Por Rodrigo Bueno
Da Folhapress
Em São Paulo

"Já troquei todos os meus documentos para a idade certa. Também voltei a ser Vanderlei. Apesar disso, vou continuar assinando Wanderley, como sempre fiz."

Assim falou o atual técnico do Santos, Vanderlei Luxemburgo, em agosto de 2001, poucos dias após trocar seus documentos por determinação do juiz Marcello Ferreira Granado. Talvez nem ele imaginasse como a troca de nome faria bem à sua vitoriosa carreira.

O aproveitamento no Brasileiro do técnico Vanderlei Luxemburgo, nascido no dia 10 de maio de 1952, é bem melhor que o do treinador Wanderley Luxemburgo, cuja identidade adulterada indicava seu nascimento em 1955.

Desde o Nacional de 2001, quando dirigiu o Corinthians já com o seu nome atual, o ex-técnico da seleção brasileira disputa todas as edições do principal torneio do país. Nesse período mais recente de sua carreira, comandou times em 137 jogos no Brasileiro, com 75 vitórias, 28 empates e 34 derrotas, o que dá um aproveitamento de pontos de 61,6%.

Antes de estourarem os escândalos que ajudaram a tirar Luxemburgo da seleção, como o da falsidade ideológica -foi indiciado pela Polícia Federal por isso-, o técnico tinha no currículo 213 partidas no Brasileiro, ostentando 107 vitórias, 52 empates e 54 derrotas, o que significa um aproveitamento de 58,4% dos pontos.

Luxemburgo, que tirou seus novos RG e passaporte em Curitiba, cidade do concorrente Atlético-PR, apresenta como Vanderlei uma vocação bem mais ofensiva. Seus times no Brasileiro desde 2001 apresentam conjuntamente uma média de 2,04 gols marcados por jogo. No ano passado, o Cruzeiro fez 102 gols. Agora, o Santos já soma 101 e espreita o recorde.

Até 1998, quando venceu o Brasileiro com o Corinthians e com o nome de Wanderley, o técnico via seus times registrarem juntos no Nacional uma média de 1,49 gol marcado por partida.

Luxemburgo está bem perto de conquistar seu segundo Brasileiro como Vanderlei. Isso em apenas quatro torneios disputados. O Wanderley ganhou três taças (Palmeiras, em 1993 e 1994, e Corinthians, em 1998), porém trabalhou em 11 edições do Nacional.

Com quatro campeonatos conquistados, Luxemburgo já é isoladamente o treinador mais vitorioso da história da competição. Porém só conseguiu essa façanha com o novo nome, que, aliás, o técnico pede que seja usado.

Neste ano, por exemplo, a Folha de S.Paulo passou a grafar Vanderlei, e não Wanderley, a pedido do treinador, que tenta apagar de vez a imagem negativa que ganhou por imbróglios extracampo em 2000.

No entanto ele ainda assina como Wanderley, pelo menos em autógrafos, como sempre fez e como dissera que faria logo após a troca forçada de documentos.

Caso conquiste mesmo o Nacional no domingo contra o Vasco, Vanderlei será o único nome na lista dos técnicos que venceram Brasileiros por pontos corridos, que, pela fórmula de disputa, premiam com justiça seu campeão.

"Adquiri mais experiência. Agradeço a Deus por ter deixado eu sair da origem humilde que tinha, chegar aonde cheguei, ter acontecido tudo aquilo e eu ter continuado meu trabalho, humilde, conseguindo resultados", disse o treinador após a taça de 2003.

O "novo Luxemburgo", porém, ainda é acusado de antiético por outros técnicos. Neste ano, Leão e Tite se revoltaram contra ele por negociar com os clubes dos dois.