Com "campanha modesta", Crivella luta para fazer programa nove vezes maior

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

  • Júlio César Guimarães/UOL

    A assessora de imprensa do candidato do PRB, Inni Vargas, ajuda na preparação de Crivella para a sabatina promovida pelo UOL

    A assessora de imprensa do candidato do PRB, Inni Vargas, ajuda na preparação de Crivella para a sabatina promovida pelo UOL

Passada a surpresa com o resultado do primeiro turno das eleições para o governo do Rio de Janeiro, no último domingo (5), a equipe responsável pela campanha do senador Marcelo Crivella (PRB), classificada como "modesta" pelo próprio candidato, se deparou com o desafio de produzir programas de TV e rádio com duração quase nove vezes maior que o anterior para o horário eleitoral do segundo turno. "Vamos ter que correr muito", afirmou um integrante da campanha. Os programas estaduais vão ao ar a partir deste sábado (11).

Segundo colocado no pleito, o bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus vai enfrentar o governador e candidato à reeleição, Luiz Fernando Pezão (PMDB), no próximo dia 26. Desde o começo da campanha, Crivella aparecia em terceiro lugar nas pesquisas. No domingo, o "boca de urna" do Ibope o colocou dez pontos percentuais atrás do deputado federal Anthony Garotinho (PR). Nas urnas, no entanto, ele superou o ex-governador por uma diferença de pouco mais de 42 mil votos.

Fonte: TSE

Por representar uma chapa de um partido só, o candidato do PRB dispôs de apenas um minuto e nove segundos na TV e no rádio, o menor tempo entre os quatro mais bem colocados nas pesquisas. Beneficiado pela coligação composta por 18 partidos, Pezão teve oito minutos e 57 segundos por programa, o mais longo. No segundo turno, os dois vão dispor de dez minutos cada, até o dia 24. A duração de apenas um dos programas desta etapa da campanha equivale praticamente à soma do tempo de todos os de Crivella no primeiro turno. A sobra é de meros 21 segundos.

"A campanha está passando por um processo de ajustes. A equipe que produz os programas tem 12, 13 pessoas. É ridículo. Os nossos recursos são mínimos. A do Pezão é muitas vezes maior", conta o marqueteiro responsável pela campanha de Crivella, Lula Vieira. "Vamos contratar mais seis pessoas, cinegrafistas, assistentes, para nos ajudar. Mas com mais dinheiro, ganharíamos mais conforto. Eu e a equipe iríamos dormir mais cedo", afirma. A reportagem tentou entrar em contato com representantes do atual governador para saber detalhes sobre a estrutura da sua campanha, mas não obteve resposta até esta quinta (9).

De acordo com as mais recentes parciais das prestações de contas eleitorais dos candidatos ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a campanha de Pezão teve mais de R$ 13,6 milhões em despesas até o dia 2 de setembro, valor nove vezes maior que o apresentado por Crivella (cerca de R$ 1,5 milhão), até 28 de agosto. O limite de gastos registrado pelo bispo licenciado na Justiça Eleitoral (R$ 15 milhões) é quase seis vezes menor que o valor estipulado por Pezão (R$ 85 milhões).

Já a quantia arrecadada pela campanha de Crivella representa apenas 6% do total de receitas do peemedebista. O senador declarou ter recebido em torno de R$ 787 mil, enquanto o atual governador afirmou ter arrecadado pouco mais de R$ 13 milhões --sendo R$ 4,1 milhões oriundos de doações de empreiteiras e construtoras envolvidas com obras públicas do Estado. A arrecadação do ex-ministro equivale a um terço da declarada por Garotinho (R$ 2,2 milhões) e é quase cinco vezes menor que a do candidato do PT, Lindberg Farias (R$ 3,7 milhões).

Arte UOL

Ajustes

Se no domingo, antes da apuração, o clima era de fim de campanha –"estava uma choradeira, a produtora começou a desmontar tudo", lembra o marqueteiro--, depois da confirmação de que Crivella iria ao segundo turno, foi preciso repensar com urgência a estratégia de comunicação para o candidato. E com o tempo contado, já que a equipe teria apenas cinco dias para entregar o primeiro programa pronto às emissoras, com prazo final para as 14h desta sexta (10).

"Não é a mesma coisa com um tempo maior. Dez minutos é quase uma novela. A gente pode ter o risco de não saber o que fazer com tanto tempo. Mas vamos apresentar as propostas de forma mais aprofundada", declara Lula Vieira. "No primeiro, vamos apresentar novamente o Crivella e agradecer os votos que ele recebeu. Vai ser uma coisa simpática, uma entrada no ringue. Ao longo da campanha vamos observar o adversário e ver o que vamos fazer".

Integrante do departamento de comunicação da campanha, Fábio Valentim conta que a equipe de Crivella está tentando captar mais recursos para se adequar às novas demandas, mas garante que, apesar da surpresa, já havia um planejamento para o segundo turno. "Esse era o objetivo, mas muitas decisões, como contratação de pessoas ou aumento da produção, só puderam ser tomadas depois da confirmação", afirma.

Bem-humorado,Vieira enumera vantagens de ter tido um programa quase oito vezes menor que o de Pezão no primeiro turno. "Com pouca gente e pouco dinheiro, tem menos palpiteiro. Isso agiliza o trabalho. Os programas estão bonitinhos, agradáveis. Não tenho vergonha deles não", comenta. "Agora imagine ter que mascarar um governo com guardanapo na cabeça, com helicóptero indo buscar cachorro, transformar oito anos de governo com entregas medíocres em realizações maravilhosas. Isso sim é difícil", declara.

Segundo o marqueteiro, a aliança do candidato do PRB com Garotinho e Lindberg no segundo turno não vai se reverter em apoio operacional para a propaganda eleitoral.  "Ninguém pediu nada e ninguém ofereceu nada. É apenas no campo político", diz Vieira.

No decorrer da campanha, o programa de Crivella na TV apresentou propostas baseadas em projetos sociais desenvolvidos pelo candidato, como a Fazenda Nova Canaã, localizada em Irecê, na Bahia, e o Cimento Social (construção e reforma de moradias em favelas) e apresentou repetidamente dados de sua biografia, principalmente com imagens de arquivo. Após a apuração das urnas, ele destacou a importância da campanha "humilde". "Acho que essa nossa campanha modesta acabou contribuindo para a gente chegar ao segundo turno", declarou.

Já no início da campanha no segundo turno, Crivella, que até então evitava confrontos ou ataques diretos a outros candidatos, apresentou uma mudança no comportamento. No primeiro debate entre os dois, na última quarta-feira (8), o candidato do PRB teve postura mais combativa, trocou farpas com o peemedebista, o chamou de "Penóquio", e bateu boca com o pastor Silas Malafaia.

Eleições 2014 no Rio de Janeiro
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