! Jovens queimam na fogueira do Galo - 09/08/2004 - Pelé.Net - Revista
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  09/08/2004 - 17h00
Jovens queimam na fogueira do Galo

Cândido Henrique Silva, do Pelé.Net

BELO HORIZONTE - Famoso nos anos 70 e 80 pela política de revelação de jogadores das categorias de base, o Atlético-MG, há mais de uma década, vive o martírio de ver suas promessas dos juvenis e juniores não se firmarem, manchando a imagem do passado recente de clube formador. Nos últimos anos, o Galo tem queimado uma série de promessas, que chegam aos profissionais de uma para outra, sem o preparo adequado.

Somente no atual Brasileiro, três jovens jogadores experimentaram a sensação de serem escalados como titulares do alvinegro mineiro na principal competição nacional. Primeiro foi o atacante Rafael Lopes, que foi escalado em dois jogos, pelo então técnico Paulo Bonamigo, foi tirado no intervalo da segunda partida, diante do Santos, e não mais voltou. Atualmente, está na Europa com o time júnior do Atlético-MG.

Depois foi a vez do também atacante Rafael Moura, de 21 anos, que havia sido promovido no ano passado para os profissionais, mas ainda não havia recebido uma chance. Ele foi relacionado para o jogo com o Vitória, no Mineirão, ainda sob o comando de Bonamigo e entrou no segundo tempo do jogo, quando o Galo vencia por 1 x 0. O jovem jogador perdeu a bola no ataque e gerou o contra-golpe do time baiano, que empatou nos descontos.

Já o zagueiro Henrique foi escalado na estréia do atual treinador, Jair Picerni, por absoluta falta de opção. Sem Luiz Alberto, cujo contrato de empréstimo havia acabado e não renovado, e com a suspensão dupla titular na ocasião, Gaúcho e Adriano, o ex-júnior atleticano foi escalado contra o Goiás, ao lado de Luiz Alberto. Falhou no primeiro gol da equipe goiana e foi substituído no intervalo, com o técnico optando por uma opção.

Esses casos estão longe de serem exceções. A lista de "pratas da casa" mal aproveitados pelo Galo é longa e engloba, entre outros, nomes como os defensores Michel, Alex, Ivonaldo e Léo de Deus; o zagueiro Eraldo; os jogadores de meio-campo Afonso, Cairo, Cacá, Genalvo, Ewerton Maradona, Léo Dias; os atacantes Paulinho Guará, Gil e Júlio César, além dos goleiros Fernando, Marcelo Bonan e Edmar.

Todos esses, surgiram como promessa de craque, com belas atuações nas categorias de base, mas, por razões distintas, não se tornaram ídolos da torcida atleticana. Muitos deles podem ser considerados exemplos de jogadores que foram lançados na fogueira e acabaram se queimando. Na semana passada, por exemplo, Jair Picerni tirou do grupo quatro "pratas da casa", que estão treinando em separado: Rafael Moura, Léo Dias, Léo de Deus e Cacá.

Muitos desses jogadores acabaram hostilizados pela fanática torcida atleticana, que espera a repetição do título brasileiro, conquistado apenas uma vez, em 1971, e também o surgimento de craques do nível de Reinaldo, Cerezo, Marcelo Oliveira, Paulo Isidoro, João Leite, entre outros.

A pressão da torcida e também os problemas financeiros que se potencializaram na última década são os principais motivos apontados para justificar a dificuldade e o sofrimento no momento da subida dos jogadores atleticanos da base para o profissional.

O coordenador geral de futebol de base do Atlético, Ricardo Drubscky, acredita que a crise financeira vivida pelo clube influência na forma como os jogadores são lançados na equipe. "Lógico que o dinheiro é um problema seríssimo porque atrapalha todo o norte. Com muitos credores na praça, por mais competência que tenha no seu departamento, você é incomodado e interferido", comentou Drubscky, que está no Atlético desde janeiro deste ano.

O dirigente, no entanto, observa que sanear as dívidas do clube imediatamente não traria resposta imediata na descoberta de novos talentos para o profissional. Segundo Drubscky, isso depende de uma política empregada e que tem um retorno à longo prazo.

"Consertar o Atlético em três anos de mandato é sonho, ao menos que encoste uns dez caminhões de dinheiro na porta do clube e esta diretoria falar que a partir de agora vamos começar a trabalhar, mesmo assim há de esperar um tempo", comentou o dirigente.

Muito mais que um problema financeiro ou de pressão das arquibandas, o volante Léo Dias, que chegou ao Atlético em 1996 para a equipe Juvenil, acredita que o clube deixa suas promessas sumirem por medo. Segundo o jogador, muitos dos problemas do Galo poderiam ser saneados, caso dessem mais espaço e tempo para os atletas da base.

"Acho uma pena a forma como o Atlético revela seus jogadores. Só em momentos difíceis e quando não dá certo já tira de uma vez. Ele poderia ganhar muito dinheiro com os jogadores formados aqui", comentou Léo Dias, que subiu para o profissional em 2000, com o técnico Carlos Alberto Parreira e nunca mais teve chances no elenco alvinegro.

O volante lembra que dos atletas com que teve contato nas categorias de base, apenas o atacante Afonso tem seu nome lembrado de algumas vezes pela imprensa mineira. "O resto sumiu. Ficou muito tempo no Atlético e saiu para buscar outra coisa e não deu certo", observou Léo, que esteve por um mês junto com o elenco principal, mas na última sexta-feira foi comunicado que voltaria a treinar em separado.

Hora certa

Léo Dias se referiu ao momento em que as revelações atleticanas são lançadas, geralmente sem planejamento e para solucionar alguma emergência. Neste ponto, porém, técnicos, dirigentes e jogadores são unânimes: não há uma hora certa de se lançar um jogador. Ricardo Drubscky não acredita, por exemplo, que o jogador deve ser lançado, necessariamente, aos poucos.

"Não tem uma hora certa. O ideal que todos prezam é que vá se lançando aos poucos e com o time bem. Esse é um ideal utópico", comentou Drubscky, que cita a fala do técnico Emerson Leão quando assumiu a equipe do Santos, em 2002, ano em que tirou o Peixe da fila de 18 anos sem título, conquistando o Campeonato Brasileiro.

"Eu lembro do Leão dizendo sobre o time do Santos antes do Campeonato Brasileiro: 'Vamos montar um time para não cair'. Isso era julho de 2002. No final, eles lançaram um caminhão de meninos novos e muito bons. Um pouco foi por convicção e outro por necessidade, mas no final aconteceu", lembrou.

O técnico Jair Picerni, que chegou ao Atlético em meio a uma turbulência e já está acalmando os ânimos da torcida, tem a mesma opinião de Drubscky. Segundo o treinador, os jogadores têm que subir do time júnior para o profissional conscientes da pressão que irão sofrer.

"Não tem boa ou má situação para se colocar um garoto no time profissional. Isso vai muito da personalidade de cada jogar, mas o técnico tem que estar ciente de que o primeiro jogo é sempre mais difícil e não cortar a chance do garoto porque não jogou bem", ressaltou o treinador do Galo.

Esta afirmativa enche de esperança o zagueiro Henrique, de 20 anos, que falhou da derrota por 2 x 0 contra o Goiás, na estréia de Picerni no comando do Galo e também na sua primeira partida como titular no time profissional.

"Eu estou tranqüilo quanto ao meu futuro no Atlético. Eu sei do meu potencial. Falei isso até antes daquele jogo e não retiro o que falei. Estou preparado tecnicamente e emocionalmente para continuar na equipe", comentou Henrique, que jogou devido à suspensão de Gaúcho e Adriano.

Não foi apenas este jovem zagueiro que estreou em uma fogueira. Outro exemplo é o meia Paulinho, que foi emprestado ao Dorados, do México, neste final de semana. Ele estreou com a camisa alvinegra na derrota por 3 x 0 com o Brasiliense, pela semifinal da Copa do Brasil, no Mineirão, com mais de 30 mil torcedores vaiando o time. O jogador era completamente desconhecido do torcedor e da imprensa, que o confundiu com o atacante Paulinho Guará.

Paulinho não lembra daquele jogo com bons olhos, mas evita fazer qualquer tipo de crítica ao, então treinador, Levir Culpi. "Não foi o melhor jogo para estrear, mas estava preparado. Não é sempre que se joga no Atlético. O importante é que depois dei a volta por cima e mostrei o meu valor", observou o meia, que no mesmo ano foi uma das revelações do Campeonato Brasileiro.

O volante Léo Dias também lembra que sua estréia não foi em um momento bom do Galo, mas acredita que não teria outra chance a não ser naquele time. "Eu fui lançado durante a Copa João Havelange e o Atlético estava muito mal. Mas não acho que foi prematuro", afirmou o jogador. A Copa João Havelange substituiu o Campeonato Brasileiro do ano 2000 e o Galo fez campanha ruim, terminando em 20ª posição entre 25 times.

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