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  21/10/2004 - 12h30
Dança de técnicos explica jejum do Galo

Cândido Henrique Silva, do Pelé.Net

BELO HORIZONTE - Sem conquistar títulos há quatro anos e meio - a última vez foi o do Campeonato Mineiro de 2000 -, o Atlético-MG não conseguirá quebrar esse jejum este ano, porque no Brasileiro está brigando para não ser rebaixado. O Galo carrega uma característica que ajuda a explicar esse longo jejum, que tanto incomoda sua torcida: a troca seguida de treinadores, que não conseguem realizar um trabalho nem a médio prazo.

As mudanças na equipe atleticana são constantes na vida recente do Atlético. No ano passado, foram três técnicos - Celso Roth, Marcelo Oliveira e Procópio Cardoso. Este ano a "estratégia" está sendo repetida e o alvinegro mineiro já está no terceiro treinador. Após fracassar com Paulo Bonamigo e Jair Picerni, o Galo tenta evitar a Segundona com Mário Sérgio.

O último treinador vitorioso à frente do Atlético foi Márcio Araújo, hoje auxiliar técnico de Marco Aurélio no rival Cruzeiro. Ele conquistou o Campeonato Mineiro de 2000 e pediu demissão do cargo. Depois de Márcio, 11 técnicos passaram pela equipe atleticana sem sucesso, entre eles o atual técnico da Seleção Brasileira, Carlos Alberto Parreira, que sucedeu Araújo.

Parreira ficou pouco tempo no clube. O treinador chegou em julho e saiu em novembro, dando lugar ao seu auxiliar técnico Nedo Xavier, que com fracassos na Copa João Havelange - competição correspondente ao Brasileirão na época -, e na Copa Mercosul, acabou demitido e substituído ainda em 2000 por Abel Braga, que voltava de uma temporada vitoriosa como treinador no futebol francês.

O Atlético manteve Abel Braga como treinador no ano de 2001, apostando na conquista do tricampeonato Mineiro e da Copa do Brasil. O treinador agradava à diretoria, no entanto, a eliminação para o Goiás, nas oitavas-de-final do torneio nacional, que valia uma vaga à Libertadores, fez com que Abel Braga perdesse a credibilidade e deixasse o clube antes mesmo do final do Campeonato Mineiro.

Exceção à regra

Para substituir Abel, a diretoria atleticana apostou no treinador das categorias de base José Maria Pena, que conseguiu levar o Galo à final do Estadual contra o América. O título ficou com o adversário e o técnico sem o cargo. Assumiu Levir Culpi, que fizera bom trabalho em 1994 no clube, e se tornou a exceção entre os técnicos que comandaram o Galo nestes últimos quatro anos.

Levir Culpi ficou um ano no comando do Atlético, enquanto a média de permanência entre 2000 e 2004 foi de apenas cinco meses. O longo tempo do atual técnico do Atlético-PR se deve ao fato dele ter levado a equipe alvinegra a três semifinais: Campeonato Brasileiro de 2001, Copa Sul-Minas e Copa do Brasil de 2002. Como não ganhou nenhuma competição, acabou pedindo demissão após a eliminação para o Brasiliense, na Copa do Brasil.

Para a vaga de Levir Culpi foi contratado Geninho que tinha no currículo o título brasileiro conquistado no ano anterior com o Furacão. O novo treinador tinha a missão de classificar o Galo entre os oito melhores do Brasileirão com uma equipe sem estrelas e conseguiu. No entanto, os comandados de Geninho foram eliminados nas quartas-de-final de forma humilhante pelo Corinthians, que derrotou o Galo por 6 x 2, em pleno Mineirão.

Apesar disso, a diretoria do Atlético confiou a Geninho o comando da equipe para 2003. No entanto, uma proposta do Corinthians, que acabara de perder Parreira para a Seleção Brasileira, levou Geninho a trocar o Galo pelo Timão, e ele foi acusado de mercenário e traidor pela torcida e diretoria do alvinegro mineiro.

Sem contar com Geninho, a diretoria atleticana buscou o disciplinador Celso Roth, que teve como maior adversário a fase mágica do eterno rival do Atlético, o Cruzeiro, que conquistou três dos quatro torneios que disputou naquele ano. O treinador acabou demitido pela diretoria atleticana deixando o time na sexta colocação do Campeonato Brasileiro, uma posição abaixo da zona de classificação para a Libertadores.

O então técnico dos juniores do Galo, Marcelo Oliveira, assumiu o comando da equipe, mas também não durou muito tempo e foi trocado pelo veterano Procópio Cardoso, contratado para dirigir o clube apenas nas últimas quatro rodadas. "Eu sabia um treinador já havia sido contratado e fiz um favor ao meu amigo Éder Aleixo (gerente de futebol à época). Não podia negar um favor ao Atlético", comentou Procópio Cardoso, referindo-se à contratação de Paulo Bonamigo.

Este deixou o Coritiba, que havia classificado para a Libertadores, para fazer um trabalho a longo prazo, com contrato de dois anos de duração. Bonamigo não ficou oito meses à frente da equipe e acabou demitido depois de uma goleada por 4 x 2 para o Criciúma, pelo Campeonato Brasileiro.

Com o título da Série B pelo Palmeiras e a ascensão do São Caetano no currículo, chegou Jair Picerni, em julho, e também não esquentou lugar. Ele deixou a equipe no final de setembro, sendo substituído por Mário Sérgio, que sofreu uma goleada de 5 x 0 para o São Paulo, no Independência, domingo passado.

Natural

Mário Sérgio não crítica o clube pelo excesso na troca de treinadores nos últimos quatro anos e meio. Segundo ele, essa é uma característica do futebol brasileiro, que exige resultados imediatos. "No Brasil, é impossível pensar em técnicos para longo prazo. Isso não é um problema só do Atlético. O contexto do nosso futebol não deixa que um clube tenha um trabalho a médio prazo. Todos querem resultado rápido e montar uma equipe boa tem o custo de derrotas e tropeços em um primeiro momento", comentou.

O treinador ressaltou que em clubes de massa, como Atlético, Flamengo e Corinthians, a característica fica ainda mais evidente. "Em times de massa, como o Atlético, fica ainda mais difícil de fazer este trabalho (a longo prazo). A vitória é fundamental. A torcida quer vencer, ela não suporta uma derrota e começa a pressionar. Tanto é que é difícil você ver um trabalho de longo prazo em equipes grandes como Flamengo e Corinthians, por exemplo", observou.

Procópio Cardoso, no entanto, não acredita que a filosofia de trabalho empregada no Brasil seja o principal motivo para que o Atlético não consiga manter treinadores por longo tempo em seu comando. Para o treinador vice-campeão Brasileiro de 1980, eles não conseguem se manter porque não conhecem a história do Galo.

"Bons treinadores passaram pelo Atlético, mas para treinar este time tem que conhecê-lo. É difícil até de explicar, mas você tem que saber o histórico de raça e de amor que existe por este time para treiná-lo", observou Procópio, que vê prejuízo aos jogadores com as trocas constantes de técnicos. "O jogador tem que se adaptar rapidamente senão perde espaço. Isso é muito complicado e reflete nos resultados dentro de campo", comentou.

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