! Joelho é problema crônico no Cruzeiro - 06/03/2006 - Pelé.Net - Revista
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  06/03/2006 - 09h00
Joelho é problema crônico no Cruzeiro

Pedro Ivo Martins, do Pelé.Net

BELO HORIZONTE - A contusão do atacante Araújo há cerca de um mês, trouxe à tona um problema que vem ocorrendo com freqüência no Cruzeiro. Nos últimos anos, o joelho, especialmente o direito, vem sendo o principal responsável pelos longos afastamentos de jogadores no clube celeste. Em 2005, titulares importantes como o zagueiro Edu Dracena e o volante Fábio Santos passaram por cirurgias no local. Em anos anteriores, os meias Sandro e Martinez, além do lateral-direito Maurinho, engrossaram a lista.

A causa das lesões ainda é desconhecida, mas os médicos apontam a hipótese de sobrecarga. O ortopedista do Cruzeiro Sérgio Freire acredita na possibilidade de enfraquecimento das estruturas do joelho dos atletas. "Nos congressos que eu tenho acompanhado, observa-se que a articulação do joelho esteja sendo submetida a mais carga do que antigamente e aquele atrito entre o osso e o ligamento esteja enfraquecendo, mas, de qualquer maneira, são somente hipóteses", ressaltou o médico celeste.

A suposição de Sérgio Freire é confirmada pelo volante Fábio Santos. "Acho que a carga de trabalho hoje no futebol está muito forte, até porque mudou muito o futebol, que é de muita força, muito choque. É complicado ter muita resistência com força, excesso, à vezes, de trabalho. Não estou falando que é aqui no Cruzeiro, mas em vários clubes tem. É normal, até porque hoje mudou muito o futebol", observou o jogador.

Fábio Santos fala com conhecimento de causa, porque passou por duas cirurgias no joelho direito no ano passado. A primeira foi uma artroscopia no dia 23 de maio para corrigir uma lesão no menisco. Passados seis meses, o jogador não conseguia se firmar no time celeste por causa de freqüentes dores no local. No dia 26 de novembro, ele foi submetido a uma nova operação para corrigir lesões no mesmo menisco e na cartilagem do joelho.

Após três meses de recuperação, o volante voltou a treinar com o restante do elenco do Cruzeiro. Segundo ele, a necessidade de mais vigor físico dos jogadores tem feito com que a carga física aumente. "Hoje, tem que ter qualidade, mas o que vale mais é o preparo físico excelente porque acabou o futebol de muita técnica", comentou o atleta, que voltou ao time celeste contra o Ituiutaba, neste domingo.

Questionado sobre a razão de tantas lesões de joelho no Cruzeiro, Fábio Santos preferiu desconversar. "É complicado eu falar, até porque são profissionais que trabalham aqui, médicos e fisioterapeutas. Não cabe a mim criticar. Cabe às pessoas que comandam o Cruzeiro saber o que está acontecendo de errado ou de certo. Se a gente for ver os exemplos, são muitas lesões em um só clube, mas eu tenho que fazer o meu trabalho. O Cruzeiro tem uma excelente estrutura", afirmou.

Prevenção difícil

O preparador físico do Cruzeiro Jorge Sotter também acredita na possibilidade de sobrecarga como uma das causas de tantas lesões de joelho. "O futebol está muito mais corrido com a evolução da preparação física. Se compararmos um jogo de hoje com uma partida de dez anos atrás, veremos que, antigamente, prevalecia muito mais a parte técnica do que a parte física. Hoje, não. Os espaços diminuíram, a marcação está muito mais forte, o campos não tem qualidade. Tudo isso é um agravante para este tipo de lesão", analisou.

De acordo com ele, é difícil prevenir lesões de joelho, já que não há como jogar apenas em gramados perfeitos e sem buracos, mas o que se busca é minimizar os riscos. Para isso, existem duas medidas que são feitas no Cruzeiro. Uma delas consiste em sempre manter a musculatura dos jogadores reforçada e a outra é um exame para saber se existem diferenças nos músculos da coxa, responsáveis por manter o joelho a salvo de torções.

"Os jogadores são submetidos a uma avaliação para saber o nível de força muscular entre a musculatura anterior e posterior da coxa. Geralmente, quando se faz essa avaliação e dá uma diferença grande, o atleta está suscetível a ter uma lesão de joelho. Nesse caso, tira-se o atleta dos treinamentos com bola e faz uma programação específica para diminuir essa diferença", contou.

Jorge Sotter preferiu não falar sobre outros casos de lesões no joelho ocorridas no Cruzeiro antes de sua chegada ao clube em meados do ano passado. A contusão de Araújo foi a única com o preparador físico trabalhando na Raposa. Segundo ele, não havia como prevenir. "O Araújo vinha jogando há dois anos no Japão e lá a grama é baixa, tapete, bons campos. Ele ainda estava naquela fase de adaptação aqui e realmente foi uma fatalidade", disse.

Preocupação

Fábio Santos está feliz com seu retorno, mas triste pela lesão do atacante Araújo. De acordo com ele, foi mais uma fatalidade do futebol. O jogador contou que, quando machucou o joelho pela primeira vez, poderia ter tido mais complicações, mas, por sorte, lesou apenas o menisco. "Numa jogada boba, o Araújo machucou o joelho todo. Fiquei um pouco triste porque é um jogador do nosso elenco, novo e que tinha tudo para mostrar", lamentou.

Araújo foi contratado pelo Cruzeiro no fim do ano passado e chegou à Toca da Raposa II como um dos grandes reforços para esta temporada. O jogador entrou em campo em quatro partidas da Raposa, marcando até dois gols, mas, no último dia 8 de fevereiro, o pior aconteceu. No segundo tempo da vitória sobre o Vila Nova por 2 x 0, ele se machucou sozinho, quando tentava roubar a bola de um atleta adversário, e saiu de campo chorando.

Ainda nos vestiários do Estádio Independência, onde foi realizada a partida, o médico do Cruzeiro Ronaldo Nazaré explicou que o jogador havia sofrido uma torção no joelho direito e estava sentindo dor no local, mas um diagnóstico só seria conhecido quatro dias depois, na noite de uma segunda-feira. Depois de uma ressonância magnética, foi confirmado que Araújo estava com várias partes do joelho lesionadas e teria que passar por uma cirurgia.

Menisco lateral, ligamento lateral, cartilagem lateral e ligamento cruzado anterior foram os problemas do atacante, que também teve um edema ósseo no local, o que impossibilitou que a cirurgia fosse feita imediatamente. "Tenho que ter a cabeça no lugar. Alguns jogadores já passaram por essa situação e preciso superar como muitos outros. Sei que a recuperação vai ser rápida. É a primeira contusão que estou tendo na minha carreira e estou tranqüilo", disse Araújo, que ainda será submetido à cirurgia.

Sonho adiado

O zagueiro e capitão do Cruzeiro nesta temporada, Edu Dracena, ficou especialmente preocupado com Araújo. "Conversei com ele ainda no vestiário e perguntei se tinha estralado. Quando você torce o joelho, dá um estralo. Ele falou que tinha estralado e parecia que tinha dois joelhos, um foi para lá e o outro foi para cá", contou o jogador.

Em 2005, Edu Dracena teve a mesma lesão no joelho direito na partida final do Campeonato Mineiro contra o Ipatinga, que levou o título dentro do Mineirão. O zagueiro celeste, que passava por uma grande fase na carreira, era pretendido até pelo Real Madrid, da Espanha, mas teve que adiar o sonho de jogar no futebol europeu. "Uma lesão grave atrapalha bastante. Eu já passei por essa situação e não desejo para ninguém", afirmou.

Gramado

De acordo com Edu Dracena, o gramado alto do Estádio Independência pode ter sido uma das causas da contusão no joelho do atacante Araújo, mas ele acredita que não há como evitar essas fatalidades. "No Mineirão, com um gramado daquele como um tapete, eu torci o joelho. Quando tem que acontecer, não tem jeito. Temos que pedir proteção", afirmou.

Araújo também apontou o gramado como um possível culpado para sua contusão. "A grama prende muito. Quando entrei em campo, já senti essa dificuldade", afirmou o atacante. "Sempre jogo com travas de ferro, mas quando vi o campo e a situação da grama, coloquei uma de borracha. Mesmo assim, estava segurando. No lance que eu machuquei, meu pé ficou preso quando fui fazer o movimento e o joelho não agüentou", acrescentou o atleta.

Para o técnico Paulo César Gusmão, a lesão no joelho pode ter diversos motivos, mas é sempre uma fatalidade. "A musculatura de um atleta é completamente diferente de uma pessoa normal, ela tem uma hipertrofia, uma força maior. À vezes, num movimento maior, tem uma mais força sobre os tendões e tendão é parte fixa da musculatura, ele não tem movimento e acaba rompendo. Quem joga futebol, está sujeito a isso", observou.

O médico Sérgio Freire acredita que o gramado alto pode ter ajudado na entorse sofrida por Araújo, assim como o tipo de chuteira que o jogador estava usando naquela ocasião. De acordo com ele, as causas de lesões no joelho são diversas e estão sendo estudadas. O médico do Cruzeiro apontou que o biofísico dos atletas também influencia na resistência do joelho.

Sérgio Freire explicou que pode haver uma pré-disposição de alguns jogadores para ter lesões no joelho. "O certo é que ele só lesa com torção com o pé apoiado. Ou a grama segurou ou o jogador pisou e torceu com o peso do corpo sobre o joelho. Mas precisa saber direito, porque senão todos rompiam. Isso é um pouco instável. Aqueles em que isso acontece é um tipo de traumatismo ou então uma pré-disposição", analisou.

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