! Desconhecido, Mior conquista o Furacão - 23/03/2005 - Pelé.Net - Revista
UOL EsporteUOL Esporte
UOL BUSCA


  23/03/2005 - 11h50
Desconhecido, Mior conquista o Furacão

Guilherme Costa, da MBPress, especial para o Pelé.Net

SÃO PAULO - Quem é Casemiro Mior? Essa pergunta foi feita por muitos torcedores do Atlético-PR no dia 12 de janeiro de 2005, quando o Furacão anunciou que o gaúcho seria o substituto de Levir Culpi na equipe que havia faturado o vice-campeonato brasileiro na temporada anterior.

Desconhecido do grande público, Mior comandava o Nacional da Ilha da Madeira antes de vir para o Atlético-PR. E, no ano passado, levou a equipe à quarta colocação do Campeonato Português e à classificação para a Copa da Uefa.

Credenciado pelo bom trabalho em Portugal e por mais de 13 temporadas como jogador do Grêmio, Mior tenta fugir do rótulo de inexperiente. Por isso, nesta entrevista exclusiva ao Pelé.Net, o comandante atleticano garante que não é um desconhecido no mundo do futebol.

Além disso, Mior demonstra um pouco do perfil do novo técnico do Furacão. Disciplinador, o comandante rubro-negro é obcecado por novas metas. Foi assim desde que saiu de Serafina Corrêa, interior do Rio Grande do Sul, para jogar no Grêmio. "Sempre gostei de desafios", garantiu. Antes de chegar ao Atlético-PR, ele ainda teve passagens pela China, pela Seleção de Hong Kong e pelo futebol venezuelano.

Desde que chegou ao clube paranaense, Casemiro perdeu apenas uma partida. Por isso, já se mostra bem mais ambientado ao time brasileiro. "Evoluímos muito, mas sempre temos condições de crescer mais. Temos mais de 70% de novidades e não fazemos uma equipe de uma hora para outra", analisou.

Encantado com o Atlético-PR, Casemiro Mior se apresenta à torcida rubro-negra nesta entrevista. Além de mostrar um pouco de sua carreira, o novo técnico do Furacão fala sobre o clube e ainda compara o ídolo rubro-negro Dagoberto ao atacante Robinho.

Pelé.Net - Quando você foi contratado, seu nome apareceu como surpresa no Atlético-PR. Você é realmente um técnico inexperiente?
Casemiro Mior -
Não tenho nada de inexperiente. Fui jogador do Grêmio por 13 anos. Trabalhei como auxiliar de grandes técnicos no Internacional. Além disso, comandei a Inter de Limeira, o XV de Campo Bom e o Brasil Farroupilha. Saí do Brasil para trabalhar na Venezuela (Deportivo Italchacao) e ainda passei quatro anos na China e outros dois em Portugal.

Pelé.Net - Por que você ficou tanto tempo longe do futebol brasileiro e por que em locais como a Venezuela e a China?
Casemiro Mior -
Sempre gostei de desafios e estes foram grandes desafios na minha carreira. Além disso, ganhei muito espaço lá fora. Passei quatro anos na China e fui o melhor treinador de lá em três deles. Em Portugal, fui eleito técnico revelação em 2003/2004. Hoje, sou conhecido na Europa inteira.

Pelé.Net - Mas se estava tão bem lá fora, por que você voltou ao Brasil?
Casemiro Mior -
Seria muito cômodo para mim permanecer no Nacional (da Ilha da Madeira, time que ele comandava em Portugal). Montei uma equipe praticamente nova para esta temporada e estávamos crescendo bastante. Mas fui seduzido por mais um desafio (o Atlético-PR).

Pelé.Net - Trocar a boa fase de Portugal por um desafio no Atlético-PR não foi abrir mão também de segurança?
Casemiro Mior -
Eu sei que assumi um compromisso com muitos riscos. Pego o caso do Oswaldo de Oliveira como exemplo. É um técnico muito competente, mas perdeu o emprego em pouco tempo. Sei a pressão que vou enfrentar.

Pelé.Net - Nesta temporada, a competição mais importante do Atlético-PR é a Copa Libertadores. Até que ponto a falta de experiência neste torneio faz diferença para você?
Casemiro Mior -
Disputei a Libertadores cinco ou seis vezes pelo Grêmio e fui campeão em 1983*. É um torneio que conheço bastante e é uma competição continental, assim como eram a Copa da Ásia e a Copa da Uefa, que eu já disputei.

Além disso, conhecer a Libertadores não é o único fator importante. É importante saber conversar com os jogadores e passar a experiência adquirida nos torneios disputados.

* O Grêmio faturou o título no dia 28 de julho de 1983, com uma vitória por 2 a 1 sobre o Peñarol dentro de casa. Depois, venceu também o Mundial Interclubes ao bater o Hamburgo, na prorrogação, por 2 a 1.

Pelé.Net - Se a conversa é tão importante, qual o estilo Casemiro Mior? Disciplinador ou amigo dos jogadores?
Casemiro Mior -
Desde que era jogador, sempre procurei tirar um pouco de cada técnico que trabalhou comigo. Não só os bons, mas também os ruins. Todos tinham coisas para passar para nós. Formei o meu estilo próprio, mas não levo muito para o lado da amizade. Lógico que a idéia é ter sempre um ambiente bom para trabalhar, mas o mais importante é um respeito profissional. O grupo precisa perceber que a dedicação precisa existir. Por isso, se não for como técnicos, precisamos cobrar como orientadores. Acho que misturo um pouco do jeito do Felipão (Luiz Felipe Scolari) com o Ênio Andrade.

Pelé.Net - Por falar em Felipão, é verdade que você foi contratado por indicação dele?
Casemiro Mior -
Até onde eu sei, desde que surgiu o interesse do Atlético-PR, houve uma procura por maiores informações sobre a minha carreira. Acredito que eles tenham procurado o Felipão* e também o doutor Fábio Koff**, pessoas que me conhecem muito bem e sabem do meu potencial. Não digo que eles tenham me indicado, mas acho que passaram algumas informações sobre o meu trabalho.

* Felipão, pentacampeão mundial com a seleção brasileira, atualmente comanda a Seleção de Portugal, país onde Mior trabalhava.

** Fábio Koff foi presidente do Grêmio, clube que Mior defendeu como jogador, e agora é presidente do Clube dos 13.


Pelé.Net - Para você, que trabalhou dois anos no futebol português, como está sendo o trabalho do Felipão à frente da seleção?
Casemiro Mior -
O trabalho de um estrangeiro sempre gera uma desconfiança extra. Foi assim com o Felipão, que teve um pouco de problemas no início da trajetória dele. Mas ele mostrou muita competência e muita dedicação. Assim, conseguiu superar tudo isso. Ele conquistou campeonatos em todos os times que comandou e deve isso à maneira de trabalhar. Sempre teve autonomia e personalidade.

Pelé.Net - Como você foi recebido pelo elenco do Atlético-PR? A diretoria contratou jogadores a partir de indicações feitas por você?
Casemiro Mior -
Não. Quando cheguei aqui, a equipe estava praticamente montada. Mas acho que trabalhar com um elenco escolhido pelo treinador é sempre mais fácil. O grande desafio é pegar um grupo e fazer com que esses atletas dêem o máximo de suas características positivas.

Pelé.Net - O Atlético-PR já alcançou o melhor que pode apresentar nesta temporada?
Casemiro Mior -
Estamos bem melhores do que estávamos quando eu cheguei. Evoluímos muito, mas sempre temos condições de crescer mais. Os jogadores que chegaram por último ainda não estão no melhor da forma e o elenco sofreu muitas mudanças em relação à época (temporada) passada. Temos mais de 70% de novidades e não fazemos uma equipe de uma hora para outra.

Pelé.Net - Por que você resolveu dividir o Atlético-PR no início da temporada*?
Casemiro Mior -
Tínhamos um grupo muito heterogêneo. Uma parte era formada por atletas que estavam aqui desde a época (temporada) passada e que conquistaram o vice-campeonato brasileiro. Outro grupo era composto pelos jogadores que chegaram ao clube neste ano. A diferença era muito grande.

* Nas primeiras rodadas do Campeonato Paranaense, Casemiro Mior preferiu escalar um time apenas com reservas, o chamado Ventania, enquanto os titulares se preparavam para a Libertadores.

Pelé.Net - E agora, esta diferença diminuiu?
Casemiro Mior -
Estamos bem mais próximos do ideal neste sentido. O grupo trabalha forte desde o início do ano e estamos em um nível muito parecido no elenco inteiro. Ainda precisamos de alguns ajustes, mas estamos no caminho certo.

Pelé.Net - Este ajuste por acaso é a entrada do Dagoberto, atacante que está lesionado desde o ano passado*?
Casemiro Mior -
Ele é um jogador diferenciado e é lógico que contamos com ele. Ele tem um nível de qualidade muito elevado, difícil de ver no futebol brasileiro. São características muito diferentes, mas ele e o Robinho estão no mesmo nível. O Robinho é referência porque está jogando e mantendo um excelente padrão de atuações. Mas o Dagoberto tem um histórico até superior nas Seleções de base.

* Dagoberto lesionou o joelho esquerdo no clássico contra o Paraná Clube, na 36ª rodada do Brasileiro 2004

Pelé.Net - O Dagoberto faz muita falta na atual equipe do Atlético-PR?
Casemiro Mior -
Sentimos falta do talento dele desde a época (temporada) passada, quando ele se lesionou. Não há no Brasil outro jogador desse nível. Só esperamos que ele se recupere e volte a ter a mesma forma que tinha antes.

Pelé.Net - Gostaria que você comentasse a situação de dois brasileiros que jogam em Portugal: Liedson e Luís Fabiano*.
Casemiro Mior -
A diferença básica entre eles é a preparação que tiveram. O Liedson teve tempo para treinar porque o Sporting fez preparação completa com ele. O Luís Fabiano chegou e não teve esse tempo para se adaptar. A pressão por resultados no Porto é muito grande, mas a equipe mudou muito em relação à época passada e ainda precisa evoluir.

* Liedson, contratado pelo Sporting com bem menos impacto, já marcou 20 vezes nesta temporada e é artilheiro do Campeonato Português. Luís Fabiano, grande investimento do Porto, não consegue repetir a média de 0,73 gols por jogo (marcou 118 vezes em 160 partidas) que tinha no São Paulo e tem ficado como opção no banco de reservas.

Pelé.Net - Por que os brasileiros têm tanta dificuldade de adaptação lá fora?
Casemiro Mior -
Tem algumas coisas muito diferentes, mas acho que o que pesa mais é a maneira com que o jogo é cadenciado. O ritmo é muito diferente, mais corrido. Por isso, acho mais fácil para um brasileiro atuar na Ásia. Mesmo com a correria, a qualidade técnica é muito superior aos outros e isso faz diferença.

Pelé.Net - E você, sofreu muito fora do Brasil? Teve problemas com a alimentação?
Casemiro Mior -
Não, consegui me virar bem. Aprendi os idiomas e me adaptei rapidamente. Quanto à alimentação, só uma vez eu precisei comer cobra frita em um restaurante chinês. Mas carne de cachorro, graças a Deus, nunca precisei provar.


ÚLTIMAS NOTÍCIAS
03/09/2007
Mais Notícias