Na 1ª eleição do Brasil, voto era cochichado e elegia 'homem bom'

Marcos Farrell
Em 1532, aconteceu a primeira eleição do país, na Vila de São Vicente, onde hoje fica a cidade de São Vicente, no litoral paulista. Naquela época, só se elegiam os chamados homens bons (ricos), o voto era cochichado na orelha do escrivão, que o anotava em um papel e o guardava em bolas de cera
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A primeira eleição aconteceu quando o Brasil ainda era colônia sob domínio de Portugal, em 1532, na Vila de São Vicente. Elegeu os integrantes do Conselho da Vila, que era a Câmara Municipal da época, encarregada da administração. Foram escolhidos vereadores, juízes e procuradores para três mandatos, de um ano de duração cada um
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O Conselho da Vila era formado por três vereadores, três juízes e três procuradores, além de outros cargos, como tesoureiros, escrivães e almotacés (fiscais dos preços e dos mercados)
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Portugal ainda tentava colonizar o Brasil, quase 30 anos depois do descobrimento. Para isso, enviou à colônia Martim Afonso de Souza --um nobre próximo à Coroa Portuguesa-- com plenos poderes para povoar as novas terras. Foi ele quem convocou a primeira eleição, ao fundar a Vila de São Vicente, onde fica a cidade de mesmo nome no litoral paulista. Devido à distância da metrópole, a vila ficava sob responsabilidade dos homens eleitos. Eles tinham autonomia para tomar decisões
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Havia pouca gente apta a votar e a ser eleita para o Conselho da Vila, que também ficou conhecido como Conselho dos Homens Bons. Os vereadores eram indicados, e o processo se dava entre os homens com posses. Entre quem podia receber votos, estavam nobres de linhagem, senhores de engenho, militares de alta patente, donos de terras e de bens. Índios, mulheres e pobres não votavam
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Naquela época, o voto era falado, uma vez que a maioria da população não sabia ler nem escrever. O eleitor cochichava o nome do seu escolhido na orelha do escrivão, que era responsável pelo registro dos votos
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O processo de eleição era complexo: os homens livres com direito a voto não escolhiam diretamente os ocupantes dos cargos, mas, sim, os chamados "eleitores" --eles, que eram seis, é que selecionariam os mandatários da vila
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Os seis homens bons com mais votos eram então divididos em três duplas, que não podiam se comunicar nem ser parentes. Cada um dos três pares elaborava listas com indicações de vereadores, procuradores e juízes. O juiz mais velho organizava três listas com as nomeações para os próximos três anos --cada indicado ficava no cargo um ano
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Cada uma das listas --com as escolhas de vereadores, procuradores e juízes-- era guardada dentro de um pelouro, uma bola de cera que era trancada em uma arca com três fechaduras. Cada uma das chaves ficava com um dos vereadores do ano em exercício, para que a arca apenas pudesse ser aberta na presença de todos eles. No começo do ano seguinte, numa reunião chamada Janeirinha, um menino de sete anos escolhia o pelouro com a chapa que administraria a vila naquele mandato
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Durante a Janeirinha, um evento formal e jurídico, era realizado o anúncio dos vereadores, juízes e procuradores do ano em curso. Esses anúncios oficiais eram feitos junto do pelourinho, um totem de pedra que demarcava a municipalidade