"A bancada do PMDB não será aliada automática", diz líder do partido
Do UOL, em São Paulo
O recado é claro: se depender do PMDB, a relação da presidente Dilma Rousseff (PT) com sua base aliada não deve ser nada fácil durante o segundo mandato. A disputa entre petistas e aliados começa em fevereiro, quando os novos parlamentares tomam posse, e Câmara e Senado elegem seus novos presidentes. "A bancada do PMDB não será aliada automática para qualquer matéria", disse o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), 56, líder do partido na Câmara aos blogueiros do UOL Josias de Souza e Mário Magalhães, em entrevista nesta segunda-feira (27).
Cunha é apontado como provável candidato do seu partido à presidência da Câmara. Tradicionalmente, o partido com a maior bancada na Câmara é que acaba elegendo o presidente. Tanto PT quanto PMDB saíram das urnas com menos cadeiras, mas o PT elegeu 70 deputados (tinha 88) e continua com maioria. O PMDB elegeu 66 parlamentares (tinha 71) e manteve a segunda maior bancada.
Falta de diálogo com Dilma
Ao ser questionado a avaliar possíveis erros da presidente Dilma Rousseff com o PMDB, Cunha apontou a falta de comunicação por parte da petista, especialmente após o esfriamento dos protestos de rua que marcaram o segundo semestre de 2013.
"Houve muito erro pela falta de diálogo, que ela falou ontem (domingo, 26) que vai exercitar. Na realidade, o governo da presidente Dilma só teve diálogo no momento posterior às manifestações de junho de 2013 e foi por um período que terminou no fim do ano passado. Quando se iniciou o ano de 2014, o diálogo acabou. Então, ficou um isolamento político do próprio governo dentro do Palácio, e isso acabou motivando uma série de circunstâncias que foram aflorando, e o processo eleitoral se aproximando, aflorava ainda mais, e acabou tendo um acirramento. Mas, na realidade, quando [ela] estava exercendo esse diálogo entre junho e dezembro de 2013, foi um dos melhores momentos que o governo teve com sua própria base".
O deputado defende mais inclusão de seu partido no governo, mesmo que isso não se traduza em maior número de cargos.
"A gente queria ter mais participação, e uma participação não significa ter mais cargos ou ter cargo mais relevante ou ter mais posição, é muito mais questão de posicionamento político, de participação política, de influência política, de ser ouvido previamente por muitas coisas, enfim, participar realmente do governo. Não adiantava dizer que o PMDB era governo porque tinha o vice-presidente da República, mas na prática o governo era exercido única e exclusivamente pelo PT. Esse era o ponto principal da discussão e isso não precisava refletir necessariamente com mais cargos", afirmou Cunha.
"Ela ontem fez um discurso pregando o distensionamento. Se [ela] vai exercitar esse distensionamento é que nós vamos saber com o tempo, e a partir daí é que vai se dar uma maior ou menor boa vontade com relação ao governo daqui para frente".
Voto em Dilma ou Aécio?
Após declarar que o PMDB não facilitará a vida de Dilma na Câmara, o deputado federal foi provocado pelo blogueiro Magalhães a revelar em quem havia votado, mas preferiu manter a informação em sigilo.
"Se eu não me pronunciei durante o processo eleitoral, depois do processo eleitoral qualquer pronunciamento meu seria oportunismo, então eu não vou fazer nenhum tipo de pregação oportunista, porque qualquer que seja a declaração que eu fizesse, nenhum lado ou outro iria interpretar da forma que me conviesse. Se eu mantive a neutralidade de declarar durante o processo eleitoral, não será agora que eu irei declarar", disse.