estou magoado mas levei um choque, pretendia ficar mais uma Copa", admite Zagallo, otimista inveterado: "Aguardo as coisas sempre pelo outro lado".

Como outro lado, entenda-se continuar a ser ativo, não só nos seus jogos de dupla de tênis com amigos, que o distraem no final de semana. "Mas de segunda a quinta, o que vou fazer?", questiona Zagallo, que, num primeiro momento, só quer descansar e curtir a família após um ano conturbado, que além da decepção do fracasso da seleção na Alemanha incluiu um período de recuperação para a cirurgia para desobstrução do duodeno, a que foi submetido em maio de 2005.

Acompanhe os principais trechos da entrevista com Zagallo, que completa 75 anos no próximo dia 9.

Pelé.Net - O senhor ficou decepcionado com a decisão do presidente Ricardo Teixeira de o afastar da comissão técnica após representar a seleção brasileira desde 1958?
Mário Jorge Lobo Zagallo
- Isso faz parte da vida, ainda mais na seleção. Quando se perde uma Copa, se sai. Mas eu já tinha retornado depois de 1998, quando perdi na final e acabei voltando para trabalhar com o Parreira. Sou grato (a Ricardo Teixeira), mas não esperava. Não estou magoado, mas levei um choque, pretendia ficar mais uma Copa.

Pelé.Net - A escolha de Dunga para assumir a seleção sem nunca ter dirigido um clube o surpreendeu?
Zagallo
- Conversei numa boa, a idéia dele (Teixeira) era de mudança, e o presidente fez uma mudança radical. Mas não seria agora que seria contra ele. E torço para que dê certo, para que o Dunga vá em frente apesar de não ter experiência. A lógica é que seria escolhido alguém de dentro do métier e evidente que gostaria de continuar. Mas é uma escolha independente, uma experiência que já funcionou na Alemanha, com o Beckenbauer e o Klinsmann, e na Holanda, com o Van Basten.

Pelé.Net - Mas o senhor insiste que ainda poderia contribuir com a seleção, e até demonstrou irritação quando o Parreira foi perguntado, na entrevista coletiva após a derrota para a França, se aceitaria assumir o cargo que ainda era do senhor?
Zagallo
- Claro, destaquei na época que o coordenador era eu, foi indelicado porque eu estava presente. E fiquei na expectativa por ter sido convocado o Dunga, de quem fui coordenador, em 1994, e técnico, em 1998. Mas aconteceu ao contrário. O Dunga já deu entrevista falando de jogador (para trabalhar na nova comissão). Fiquei surpreendido.

Pelé.Net - E qual poderia ser a sua contribuição para preparar a seleção que disputará a Copa de 2010 na África do Sul?
Zagallo
- Minha contribuição seria a mesma, na escolha dos jogadores, ainda mais em um momento difícil. Para quem é experiente facilitaria, nomes, idéias. Experiência é muita coisa. E ele (Dunga) está pegando o time em um momento muito ruim, vai ter de colocar a seleção em ação no dia 16 (de agosto, contra a Noruega), com muitos jogadores ainda em férias. Não vai ter conjunto nenhum, por isso dei a sugestão de pegar o time da Copa das Confederações, porque mais da metade do grupo que foi a Alemanha não tem condição de jogar em 2010. Mas não adianta você querer, porque não é você que decide.

Pelé.Net - Qual foi a reação de sua família com o seu desligamento da CBF, principalmente por ser pouco tempo depois de o senhor ter sido submetido a uma delicada cirurgia?
Zagallo
- Foi de conforto, sem alarde. Não tenha dúvida que houve alívio, tive um período difícil, ainda não me recuperei em relação ao peso e não vou me recuperar. Tirei parte do estômago e do pâncreas, o duodeno. Foi uma lição de vida ao ser operado. Achava que nunca ia acontecer comigo e não sabia que era tão feliz quando estava do outro lado.

Pelé.Net - E como conviver com a realidade de não trabalhar?
Zagallo
- Nunca deixei de trabalhar, vai ser a primeira vez. Em dezembro ainda vou conversar com o Ricardo Teixeira, tem a possibilidade de eu ser um representante da candidatura brasileira para a Copa, mas por enquanto não estou pensando em nada, só em descansar.

Pelé.Net - Mas o senhor já admite falar que está se aposentando?
Zagallo
- Neste momento é difícil, na euforia posso falar que não quero ficar sem trabalho. Hoje, só jogo tênis no sábado e domingo. Dentro da minha idade jogo bem, mas em duplas, que é mais difícil, estratégico, mas menos cansativo. Mas de, segunda a quinta, o que vou fazer?

Pelé.Net - Então o senhor ainda cogita ser técnico de alguma equipe?
Zagallo
- Não descarto nada neste momento. Se acontecer qualquer coisa, é neste momento que vou tomar decisão. Se disser não, ninguém vai me procurar. Vou aguardar as situações que podem acontecer.


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