"A bancada do PMDB não será aliada automática", diz líder do partido

Do UOL, em São Paulo

O recado é claro: se depender do PMDB, a relação da presidente Dilma Rousseff (PT) com sua base aliada não deve ser nada fácil durante o segundo mandato. A disputa entre petistas e aliados começa em fevereiro, quando os novos parlamentares tomam posse, e Câmara e Senado elegem seus novos presidentes. "A bancada do PMDB não será aliada automática para qualquer matéria", disse o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), 56, líder do partido na Câmara aos blogueiros do UOL Josias de Souza e Mário Magalhães, em entrevista nesta segunda-feira (27).

Cunha é apontado como provável candidato do seu partido à presidência da Câmara. Tradicionalmente, o partido com a maior bancada na Câmara é que acaba elegendo o presidente. Tanto PT quanto PMDB saíram das urnas com menos cadeiras, mas o PT elegeu 70 deputados (tinha 88) e continua com maioria. O PMDB elegeu 66 parlamentares (tinha 71) e manteve a segunda maior bancada.

Apesar da tradição, Cunha afirma que o PT não deve comandar a Casa. "Não tem lógica um acirramento do processo eleitoral como foi, você terminar o processo eleitoral com a bancada do PT diminuindo bastante como diminuiu, você manter o comando da Casa e ao mesmo tempo ter o poder central, ter o poder Executivo na mão de um único partido", afirmou o deputado. 
 
O deputado não assume que é candidato. "Ninguém é candidato de si mesmo, sou favorável a minha bancada continuar como líder. É muito prematuro a gente falar agora de candidatura", respondeu. A cadeira é atualmente ocupada pelo deputado federal Henrique Eduardo Alves, também do PMDB. Alves tentou o governo do Rio Grande do Norte, mas não se elegeu. 
 
Cunha nega que o partido apoie o governo apenas em troca de cargos. "As nossas divergências são divergências sempre de conteúdo, nunca com relação à pessoa, nunca com relação ao governo. Mas cada governo, qualquer um que seja, sempre poderia ter conteúdos a serem colocados dentro do Congresso Nacional que o PMDB pudesse ficar contrário e ficaria, independente de quem fosse o presidente que estivesse no exercício do cargo, independente de estar ou não na base. Não é por causa de um cargo a mais ou de um cargo a menos que o PMDB vai jogar suas convicções para fora e votar contra suas convicções por manutenção de um cargo, isso não vai acontecer, eu lhe garanto", afirmou o deputado.
 
Na opinião dos jornalistas Josias de Souza e Mário Magalhães, ficou claro que o partido de Cunha não quer ver o PT no comando também da Câmara e não repetirá acordos passados de alternância com o partido de Dilma.
 
"Não dá para que o PT e o PMDB façam acordos e achem que toda a Casa vai se submeter a esse acordo. Um presidente, para se eleger, vai precisar de um apoio mais amplo, que ultrapasse as fronteiras de PT e PMDB. Da nossa parte, não há disposição de reeditar esse acordo dessa forma como foi concebida antes. Da nossa parte, há vontade de construir que o Parlamento seja representado e tenha um nome que possa efetivamente representar a maioria da Casa, e nós do PMDB achamos que não deverá ser o PT, porque senão, ficará uma concentração de poder", disse Cunha.
 
"Eu acho pouco provável o sucesso de uma candidatura do PT em qualquer disputa contra qualquer um, e não vejo dentre os deputados do PMDB nenhuma vontade de apoiar uma candidatura do PT. Pode até apoiar uma outra candidatura, que não seja nem do PMDB, mas acho difícil que seja do PT. Até para a governabilidade é melhor que se tenha alguém que seja representativo de uma maioria, que tenha capacidade de discussão e que esteja completamente distante do centro da polarização eleitoral que aconteceu do que necessariamente você levar a polarização eleitoral para o comando da Casa", disse.
 

Falta de diálogo com Dilma

Ao ser questionado a avaliar possíveis erros da presidente Dilma Rousseff com o PMDB, Cunha apontou a falta de comunicação por parte da petista, especialmente após o esfriamento dos protestos de rua que marcaram o segundo semestre de 2013.

"Houve muito erro pela falta de diálogo, que ela falou ontem (domingo, 26) que vai exercitar. Na realidade, o governo da presidente Dilma só teve diálogo no momento posterior às manifestações de junho de 2013 e foi por um período que terminou no fim do ano passado. Quando se iniciou o ano de 2014, o diálogo acabou. Então, ficou um isolamento político do próprio governo dentro do Palácio, e isso acabou motivando uma série de circunstâncias que foram aflorando, e o processo eleitoral se aproximando, aflorava ainda mais, e acabou tendo um acirramento. Mas, na realidade, quando [ela] estava exercendo esse diálogo entre junho e dezembro de 2013, foi um dos melhores momentos que o governo teve com sua própria base".

O deputado defende mais inclusão de seu partido no governo, mesmo que isso não se traduza em maior número de cargos.

"A gente queria ter mais participação, e uma participação não significa ter mais cargos ou ter cargo mais relevante ou ter mais posição, é muito mais questão de posicionamento político, de participação política, de influência política, de ser ouvido previamente por muitas coisas, enfim, participar realmente do governo. Não adiantava dizer que o PMDB era governo porque tinha o vice-presidente da República, mas na prática o governo era exercido única e exclusivamente pelo PT. Esse era o ponto principal da discussão e isso não precisava refletir necessariamente com mais cargos", afirmou Cunha.

"Ela ontem fez um discurso pregando o distensionamento. Se [ela] vai exercitar esse distensionamento é que nós vamos saber com o tempo, e a partir daí é que vai se dar uma maior ou menor boa vontade com relação ao governo daqui para frente".

Voto em Dilma ou Aécio?

Após declarar que o PMDB não facilitará a vida de Dilma na Câmara, o deputado federal foi provocado pelo blogueiro Magalhães a revelar em quem havia votado, mas preferiu manter a informação em sigilo.

"Se eu não me pronunciei durante o processo eleitoral, depois do processo eleitoral qualquer pronunciamento meu seria oportunismo, então eu não vou fazer nenhum tipo de pregação oportunista, porque qualquer que seja a declaração que eu fizesse, nenhum lado ou outro iria interpretar da forma que me conviesse. Se eu mantive a neutralidade de declarar durante o processo eleitoral, não será agora que eu irei declarar", disse. 

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