Após suspeita de ter acordo com bandidos, José Melo (Pros) é reeleito no AM
Do UOL, em São Paulo
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Edmar Barros/ Futura Press/ Estadão Conteúdo
O político e economista José Melo (Pros), reeleito governador do Amazonas
O governador José Melo (Pros), 68, foi reeleito no Amazonas no segundo turno neste domingo (26) após virar a disputa com o senador Eduardo Braga (PMDB).
Com 100% das urnas apuradas, Melo obteve 55,54% dos votos válidos contra 44,46% de Braga.
O resultado encerrou a eleição estadual mais disputada no país em 2014. No primeiro turno, Braga havia sido o mais votado, com 43,16% dos votos, enquanto Melo obteve 43,04% - uma diferença de apenas 0,12 pontos percentuais, ou 1.907 votos.
No último domingo (19), o governador reeleito foi envolvido em uma denúncia. A revista "Veja" e, depois, o jornal "Folha de S.Paulo" divulgaram a gravação de um diálogo entre o subsecretário de Justiça do Estado, major Carliomar Barros Brandão, e o traficante preso José Roberto Fernandes Barbosa, um dos líderes da facção Família do Norte, que prometeu até 100 mil votos a Melo.
Em troca, Brandão diz na gravação que "ninguém vai mexer" com os criminosos. Procurado, o governo do Amazonas informou que exonerou o major Brandão do posto e que irá apurar se o conteúdo da gravação é verdadeiro.
Esta foi a primeira vez que a eleição para governador do Amazonas foi para o segundo turno.
Abuso de poder
A 17 dias das eleições do primeiro turno, o Ministério Público Eleitoral do Amazonas pediu a cassação da candidatura de Melo à reeleição por suspeita de abuso de poder político.
O pedido foi feito com base na gravação de uma reunião da cúpula da Polícia Militar do Estado em que tenentes, coronéis e capitães falam em "uma ação integrada" em prol da campanha de Melo. Tropas teriam sido liberadas para gravação de propaganda e os contrários ao esquema, "perseguidos". Por meio de seu advogado, Melo negou as acusações.
Melo também foi multado em R$ 20 mil pela Justiça Eleitoral por propaganda eleitoral antecipada.
Eleições 2014 no Amazonas
Seguidores de Gilberto Mestrinho
Melo e Braga são considerados "seguidores" políticos de Gilberto Mestrinho, cujo grupo político mantém o poder no Amazonas desde 1983. Foi pela ligação com o ex-governador Amazonino Mendes, maior discípulo de Mestrinho, que Melo e Braga chegaram aos postos que ocuparam até aqui no Estado. Nos anos 2000, Melo migrou para o lado de Braga, tornando-se o principal escudeiro do peemedebista até 2010. Os dois romperam os laços este ano e, desde então, trocam acusações.
A campanha acabou virando batalha jurídica. No primeiro turno, as duas coligações entraram com mais de 260 ações, recursos, liminares e representações no TRE-AM (Tribunal Regional Eleitoral), uma contra a outra. No segundo turno, em apenas cinco dias as coligações de Braga e Melo moveram 25 representações. A maioria dos processos se refere a propagandas irregulares e ao uso indevido do horário eleitoral gratuito.
Conhecido como "professor José Melo", o político é economista formado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas). Melo foi deputado federal por dois mandatos entre 1994 e 2002. Em 2002, se tornou deputado estadual. Em 2010, foi eleito vice-governador na chapa de Omar Aziz (PSD), que teve 63,9% dos votos no primeiro turno. Com a saída de Aziz para concorrer ao Senado em abril passado, ele assumiu o cargo de governador do Amazonas.
Maior Estado brasileiro
O governador eleito terá de administrar o maior Estado brasileiro em extensão territorial e com população estimada em 3,8 milhões de pessoas, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Apesar do tamanho, o Amazonas contribuiu apenas com 1,6% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro. Entre os Estados, o PIB amazonense (R$ 16,2 bilhões) é o 15º maior e a renda per capita média da população é de R$ 540.
O setor de serviços é o que mais contribui para o crescimento do Estado, seguido da indústria, concentrada no Polo Industrial de Manaus com fábricas de produtos eletroeletrônicos, de informática e automóveis.
Quanto à economia, Melo afirma em seu plano de governo que vai atrair novos investimento para o Polo Industrial de Manaus, além de implantar um complexo naval, mineral e de logística. Outra proposta é a criação de polos farmacêutico e biocosmético para aproveitar "produtos naturais" da Floresta Amazônica. Para escoar a produção, ele prevê a implantação de projeto para ligar o Atlântico ao Pacífico por meio de hidrovias.
Sobre a questão da segurança, Melo afirma que vai expandir o programa "Ronda no Bairro" na capital e criar novos distritos integrados de polícia, que atenderão comunidades e conjuntos habitacionais. Em relação aos policiais, o governador propõe regulamentar o 14º e 15º salários e aumentar o efetivo em todo o Estado.
Na enquete "Esperançômetro", ferramenta de avaliação contínua dos Estados, internautas do UOL apontaram a segurança pública como a principal área em que esperam melhorias no Amazonas. A capital Manaus, por exemplo, figura entre as 50 cidades mais violentas do mundo, segundo a ONG Conselho Cidadão para a Segurança Pública e Justiça Penal, do México. O atendimento de saúde e a qualidade de ensino também foram citados pelos internautas.
Na enquete "Avalie seu Estado", o maior problema no Estado indicado pelos internautas foi a corrupção. Em seu programa, Melo não prevê ações para combater o problema.